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Arquivo para julho 2010

A má fase de Ricardo Teixeira

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Rogério Simões | 20:54, sexta-feira, 23 julho 2010

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teixeirablog.gifO presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, já viveu momentos mais felizes em sua carreira. Com duas das cinco estrelas da camisa da Seleção conquistadas sob o seu comando, o ex-genro de João Havelange, cuja entrada no mundo do futebol foi promovida pelo então poderoso sogro, está acostumado a desfrutar de um poder incontestável. O homem-forte do futebol brasileiro sobreviveu à CPI que investigou sua entidade, reestruturou os torneiros do país, criando a Copa do Brasil e introduzindo os pontos corridos ao Brasileirão, e ajudou a conquistar o direito de o Brasil receber novamente a Copa do Mundo. Goste ou não de Teixeira, trata-se de um dirigente de sucesso.

Mas o presidente da CBF, já chamado por parte da imprensa brasileira de "Imperador", parece viver um momento inusitado. Tudo em que aposta parece dar errado, quase como se um passe de mágica lhe tivesse tirado o dom do sucesso. Ricardo Teixeira escolheu, para surpresa dos brasileiros, o ex-capitão Dunga como técnico da Seleção para a Copa da África do Sul, uma aposta polêmica. Dunga ganhou muita coisa, mas na única competição que realmente interessava, o Mundial, fracassou. Teixeira havia perdido sua aposta e sabia que, para 2014, teria de escolher um treinador com bom currículo, vitorioso no futebol brasileiro, o que não costumava ser a política da sua confederação.

Teixeira, segundo muitas fontes do setor, gostaria de ver Luiz Felipe Scolari de volta à Seleção. Mas, entre a CBF e o Palmeiras, Felipão ficou com o clube em que já fora ídolo. Teixeira decidiu então apostar em Muricy Ramalho, escolha indiscutível diante do excelente currículo do treinador tricampeão brasileiro pelo São Paulo. Mas Teixeira não contava com o atual patrão de Muricy, o Fluminense Football Club. A diretoria do tricolor carioca não liberou seu técnico, com quem diz ter contrato até o final de 2012, e Muricy aparentemente acatou a posição do clube. No início da noite desta sexta-feira, o presidente da CBF continuava sem um comandante para a equipe nacional, supostamente o cargo mais desejado por treinadores brasileiros.

Como se não bastassem o fracasso na África do Sul e as frustradas tentativas de encontrar um técnico, Ricardo Teixeira perdeu força na polêmica envolvendo a participação de São Paulo na Copa de 2014. Um mês depois de ter descartado, juntamente com o a direção da Fifa, o uso do estádio do Morumbi na competição, o dirigente encontrou-se com o governador paulista, Alberto Goldman, e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Ouviu dos dois que a primeira opção de São Paulo para a Copa era... o Morumbi. O chamado Piritubão, que por algumas semanas pareceu ser o sonho de consumo do presidente da CBF, estava descartado pelas autoridades políticas do mais rico Estado da República. Ao final do encontro, um humilde Teixeira apareceu ao lado de Goldman e Kassab dizendo que São Paulo estará, sim, na Copa, mas que as alternativas ainda seriam discutidas. Ao contrário do que o presidente da CBF anunciara recentemente, o Morumbi continua no páreo, e um novo estádio apenas será erguido se a iniciativa privada bancá-lo sozinha.

Como um time desacostumado a derrotas que vê seus chutes baterem na trave, enquanto os adversários marcam gols a partir de ângulos improváveis, Ricardo Teixeira torce para que sua má fase seja breve e sem consequências futuras.

A língua solta dos políticos

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Rogério Simões | 20:53, segunda-feira, 19 julho 2010

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berlusconiblog.jpgBerlusconi, Bush, Maluf, Lula, Indio. Incontinência verbal é algo muito presente na política. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, é exemplo de língua solta que nunca se preocupou com os efeitos de suas declarações. Seu tema predileto são as mulheres: o premiê-empresário-dono de clube de futebol já disse que a esquerda italiana não tinha mulheres bonitas e que investidores estrangeiros deveriam colocar dinheiro no seu país por causa dos dotes físicos de suas secretárias. Seu famoso aliado político George W. Bush também era especialista no assunto. Cometeu tantas gafes em seus oito anos na Casa Branca que há livros inteiros sobre elas e inúmeros .

