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Arquivo para março 2010

A saúde de Barack Obama

Rogério Simões | 17:16, terça-feira, 23 março 2010

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obamablog2.jpgA saúde de Barack Obama, que vinha sendo objeto de preocupação entre seus admiradores e líderes mundiais, voltou a dar sinais de vitalidade. Estou me referindo à saúde política, claro, já que na forma física o jovem presidente americano sempre exibiu uma condição admirável.

Obama recuperou sua saúde política prometendo melhorar a saúde dos americanos, conseguindo, bravamente, aprovar um projeto que na prática concede atendimento médico para quase toda a população dos Estados Unidos. Membros do seu próprio partido eram contra, e Obama precisou prometer que dinheiro público não seria usado para a realização de abortos, como temiam alguns democratas religiosos. Os republicanos lançaram sua ira contra o projeto, dizendo que era quase comunista. Os mais liberais criticaram Obama por não criar um verdadeiro sistema público de saúde nos moldes da Grã-Bretanha ou do SUS brasileiro (se funcionam bem ou mal, isso é uma outra questão). O líder americano recebeu ataques de todos os lados, é verdade, mas insistiu, venceu e saiu fortalecido, após ter colocado o próprio futuro como presidente nas mãos dos deputados do seu partido.

Gostem ou não de Obama, o fato é que a derrota da reforma da saúde poderia ter sido um golpe terminal para o seu mandato, do qual ele talvez não se recuperasse. Desmoralizado no Legislativo, o presidente teria muitas dificuldades para obter apoio em outras lutas internas, como em futuras medidas para a recuperação da economia americana ou na adoção de políticas de combate ao aquecimento global. Obama seria, nos próximos dois anos e meio, um presidente enfraquecido cujas promessas de mudança seriam relegadas aos livros de história. Poderia ser bom para a oposição republicana, que já se organiza para tirá-lo da Casa Branca em 2012, mas para o desempenho do atual governo teria sido um desastre.

A vitória de Obama no Congresso também pode ser boa para o resto do mundo. Aliviado de um dos seus maiores desafios domésticos até agora, ele pode dedicar mais atenção a questões internacionais que, apesar de um certo enfraquecimento recente da influência americana, precisam do envolvimento de Washington. O conflito entre Israel e palestinos não pode seguir eternamente, pois gera instabilidade política em uma área vital para o mundo, e Obama precisa se envolver diretamente para obter um acordo que crie um Estado palestino até 2012, como quer o chamado Quarteto (EUA, União Européia, Rússia e ONU). Há também o difícil conflito no Afeganistão, as incertezas na economia mundial, as ambições nucleares do Irã, as relações com uma nova e mais confiante América Latina etc, etc. O que não faltam são desafios internacionais para qualquer presidente dos Estados Unidos, e Obama mostrou estar em forma para encará-los.

A pressão funcionou?

Rogério Simões | 10:53, sexta-feira, 19 março 2010

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Aparentemente, a pressão do governo Obama sobre o governo israelense funcionou. O premiê Binyamin Netanyahu ligou para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, anunciando medidas para gerar confiança nas relações com os palestinos. Basicamente, Israel estaria prometendo ações para aliviar as duras condições de vida na Cisjordânia. A construção de assentamentos em Jerusalém Oriental também poderia ser suspensa. Resta saber se haverá novos incidentes antes da assinatura de algum novo acordo com os palestinos. A história sugere que não serão poucos.

Israel sob pressão: bom sinal?

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Rogério Simões | 17:47, quarta-feira, 17 março 2010

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jerusalem.jpgAs relações entre Estados Unidos e Israel azedaram depois que um anúncio de novas construções na ocupada Jerusalém Oriental desmoralizou a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, ao Estado judeu. Pouco tempo atrás, eu discuti aqui neste blog o fato de o governo de Israel ter criado mais problemas para o presidente Barack Obama do que este imaginava. Aparentemente, o que já estava ruim ficou pior, . Diante de uma afronta diplomática, a Casa Branca viu-se obrigada a falar grosso com seu histórico aliado no Oriente Médio para não perder totalmente a credibilidade como promotora da paz entre israelenses e palestinos.

