Repórteres no cativeiro
Meses atrás, quando as imagens do jornalista e colega Alan Johnston, sob o poder de um grupo armado palestino, foram divulgadas na internet, eu me lembrei imediatamente do americano Daniel Pearl (foto). Aos 38 anos, repórter do influente Pearl era experiente e cuidadoso. Acreditava ter tomado todas as precauções necessárias antes de ir a uma suposta entrevista com um lÃder religioso no Paquistão, pouco depois da queda do Talebã no vizinho Afeganistão. No que seria o começo de uma onda de seqüestros e mortes de ocidentais no Oriente Médio, no auge da chamada "Guerra ao Terrorismo", Pearl teve a garganta cortada e foi, em seguida, decapitado. Grande parte dos envolvidos no crime foi presa, entre eles Ahmed Omar Saeed Sheikh, ou simplesmente Xeque Omar, que espera julgamento de recurso após ser condenado à morte.
A história de Pearl está contada no filme O Preço da Coragem, adaptação do livro escrito por sua mulher, a jornalista francesa Mariane Pearl, que estréia nesta sexta-feira no Brasil. O diretor Michael Winterbottom mais uma vez recriou com primor uma realidade contemporânea e explosiva, como já havia feito em Neste Mundo ou Caminho para Guantánamo. Ao retratar o trabalho do repórter do WSJ e os posteriores esforços de sua mulher e representantes do jornal para obter sua libertação, o filme exibe a fragilidade inerente ao trabalho jornalÃstico. Correspondentes, especialmente em áreas de conflito, são mensageiros à mercê da realidade que investigam. A busca da informação implica uma constante convivência com o risco, e eu, como jornalista e espectador, senti esse risco exposto na tela de forma real.
Alan Johnston teve mais sorte. Pôde contar sua própria história, em uma reportagem para a ´óÏó´«Ã½, dias atrás. Apesar de ter sido colocado em frente a uma câmera, sob ameaça de morte, no mesmo tipo de ritual macabro por que passou Daniel Pearl, Johnston sobreviveu. Foi libertado como parte de um acordo entre o Hamas e seus captores, que atuavam de maneira independente na Faixa de Gaza. Seus quase quatro meses nas mãos de um desconhecido grupo, auto-denominado "Exército do Islã", são descritos por Johnston de maneira emocionada, mas sem perder a perspectiva equilibrada e justa que marcaram seu trabalho como repórter. Sofreu humilhações e torturas psicológicas tÃpicas de um cativeiro, mas admitiu que a sua experiência "não foi o que prisioneiros irquianos foram forçados a enfrentar na prisão de Abu Ghraib".
Seqüestros de jornalistas pelo mundo afora (como no Brasil, onde Tim Lopes teve o mesmo destino de Daniel Pearl) são conseqüências das próprias mazelas que eles tentam expor. No caso de Gaza ou Paquistão, mazelas diretamente ligadas a conflitantes projetos polÃticos, sendo que a população local sofre infinitamente mais que os jornalistas estrangeiros.
Tanto Pearl como Johnston sabiam do risco que corriam em regiões muçulmanas onde grupos extremistas vêm conquistando espaço. Suas nacionalidades, americana e britânica, faziam deles alvos em potencial de militantes que eram, regularmente, temas de suas reportagens. Mas o tipo de trabalho que realizavam é essencial, por mostrar ao mundo os efeitos das disputas por poder nas regiões mais conflituosas do planeta. Seus olhos eram os olhos dos leitores, espectadores e ouvintes. Um capuz sobre a cabeça de um repórter pode impedi-lo de ver e até mesmo decretar sua morte. Mas não elimina a necessidade de se mostrar uma realidade que muitos preferem encobrir.
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
Quando voce tem uma missão jornalistica, e resolve cubrir uma
grande reportagem,furo de reportagens em lugares de risco,sabendo o tipo de governo e a situação que deve enfrentar .voces não vão querer que os inimigos abrace voces e muito menos beije.Voce pode ser recebido com balas de fuzil ou ser estragulado,esquaterjadosetc...Afinal,voce esta no confroto de linha de guerra.Zona de risco é zona de risco.
Seja: no Brasil,na colombia, Itália,
no Paquistão, na frente de Gaza.é ter
coragem é sangue frio ,para enfrentar,rezar para o santo de devoção ,Deus e alá.que vai para isso,
viver ou morrer.
Eu não concordo com o post acima, escrito pela Maria das Mercês. Acho que os repórteres que se submetem a algum rsico merecem mais respeito.Não queremos que inimigos nos beijem ou que nos recebam com cafézinho. Pessoas morrem em zonas de conflito para cumprir a missão jornalÃstica de informar e prestar serviços à sociedade. A sociedade respeita um médico que vai para uma zona de risco salvar vidas mas não respeita muitas vezes, o comunicador, que tem um compromisso com a verdade e com a sociedade assim como o médico, o presidente o engenheiro e o pai de famÃlia.
Eu iria sim até uma zona de conflito. E acho que ainda reside em muitos jornalistas o desejo de mudar o mundo de alguma forma, mesmo que a pior consequência aconteça.
Acho um absurdo matarem, torturarem, sequestrarem jornalistas. É o trabalho deles trazer informação a nós que ficamos confortavelmente em nossas casas, e nossos trabalhos...sem correr risco algum.
Admiro muito o trabalho dos reporteres, correspondentes do mundo inteiro. Levando a informação a milhoes de pessoas. Parabéns pelo trabalho. Graças a vocês eu sento aqui e fico sabendo do que acontece aà fora e isto acaba desempenhando um papel fundamental no meu senso critico. Abraço a todos.