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Arquivo para janeiro 2010

Blair sem arrependimento

Rogério Simões | 17:30, sexta-feira, 29 janeiro 2010

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O depoimento do ex-primeiro-ministro Tony Blair ao Inquérito Chilcot acabar de ser concluído. Durante o dia todo, Blair voltou a defender sua decisão de invadir o Iraque para derrubar Saddam Hussein e eliminar suas armas de destruição em massa, que na verdade não existiam. O ex-premiê disse considerar que o Iraque está hoje melhor, não apenas do que no auge do caos pós-invasão, em 2004, 2005 e 2006, mas melhor do que estava antes da guerra. Ao final do depoimento, foi questionado se tinha algum arrependimento. Blair disse não ter nenhum. Ficou claro que, apesar da pressão de grande parte da opinião pública, o ex-líder britânico manterá sempre que invadir e ocupar o Iraque era algo justificável diante do cenário global pós-11 de Setembro. Para aqueles que concordam com Blair, fica a satisfação de ver que ele se manteve convicto, durante um longo e duro interrogatório. Para os que o consideram um criminoso de guerra, ficam a decepção e a sensação de que o interrogatório, apesar de longo, não foi duro o suficiente.

Guerra no Iraque: legal ou ilegal?

Rogério Simões | 15:04, quarta-feira, 27 janeiro 2010

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soldados.jpgO debate sobre a legalidade da guerra no Iraque continuou nesta quarta-feira, aqui em Londres. Dando sequência ao inquérito Chilcot, foi a vez de o procurador-geral britânico na época da guerra, Peter Goldsmith, chamado aqui de Lord Goldsmith, tentar explicar como e por que mudou de posição rapidamente sobre a legalidade da ação militar contra o regime de Saddam Hussein. Depois de defender por meses a necessidade de uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU para garantir a legalidade da invasão, em março de 2003, a tempo dos ataques preparados por Washington e Londres serem lançados, Goldsmith adotou a posição jurídica de que tal resolução não era mais necessária. , após reler os documentos da ONU relativos ao Iraque. Com isso, seu parecer, vital para permitir que o Parlamento apoiasse Tony Blair em sua decisão de ir à guerra, deu o sinal verde para o conflito do lado britânico.

Mas o que significa uma guerra ser legal? Não seria a guerra, naturalmente, um estado de ilegalidade, de abandono do diálogo civilizado em troca da irracionalidade da ação armada, geralmente causadora da perda de vidas inocentes? Desde que o mundo é mundo foi assim, claro, mas a Segunda Guerra Mundial mudou tudo, pois levou à criação da ONU (Organização das Nações Unidas), que tentou organizar o caos em que o planeta havia se metido. , deixa claro que nenhum país pode invadir o território do outro sem autorização expressa do Conselho de Segurança da organização. Ações militares, a partir de então, poderiam acontecer desde que fosse com o apoio do conselho ou em caso de legítima defesa (um país invade uma nação, que então tem o direito de contra-atacar).

Mas o debate é muito mais complexo. o jornalista e escritor William Shawcroos defendeu a guerra contra Saddam Hussein, argumentando que: a) o Iraque de hoje está no caminho da democracia; b) mesmo depois da criação da ONU, guerras continuam sendo travadas sem sua autorização. Do outro lado do debate, há muitos querendo levar o argumento da ilegalidade às últimas consequências. O escritor e ativista britânico George Monbiot, inclusive, acaba de criar um site para obter recursos para uma recompensa àqueles que tentarem prender Tony Blair por crimes de guerra: .

Shawcross tem razão ao dizer que guerras têm sido travadas à revelia da ONU. Israel ocupa territórios palestinos há mais de quatro décadas, apesar de o Conselho de Segurança já ter determinado sua saída. Os Estados Unidos ocuparam o Vietnã, Saddam Hussein invadiu o Irã e o Kuwait, a Rússia ocupou o Afeganistão, a Turquia invadiu Chipre, a Argentina tomou brevemente as ilhas Malvinas, a República Democrática do Congo virou a Casa da Mãe Joana para tropas de inúmeros vizinhos africanos etc, etc, etc. Tudo isso nas últimas décadas, sem autorização da ONU. Até mesmo a elogiada ação da Otan em Kosovo, em 1999, ocorreu sem o apoio do Conselho de Segurança.