Para entender o momento atual, vale relembrar a história recente. Pouco antes da vitória de George W. Bush contra Al Gore, na disputa pela Casa Branca, uma nova intifada explodia nos territórios palestinos ocupados. O início do governo do republicano, em janeiro de 2001, não ajudou a acalmar os ânimos, pelo contrário. Ao reafirmar, constantemente, seu apoio a posições duras de Israel em relação aos palestinos, no cenário "anti-terror" de pós-11 de Setembro, Bush deu forças aos conservadores israelenses. A Terra Santa viveu momentos dramáticos, como o cerco a Belém, a batalha de Jenin e vários atentados suicidas contra civis israelenses, isso apenas . Na época, Bush propôs seu chamado Road Map, ou Mapa da Paz, o plano prevendo um Estado palestino ao lado de Israel. Mas, apesar da retirada israelense da Faixa de Gaza em 2005, vieram a invasão do Líbano, em 2006, e o bombardeio de Gaza em 2008/2009, que deixaram milhares de árabes mortos, a maioria civis. Durante os anos Bush, Israel ainda construiu um muro dentro da Cisjordânia ocupada, que parece ter prevenido atentados suicidas palestinos, mas abalou a vida em comunidades árabes locais. O Mapa da Paz de Bush não levou a lugar algum.

Bush, que chegou a dizer que o futuro mapa da região deveria considerar a nova realidade criada pelos inúmeros assentamentos judaicos na Cisjordânia, plantou em Israel a certeza de que Washington estaria ao seu lado sob quaisquer circunstâncias. Mas Barack Obama tentou mudar o discurso e, já no primeiro ano de governo, exigiu que Israel suspendesse a construção de casas em assentamentos na Cisjordânia. Israel vinha ignorando os pedidos do presidente americano, sem graves consequências. Mas a desfeita israelense, quando Joe Biden visitava o país, foi demais para Obama. O presidente lançou Hillary Clinton, assessores e porta-vozes numa ofensiva para deixar claro que Israel havia ido longe demais, caracterizando uma verdadeira crise diplomática. E isso é um bom ou mau sinal? A intransigência israelense dá margem a mais pessimismo, por indicar que Israel não estaria disposto a negociar a paz, mesmo sob crescente pressão americana. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visitou a região nesta semana e ofereceu o Brasil como possível mediador no conflito, pode ter resumido bem o signficado da crise.

Lula disse que o esfriamento das relações entre Washington e Tel Aviv pode ser "a coisa mágica" que leve a um acordo de paz entre israelenses e palestinos. As negociações, paralisadas especialmente devido ao cerco que ainda existe à Faixa de Gaza e à expansão de assentamentos na Cisjordânia, precisavam urgentemente de um fato novo. Um fato que pudesse abalar a certeza israelense de que Washington estará sempre do seu lado e, com isso, forçar Israel a fazer concessões e voltar ao diálogo. Lula ainda não obteve uma cadeira para o Brasil na mesa de negociações, mas sabe que uma crise pode ser o único remédio capaz de tirar um processo de paz do atoleiro.

Presidente Lula x ex-dissidente Lula

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Rogério Simões | 14:37, quinta-feira, 11 março 2010

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lulafidel.jpgO dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo levou sua greve de fome às últimas consequências. Sua morte, um dia antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ilha dos irmãos Castro, expôs uma face do regime que, se não constrange seus líderes, deixa desconfortáveis muitos de seus admiradores. , o encanador Tamayo era um "preso de consciência", encarcerado em 2004 sob a acusação de "desobediência". Após o fim trágico de seu protesto, a Anistia exigiu de Cuba que liberte todos os outros 54 presos de consciência do país adotados pela entidade. O ex-torneiro mecânico Lula, no entanto, preferiu não se pronunciar em favor do encanador cubano.

O ministro Celso Amorim diz que o presidente Lula . Mas, logicamente, o passado de Lula como ex-preso político, em seus tempos de sindicalista, provoca em muitos um estranhamento, que para alguns chega a indignação. Como poderia Lula, que sofreu nas mãos do governo militar brasileiro, não se solidarizar com prisioneiros de um outro regime ditatorial?

Nessa batalha entre os dois Lulas, o ex-dissidente e o presidente, aparentemente está vencendo o chefe de Estado. Lula estaria, segundo informa o chefe do Itamaraty, respeitando a independência de outra nação ao não criticar publicamente seu governo. Possíveis críticas poderiam estar sendo feitas, imagina-se, mas apenas de forma privada. Tal raciocínio, no entanto, corre o risco de exagerar o realismo que, naturalmente, pauta a função de presidente. Além de chefe de Estado, Lula é chefe de governo, ou seja, precisa manifestar-se ativamente sobre assuntos internacionais, ligados muitas vezes a países específicos. Por isso mesmo Lula não cansa de criticar os Estados Unidos em questões comerciais, por exemplo. Recentemente, criticou diretamente a Grã-Bretanha por causa do seu controle sobre as ilhas Malvinas/Falklands.