Geralmente, as culturas em que brotam políticos falastrões tendem a ignorar seus exageros e gafes (Berlusconi é premiê pela terceira vez e segue popular). Uma frase mal colocada ou um adjetivo mal escolhido podem derrubar ministros ou líderes empresariais no norte da Europa ou no Japão, regiões mais preocupadas com o que sai da boca de alguém em posição de responsabilidade. Mas no Brasil, assim como na Itália de Berlusconi, não é assim. O ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf cansava de dar suas gafes, especialmente envolvendo mulheres, numa espécie de prelúdio à carreira do líder italiano. Quando ainda era um político poderoso, Maluf teria dito que professoras não eram mal pagas, mas sim mal casadas, e sugerido que estupradores até poderiam satisfazer seu apetite sexual desde que não assassinassem suas vítimas.

A tradição de incontinência verbal continuou e foi perpetuada, especialmente, na figura do presidente Lula. Muitas frases infelizes do presidente já entraram para o folclore político, mas algumas causaram genuíno desconforto. Entre elas, destacam-se a declaração de que os protestos contra as suspeitas de fraude após as eleições presidenciais no Irã eram . Foram opiniões que, devido à sua falta de cuidado e potencial ofensivo, geraram inúmeras críticas ao presidente, que na semana passada disse ter ficado feliz com a libertação de dissidentes cubanos, sem fazer referências ao que havia dito anteriormente.

A oposição parece seguir a mesma linha. A recente declaração de Indio da Costa, vice na chapa presidencial do tucano José Serra, sobre o Partido dos Trabalhadores, pode ter consequências ainda mais sérias. Dependendo da interpretação jurídica, sua acusação de que o PT "é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico" poderia até resultar em processo e condenação por calúnia e difamação. Indio pareceu repetir, publicamente, o que pode ser até visto por alguns como senso comum, opinião partilhada por aqueles que desconfiam ou não gostam do partido do presidente Lula. Mas, na posição de candidato a vice-presidente e, por conseguinte, ocupante eventual da cadeira de presidente da República, Indio precisaria oferecer algo de mais concreto à opinião pública do que simplesmente reproduzir o que geralmente fica restrito a conversas de bar.

Muitas das gafes de Bush eram apenas hilárias, outras eram ofensivas. As falas de Lula sobre dissidentes políticos certamente lhe tiraram pontos junto a antigos admiradores. Já as opiniões de Indio, expressadas no meio de uma campanha eleitoral e parcialmente repetidas por José Serra, têm o potencial de causar mais do que arrependimento ao jovem deputado. Talvez sirva de alerta a políticos que adoram transformar pensamentos mal formulados em declarações públicas mal construídas. Ou talvez não.

O significado do trem-bala

Rogério Simões | 22:51, terça-feira, 13 julho 2010

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tremblog.jpgJá tem data marcada a passagem do Brasil para um diferente estágio de desenvolvimento: meados de 2016, quando deverá entrar em funcionamento o trem de alta velocidade, ou trem-bala, ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Não se trata apenas de uma obra a oferecer uma alternativa confiável e veloz de transporte entre os dois mais importantes centros urbanos do país. O trem-bala, se for realmente concluído a tempo de carregar turistas para a Olimpíada carioca, mostrará ao exterior um Brasil mais conectado com tendências internacionais que misturam qualidade de vida, preocupação com o meio ambiente e racionalidade de tempo e espaço.

O boom econômico por que passa o Brasil levou, inicialmente, a um aumento desenfreado da utilização das duas formas básicas de transporte de passageiros no país: rodoviário, preferencialmente individual, e aéreo. A produção e venda de veículos continuam batendo recorde atrás de recorde , e os aeroportos de Cumbica e Congonhas não têm mais onde enfiar aeronaves e passageiros. Para acomodar a crescente demanda por deslocamentos de longa distância, o Estado brasileiro, às vezes em parceria com a iniciativa privada, continua abrindo estradas e precisa ampliar seus aeroportos visando a Copa de 2014. Mas a opção pelo trem-bala ressuscita a opção ferroviária para o deslocamento de pessoas, em versão moderna, e reforça a noção de transporte coletivo. Carro, cada um usa o seu. O avião reúne centenas de desconhecidos em um mesmo espaço, mas quem pode anda de jatinho particular. O trem é sempre coletivo.

A Espanha, por exemplo, tem investido pesadamente no transporte ferroviário de alta velocidade na última década. Com isso, já reduziu significativamente o número de passageiros dentro de aviões, com a consequente queda em emissões de gás carbônico. Segundo um especialista espanhol do setor, citado na época pelo jornal The Guardian, um passageiro de trem-bala representa um sexto de um passageiro de avião em termos de emissão de poluentes.

A opção por um em detrimento do outro representa racionalização de tempo e aumento de conforto para o passageiro, com o benefício de aliviar o impacto ambiental da crescente utilização de transporte para longas distâncias. A ideia do trem-bala brasileiro, independentemente de seus detalhes e possíveis futuros problemas no longo processo de implantação, indica que o país está ampliando seus horizontes quando o assunto é deslocamento da sua população. O Brasil parece se aproximar do caminho já traçado por nações mais desenvolvidas. Avião, carros e ônibus deixam de ser as únicas alternativas nacionais, em uma mudança que pode levar ao surgimento de outros serviços ferroviários de passageiros. O trem-bala sugere que, em meio ao caos decorrente da crescente e desorganizada demanda por bens e serviços, antes restritos apenas às classes brasileiras de maior renda, já é possível avistar luz no fim do túnel.

A importância do vice

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Rogério Simões | 21:52, quarta-feira, 7 julho 2010

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indioblog.jpgA Holanda já foi vice duas vezes, e por isso mesmo fará de tudo para evitar o mesmo destino no próximo domingo, em Johanesburgo, contra a Espanha. Mas ser vice tem suas compensações. A própria Holanda só é tão badalada hoje devido ao desempenho em 1974 e 1978. Martha Rocha tornou-se um ícone da beleza feminina brasileira após ficar em segundo lugar no Miss Universo, com o título de vice dando ainda mais charme ao mito da eterna Miss Brasil. Os candidatos à Presidência da República têm também cada um o seu vice, recentemente anunciados ao grande público. Tratados muitas vezes como simples adereços em composições políticas, os candidatos a vice-presidente podem ser de grande importância num futuro governo, mesmo se ignorados pelo eleitor durante a campanha. A história política brasileira mostra que muitas vezes o futuro da nação pode estar em suas mãos.

Como sabemos, a redemocratização do Brasil começou com um vice. Depois do mal súbito que se abateu sobre o então presidente eleito, Tancredo Neves, seu vice, José Sarney, acabou no Palácio do Planalto. Um ano antes, Sarney apoiava o mesmo regime que Tancredo tentava derrubar, e sua escolha para o posto de vice visava apenas compor um novo grupo político capaz de vencer no Colégio Eleitoral. Sarney não apenas ficou com a Presidência como até hoje é figura central no jogo de poder em Brasília. Após seu governo, o Brasil não demorou para voltar a ter um vice no comando: Fernando Collor de Mello renunciou diante do iminente impeachment, e seu substituto direto, Itamar Franco, ficou no comando. Poucos brasileiros conheciam Itamar antes da crise política que indicava a queda de Collor, mas o discreto vice virou o chefe da nação e entrou para a história. Implementou o Plano Real, levou a Copa de 1994 e trouxe de volta o Fusca. Se voltarmos ainda mais na história, veremos que o vice de Jânio Quadros, João Goulart, que nem à sua chapa pertencia, também foi alçado à Presidência e nela tornou-se figura central da grave crise política que antecedeu o golpe de 1964 e 21 anos de regime militar.

Fora do Brasil, os países onde existe a figura do vice também têm sua história muitas vezes determinada pelo número 2. Lyndon Johnson herdou uma nação traumatizada após o assassinato de John F. Kennedy, para depois garantir direitos civis aos negros americanos e afundar os Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Gerald Ford, que não havia nem sido eleito, mas indicado, para o posto de vice-presidente, chegou à Casa Branca após a renúncia de Richard Nixon. Anos depois, o vice de Ronald Reagan, George Bush, também tornou-se o número 1, dessa vez por méritos próprios, nas urnas. Seu filho, George W. Bush, tinha um vice, Dick Cheney, que muitos consideravam mais poderoso que ele. