A saúde de Barack Obama
A saúde de Barack Obama, que vinha sendo objeto de preocupação entre seus admiradores e líderes mundiais, voltou a dar sinais de vitalidade. Estou me referindo à saúde política, claro, já que na forma física o jovem presidente americano sempre exibiu uma condição admirável.
Obama recuperou sua saúde política prometendo melhorar a saúde dos americanos, conseguindo, bravamente, aprovar um projeto que na prática concede atendimento médico para quase toda a população dos Estados Unidos. Membros do seu próprio partido eram contra, e Obama precisou prometer que dinheiro público não seria usado para a realização de abortos, como temiam alguns democratas religiosos. Os republicanos lançaram sua ira contra o projeto, dizendo que era quase comunista. Os mais liberais criticaram Obama por não criar um verdadeiro sistema público de saúde nos moldes da Grã-Bretanha ou do SUS brasileiro (se funcionam bem ou mal, isso é uma outra questão). O líder americano recebeu ataques de todos os lados, é verdade, mas insistiu, venceu e saiu fortalecido, após ter colocado o próprio futuro como presidente nas mãos dos deputados do seu partido.
Gostem ou não de Obama, o fato é que a derrota da reforma da saúde poderia ter sido um golpe terminal para o seu mandato, do qual ele talvez não se recuperasse. Desmoralizado no Legislativo, o presidente teria muitas dificuldades para obter apoio em outras lutas internas, como em futuras medidas para a recuperação da economia americana ou na adoção de políticas de combate ao aquecimento global. Obama seria, nos próximos dois anos e meio, um presidente enfraquecido cujas promessas de mudança seriam relegadas aos livros de história. Poderia ser bom para a oposição republicana, que já se organiza para tirá-lo da Casa Branca em 2012, mas para o desempenho do atual governo teria sido um desastre.
A vitória de Obama no Congresso também pode ser boa para o resto do mundo. Aliviado de um dos seus maiores desafios domésticos até agora, ele pode dedicar mais atenção a questões internacionais que, apesar de um certo enfraquecimento recente da influência americana, precisam do envolvimento de Washington. O conflito entre Israel e palestinos não pode seguir eternamente, pois gera instabilidade política em uma área vital para o mundo, e Obama precisa se envolver diretamente para obter um acordo que crie um Estado palestino até 2012, como quer o chamado Quarteto (EUA, União Européia, Rússia e ONU). Há também o difícil conflito no Afeganistão, as incertezas na economia mundial, as ambições nucleares do Irã, as relações com uma nova e mais confiante América Latina etc, etc. O que não faltam são desafios internacionais para qualquer presidente dos Estados Unidos, e Obama mostrou estar em forma para encará-los.