Mas o comportamento do presidente sugere que ele acredita ter de preservar um papel supostamente conquistado pelo Brasil nos últimos anos, de líder de um mundo alternativo, que contesta a ordem vigente, criada pelo países desenvolvidos. Lula parece crer que, para garantir tal suposta liderança brasileira, o presidente não pode criticar abertamente Cuba. Nem o Irã, a Rússia ou a China. Assim, Lula estaria, supostamente, garantindo um poder de influência do Brasil sobre essas nações. O preço a pagar seria nunca criticá-los, mesmo que eles deixem prisioneiros políticos morrer de fome ou neguem a ocorrência do Holocausto.

O que o ex-dissidente Lula diria sobre isso? Se Lula fosse apenas um ex-prisioneiro, sem cargo eletivo nem interesses no jogo político internacional, ele possivelmente estaria solidário com a memória do encanador Orlando Zapata Tamayo e outros prisioneiros cubanos. Mas o presidente Lula parece entender que a solidariedade de ex-dissidente e o pragmatismo político de presidente da República não podem caminhar juntos. Há o risco, porém, de que, ao sufocar a compaixão de quem sofreu nas mãos de uma ditadura, o chefe de Estado perca parte da credibilidade conferida por seu passado político. Todo o esforço por um papel de liderança internacional poderia, então, acabar sendo perdido. O governo brasileiro certamente faz seus cálculos e, com eles em mãos, as suas apostas.

Iraque: inquérito e eleição

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Rogério Simões | 12:23, sexta-feira, 5 março 2010

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brown2.jpgO primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, depôs nesta sexta-feira no , aquele que investiga as razões pelas quais a Grã-Bretanha se aliou aos Estados Unidos na invasão do país árabe. Repetiu o que já havia dito seu ex-chefe, Tony Blair: a decisão de ir à guerra contra Saddam Hussein foi, na sua opinião "correta, tomada pelos motivos certos". Brown, que na época era ministro das Finanças, ainda afirmou que "Estados fora-da-lei" não poderiam livremente desrespeitar a legislação internacional. Ou seja, a guerra contra o Iraque serviria como um aviso para outros Estados considerados criminosos, especialmente aqueles do chamado "Eixo do Mal" do então presidente George W. Bush.

Sete anos depois, o que sobrou desse aviso da aliança anglo-saxã para o resto do mundo? A foi definida em documento de 2002, segundo o qual os Estados Unidos consideravam ter o direito de agir preventivamente contra possíveis inimigos. Mas a tragédia do Iraque, que revelou a incapacidade dos Estados Unidos de derrotar inimigos mesmo em nações muito pobres, fez com que a doutrina fosse abandonada. No segundo mandato de Bush, ela nem era mais mencionada em Washington. Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca, a estratégia tornou-se apenas um documento histórico.

As respostas de Gordon Brown ao inquérito remetem a um tempo em que outros valores imperavam na política internacional, mas que, em poucos anos, desapareceram. Brown afirmou que, se nenhuma ação fosse tomada contra Saddam Hussein, "a nova ordem mundial que nós estávamos tentando criar seria colocada em risco". Que nova ordem seria essa? Uma ordem baseada no incontestável poderio político e militar dos Estados Unidos, com apoio incondicional da Grã-Bretanha, num processo financiado por um expansionista capitalismo financeiro. Sem questionar se esse caminho era positivo ou não para o mundo como um todo, o fato é que ele ruiu muito antes de se estabelecer. O poder militar americano foi destruído por bombas de fabricação caseira, acionadas por telefones celulares nas beiras das estradas iraquianas e afegãs. O poder político de Washington mostrou-se pífio, com sua incapacidade de levar avanços ao conflito entre israelenses e palestinos ou de impedir que Coréia do Norte e Irã tornassem-se mestres no domínio da energia nuclear. O capitalismo financeiro que financiava esse projeto, como sabemos muito bem, desabou em 2008 e ainda mal consegue se reerguer. A "nova ordem mundial" envelheceu, e em seu lugar parece surgir um mundo muito mais multipolar, em que China, Índia, Brasil e outros conquistam cada vez mais espaço.

Enquanto isso, muito longe das confortáveis salas do Inquérito sobre o Iraque, o próprio Iraque vai às urnas. As eleições deste fim de semana devem consolidar um processo de pacificação política, apesar das insistentes bombas que alguns suicidas seguem detonando no país. O Iraque que parece surgiu neste pós-guerra, do qual os Estados Unidos pretendem retirar suas tropas até o final do ano que vem, é um Iraque sem dúvida mais democrático do que nos tempos de Saddam Hussein. Mas nem por isso é mais próximo de Washington ou do Ocidente. Os iraquianos xiitas devem consolidar seu domínio político no Iraque, possivelmente aproximando o país ainda mais de seu vizinho e ex-inimigo, o Irã dos aiatolás. Irã, por sinal, também uma força significativa, neste mundo que se parece cada vez menos com a "nova ordem mundial" que Gordon Brown "tentava criar".

Futuro incerto para a Europa

Rogério Simões | 17:12, terça-feira, 2 março 2010

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europe.jpgO Brasil é fruto da expansão europeia pelo mundo. Em 1500, a história moderna do país começou com a chegada de Cabral e Cia, que era apenas um entre vários navegadores europeus que se lançavam mares afora exportando a força militar e política do Velho Mundo. Somando os períodos de colonialismo e neo-colonialismo, até as duas guerras mundiais do século 20, foram 400 anos de dominação europeia, em que nações como Grã-Bretanha, França, Espanha, Portugal e Holanda levaram aos quatro cantos do planeta suas armas, cultura e religião. Após os europeus serem superados por Estados Unidos e União Soviética no século 20, a recém-criada União Européia parecia ser a nova força capaz de peitar americanos e japoneses na disputa pela hegemonia econômica e política no planeta. Mas, pouco tempo depois, o projeto todo está em maus-lençóis.

A crise financeira de 2008, que levou à crise econômica de 2009, 2010 e talvez 2011, paralisou as economias do bloco europeu. As dificuldades mais agudas, enfrentadas por nações como Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda, deixaram o euro em um dos seus piores momentos da história recente. Na Grécia, onde a crise já tomou as ruas na forma de protestos, com direito a violentos confrontos com a polícia, o medo é de um colapso da economia. Os mais poderosos governos do continente sinalizam que ajudarão o governo grego, mas o euro continua apanhando no mercado de câmbio, chegando . A crise vem inclusive em meio à adoção do , antes conhecido como Constituição Européia, estragando a festa de quem apostava na reforma para fortalecer o bloco.

Os problemas dos antigos reis do mundo não se restringem à zona do euro. Única potência da região a ter rejeitado até hoje a moeda única, a Grã-Bretanha ainda enfrenta sua maior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial. Pior: passa por um período de incerteza política, com uma eleição prevista para o início de maio cujo resultado é ainda imprevisível. Pode, inclusive, dar uma espécie de empate: nem o governo trabalhista nem a oposição conservadora conseguiriam a maioria absoluta, o que pode gerar um governo de composição, fraco, ou mesmo uma nova eleição meses mais tarde. Com isso, a libra sofre destino parecido ao euro, despencando nos mercados de câmbio. Sem freio. Turistas brasileiros que costumavam achar a Grã-Bretanha cara demais, especialmente quando uma libra valia R$ 5, quatro anos atrás, devem se surpreender com o valor desta terça-feira: R$ 2,68.

Com suas economias se arrastando para tentar voltar ao azul e dele não sair mais, a Europa vê-se ameaçada de ser mais uma vez colocada para escanteio na disputa por espaço político no mundo. Operações militares custosas, tanto em termos de dinheiro como em vidas humanas, como a no Afeganistão, poderão se tornar mais raras no futuro para os europeus. Cada vez mais China e Rússia, importante fornecedora de energia para a Europa, e até mesmo o Brasil, ocupam espaço de influência em áreas que no passado eram domínios europeus, como a África. Não é à toa que a revista americana Time colocou , perguntando em sua manchete: Líderes franceses, alemães e britânicos hoje olham um para o outro em busca de saídas rápidas para seus momentos difíceis, sabendo que elas não existem. A recuperação econômica tanto no continente como do lado de cá do Canal da Mancha é bem mais lenta do que se sonhava, e com isso vai-se embora boa parte do poder político da Europa sobre temas como paz no Oriente Médio ou aquecimento global. O Velho Continente passa por um duro choque de realidade.

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