A diferença da guerra no Iraque, polêmica que não deve morrer mesmo após o Inquérito Chilcot, foi o fato de que a invasão foi justificada por Estados Unidos e Grã-Bretanha com um argumento legal. Especialmente o governo britânico não queria iniciar uma guerra que não respeitasse a legislação internacional, já que o país quer ser visto como um defensor desses mesmos princípios legais. Combater sem o apoio da lei abalaria tal posição da Grã-Bretanha nas relações internacionais, portanto a invasão precisava, preferencialmente, ter tanto base moral como justificativa legal.

Como sabemos, o argumento da aliança Washington-Londres era: o regime Saddam Hussein estaria contrariando resoluções da ONU, por manter armas de destruição em massa, e por isso merecia ser derrubado. Inúmeros outros regimes autoritários pelo mundo, da família Kim na Coréia do Norte a Robert Mugabe, no Zimbábue, passando pelo família Saud na Arábia Saudita, não seriam perturbados, pois a questão não era Saddam comandar uma ditadura. O problema era ele possuir armas de destruição em massa, apesar de não haver provas da existência de tais armamentos. Derrubado o regime, descobriu-se que Saddam falara a verdade, ele realmente havia se livrado de seu arsenal, fazia tempos. A suposta legalidade da guerra perdeu seu alicerce e agora volta a assombrar aqueles que a iniciaram.

Blair, Brown e o Iraque

Rogério Simões | 14:02, terça-feira, 26 janeiro 2010

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blairiraq.jpgDemorou bastante, sete anos para ser preciso. Mas agora, após o fim da operação militar britânica no Iraque, apesar de bombas continuam matando inocentes no país, começam a ser revelados os bastidores do processo que colocou a Grã-Bretanha na guerra. Desde o fim do ano passado, uma investigação liderada por John Chilcot promete trazer as respostas definitivas sobre as razões que levaram o governo britânico a participar da invasão do Iraque com os Estados Unidos, em 2003, para derrubar o governo de Saddam Hussein, mesmo sem uma autorização explícita do Conselho de Segurança da ONU. Algumas dessas respostas começam a aparecer, e muito mais ainda está por vir.

Nesta terça-feira, o principal conselheiro jurídico do Ministério do Exterior britânico na época da guerra, Michael Wood, que o então chefe da pasta, Jack Straw, rejeitou sua avaliação de que uma invasão do Iraque seria ilegal. "Eu considerei que o uso de força contra o Iraque em março de 2003 iria contra a legislação internacional", afirmou Wood. O conselheiro não pediu demissão na época, mas sua subordinada, , o fez. Ela também prestou depoimento nesta terça e reafirmou que a guerra, na sua avaliação, era ilegal. Especialistas ouvidos pela ´óÏó´«Ã½ já disseram que um ministro de Estado rejeitar a orientação jurídica de seu principal conselheiro, num assunto de tamanha importância, é algo sem precedentes. O próprio Michael Wood afirmou que sua avaliação nunca havia sido rejeitada por nenhum outro ministro do Exterior.

, como é chamado, começou de forma relativamente chata. Analistas diziam que os investigadores estavam sendo bonzinhos demais com as testemunhas, especialmente com Alastair Campbell, ex-diretor de Comunicação do então primeiro-ministro, Tony Blair. Os depoimentos são transmitidos ao vivo pela TV e pela internet, mas não chegam aos pés das CPIs brasileiras em termos de emoção, bate-boca, caos e divertimento. Todos falam baixo, ninguém fala em cima do outro, perguntas e respostas tendem a ser objetivas e pronunciadas de maneira bastante calma. Tipicamente britânico. No entanto, o clima promete esquentar nas próximas semanas, quando o inquérito ouvirá as duas mais importantes e interessantes testemunhas desse processo: o atual e o anterior primeiro-ministros, Gordon Brown e Tony Blair, respectivamente.

Blair será ouvido primeiro, já nesta sexta-feira, e a expectativa é enorme, como não poderia deixar de ser. Especialmente depois de o ex-premiê ter dito, em entrevista à ´óÏó´«Ã½ no final do ano passado, que teria invadido o Iraque mesmo se já soubesse que não havia armas de destruição em massa no país. Seu depoimento será uma oportunidade única de ver Tony Blair na TV, quase ao vivo (há uma demora de um minuto na transmissão para evitar que informações confidenciais sejam divulgadas), respondendo a perguntas sobre o episódio mais desastroso de seus dez anos no governo. Mas isso não será o fim dessa emocionante fase do inquérito: o premiê Gordon Brown, que falaria apenas depois das eleições gerais (esperadas para maio e que podem deixá-lo sem emprego), aceitou dar seu testemunho antes do pleito, o que pode inclusive ter influência no próprio resultado eleitoral.

Aos poucos, os bastidores da guerra no Iraque, pelo menos aqui na Grã-Bretanha, começam a aparecer. Se a conclusão do inquérito for de que a guerra foi ilegal, haverá uma enorme pressão para que os responsáveis por ela respondam à Justiça, criminalmente. Neste momento, tal possibildade ainda parece remota, mas já não pode ser descartada.

Três anos para Obama

Rogério Simões | 17:00, quarta-feira, 20 janeiro 2010

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oblamablogrs.jpgNão poderia haver pior presente de aniversário para Barack Obama. Exatamente um ano após sua posse na Presidência dos Estados Unidos, o democrata viu a oposição republicana vencer a disputa pela vaga de Edward Kennedy no Senado, no Estado de Massachusetts. Trata-se de uma megaderrota. Massachusetts não apenas é o Estado que Ted Kennedy representou pelos Democratas por décadas, mas uma das regiões eleitorais mais seguras do partido do presidente.

Em novembro de 2008, Obama venceu John McCain no Estado por 62% a 36% dos votos. Com exceção do apoio dado a Dwight Eisenhower e Ronald Reagan, duas vezes para cada um, Massachusetts tem votado por um presidente democrata desde 1928. Um dos berços dos Estados Unidos, o Estado era uma das 13 colônias que deram origem à América Britânica, no início do século 17. Foi palco do famoso julgamento de bruxas na cidade de Salem, é verdade, mas com o passar dos anos cresceu e se tornou um dos principais centros industriais americanos, em torno da cidade de Boston. Trata-se de um Estado majoritariamente progressista, o primeiro do país a criar o casamento homossexual, em 2004, e onde portar maconha não é mais crime. Tal Estado ter decidido dar as costas a Barack Obama pode ser considerado um verdadeiro desastre político.

A assessoria de Obama reagiu ao resultado dizendo que o presidente manterá seus planos para um plano de um sistema nacional de saúde pública, mas repensará suas táticas. Isso porque a eleição de Scott Brown, o republicano que toma o lugar de Kennedy (morto no ano passado), tirou do Partido Democrata a supermaioria que tinha no Congresso. Agora os republicanos podem conseguir paralisar os planos para a área de saúde pública, que tanto dividiram o país. Isso em um momento em que , basicamente por causa de uma taxa de desemprego em torno de 10%.

O momento é de alerta amarelo na Casa Branca. avaliam que o primeiro ano de Obama na Presidência foi relativamente bom, especialmente considerando o tamanho do desafio. Mas a realidade continuará sendo dura para o primeiro presidente negro americano. A economia real deve seguir em dificuldades por um bom tempo, mesmo com a volta do crescimento, e a situação no Afeganistão não deve melhorar logo, mesmo com 30 mil soldados a mais. Barack Obama tem agora três anos para virar o jogo, mostrando que é possível colocar em prática as mudanças prometidas em campanha. Caso contrário, poderá entrar para o infeliz grupo de que fazem parte Jimmy Carter, George Bush (pai) e Gerald Ford: o de presidentes americanos de um mandato só.

A reconstrução do Haiti

Rogério Simões | 17:02, segunda-feira, 18 janeiro 2010

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haitiblog2.jpgA prioridade do momento no Haiti ainda é salvar vidas. Enquanto as chances de se encontrar algum sobrevivente nos escombros de Porto Príncipe diminuem, uma semana após o devastador terremoto, o trabalho de agências humanitárias e tropas internacionais visa distribuir água, comida e medicamentos para evitar um número ainda maior de vítimas fatais. Mas já está claro, tanto para a Organização das Nações Unidas como para os governos diretamente envolvidos no futuro do Haiti, que o país terá de ser reconstruído. Não há governo operante, não há infraestrutura, e a economia está como os prédios da capital, em ruínas. O Haiti terá de renascer praticamente do zero, e a atual operação de ajuda precisará ser mantida por vários anos.

Trata-se de uma oportunidade única para a comunidade internacional mostrar que aprendeu com os erros e acertos do passado na difícil missão de reconstruir um Estado. Deu certo no Japão do pós-Guerra e, apenas parcialmente, na Alemanha (um país dividido por mais de 40 anos não pode ter sido um exemplo perfeito de reconstrução). Mas outros Estados falidos ou decapitados são símbolos de fracasso de ações recentes da comunidade internacional. Na Somália, por exemplo, a ONU tentou implementar uma megaoperação de socorro no início dos anos 90, em meio à guerra civil. A ação, que chegou a contar com quase 30 mil soldados, inclusive marines americanos, foi muito tímida ou muito ambiciosa, dependendo do ponto de vista. A verdade é que não deu certo, entre outras razões por não ter o apoio de lideranças locais. A Somália conitnua hoje uma terra de ninguém, sem Estado operante, um país fragmentado, fértil para a ação de piratas e milícias seguidoras da Al-Qaeda.

No Afeganistão, os ataques do Taleban nesta segunda-feira, em Cabul, mostram como o país continua engatinhando no caminho da estabilidade interna. Os Estados Unidos, seus colegas na Otan e a ONU parecem tentar de tudo, mas a tão sonhada reconstrução do Afeganistão não se realiza. No Iraque, por sua vez, a situação melhorou, mas os primeiros anos da ocupação americana foram uma receita de como não tentar reconstruir um Estado. O projeto americano, de impor um modelo econômico e político, de dar as cartas sem considerar a realidade local (política, religiosa e cultural) e de pensar em lucros e oportunidades antes de o país se reerguer, foi um desastre, como mostrou sobre a Zona Verde de Bagá.

O Haiti tem muitos dos elementos vistos na Somália ou no Iraque: ausência de um governo em funcionamento, milhões de pessoas afetadas pela morte violenta de familiares (em uma guerra ou em um desastre natural), uma economia destruída, população descrente do mundo exterior e um passado recente de violência política. A comunidade internacional terá de trabalhar com as necessidades dos haitianos em mente, evitar conflitos de interesse das nações envolvidas na reconstrução (Brasil e Estados Unidos terão de operar juntos, em sintonia) e criar bases sólidas para um futuro de estabilidade política e econômica para o país. Nada disso foi feito nos fracassos recentes. No Haiti, o mundo precisará provar que agora sabe como reconstruir uma nação.

Ousadia e sofrimento no Haiti

Rogério Simões | 12:38, quinta-feira, 14 janeiro 2010

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haitiblog.jpgÉ difícil dizer ao certo quando começou o sofrimento do Haiti. Talvez em 1492, quando Cristóvão Colombo desembarcou na ilha Hispaniola e deu o pontapé inicial a séculos de colonialismo, exploração e interferência internacional. Também pode-se apontar o ano de 1697, quando França e Espanha dividiram a ilha, entre o que se tornariam Haiti e República Dominicana, como parte de um acordo para acomodar seus interesses. Outros ainda podem dizer que tal sofrimento começou mesmo em 1804, quando os escravos negros, então dominados pelos franceses, ousaram declarar sua independência política, um feito único no mundo. Nos rostos de cada vítima do devastador terremoto desta semana, parece haver um pouco dessa história, marcada pela exploração, externa e interna, de um povo hoje atolado na pobreza absoluta.

Muitos países usaram o Haiti para interesses próprios desde a chegada de Colombo, particularmente Espanha, França e Estados Unidos. A Espanha lançou a moda com o uso dos nativos para a extração de recursos naturais, mas posteriormente abandonou o território. Os franceses, mesmo após dois séculos de exploração colonial, exigiram dos haitianos um pagamento de indenização bilionária, décadas depois de sua independência, como exigência para reconhecê-la. Os Estados Unidos invadiram o país em 1915, mantendo suas tropas até 1934.

Após o fim da sangrenta dinastia dos Duvalier (Papa Doc, Baby Doc e seus capangas Tonton Macoutes), que dominou o país dos anos 50 aos 80, a interferência internacional mudou um pouco de estilo. Em 1994, a Casa Branca de Bill Clinton recolocou o presidente democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide na Presidência, numa ação de apoio à vítima de um golpe militar. Dez anos depois, entretanto, a Casa Branca de George W. Bush retirou o mesmo Aristide do país e o levou para o exílio, numa manobra mal explicada até hoje. O presidente deposto alegou ter sido sequestrado, mas Washington disse que ele pediu para sair. , um ano depois, que Aristide atribui sua queda à sua recusa a atender às demandas dos Estados Unidos para privatizar o Estado haitiano. O mesmo Aristide, pouco antes do abrupto fim do seu último governo, peitou outra potência internacional, ao exigir da França bilhões de dólares como indenização por aquele pagamento forçado no século 19, logo após a independência haitiana. A França não gostou e só permitiu que o Conselho de Segurança da ONU aprovasse ajuda militar ao Haiti depois da saída do presidente.

Foi quando o Brasil entrou na história, chefiando a força de ajuda das Nações Unidas que está no país desde 2004. Na semana passada, após seis anos com a presença da bandeira azul da ONU, o Haiti continuava uma nação paupérrima, que mal funcionava, mas que pelo menos contava com órgãos de governo, um Parlamento, força policial. Após o terremoto, com a destruição completa da capital, Porto Príncipe, nem isso existe mais. A nação de escravos negros rebeldes nasceu de uma ousadia contra o poder colonial e parece já ter pagado bastante caro por isso, com exploração financeira, invasões, ditaduras e golpes. Quando parecia que o Haiti não tinha mais nada a perder, a natureza testa de vez sua resistência, e o mundo (Estados Unidos, Brasil, França e muitos outros) é chamado para ajudá-lo. Sozinho, o Haiti dificilmente sobreviverá.

A insegurança no esporte

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Rogério Simões | 13:27, segunda-feira, 11 janeiro 2010

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angolablog.jpgO astro do Manchester City, Emmanuel Adebayor, achou que fosse morrer. Durante meia hora, ele e seus companheiros da seleção de Togo tentaram se proteger das balas que perfuravam o ônibus que os levava para a Copa Africana de Nações. O trauma causado pelo ataque tirou Togo do torneio e manchou a reputação de Angola, que tanto investiu na organização da competição como forma de mostrar ao mundo ser uma nação de presente e futuro prósperos.

Como os palestinos mascarados que tomaram atletas israelenses na Olimpíada de Munique, em 1972, os rebeldes do enclave angolano de Cabinda conseguiram o que desejavam: tornar sua causa conhecida mundo afora, por meio de uma ação armada contra esportistas, em uma competição observada pela comunidade internacional. A Flec (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda) diz que a região está em guerra e prometeu novos ataques. Uma desconhecida disputa local transforma-se assim em uma preocupação para o mundo, que se pergunta se um incidente semelhante pode ocorrer quando 32 países disputarem a Copa da Ãfrica do Sul, daqui a cinco meses.

Os organizadores da Copa do Mundo foram rápidos em negar qualquer ligação possível entre as duas realidades. Lembraram que a Ãfrica do Sul, país mais rico da Ãfrica, apesar de extremamente desigual, é muito diferente de Angola, que até poucos anos atrás ainda sofria com sua guerra civil. Confundir os dois seria, segundo esse raciocínio, como temer atentados na Olimpíada de Londres por causa da ação do ETA na Espanha. Verdade. Mas o atentado contra a delegação do Togo mostra quão vulnerável um evento esportivo de grande porte realmente é diante da ação de grupos políticos armados ou mesmo criminosos comuns.

Em março do ano passado, a seleção de críquete do Sri Lanka foi alvo de um atentado no Paquistão, país que agora praticamente não consegue convencer ninguém a disputar jogos em seu território por causa do medo de novos ataques. Em outubro, (comunidade que basicamente reúne ex-colônias britânicas), e a segurança é uma das principais preocupações, especialmente depois do que aconteceu em Mumbai em 2008. Assim como será na Copa de 2014, no Brasil, na Olimpíada do Rio de Janeiro dois anos depois ou nos Jogos de Londres, daqui a dois anos. Praticamente todas as sedes das futuras grandes competições esportivas têm motivos suficientes para investir mundos e fundos para garantir que seus eventos ocorram sem nenhum imprevisto do tipo que vimos em Angola.

A origem do problema não importa tanto. Os culpados por possíveis disparos ou explosões podem ir de amadores traficantes de drogas à Al-Qaeda, passando por desconhecidos grupos separatistas. Mas a verdade é que atletas ou mesmo torcedores em competições esportivas são alvos fáceis e que, inevitavelmente, se traduzem em grande repercussão internacional. Se algum dia houve uma certa ética na realização de atentados contra civis, poupando os participantes de eventos que celebram a confraternização internacional e a diversidade, o ataque em Angola nos lembra que não há regras nem certezas quando o assunto é segurança.

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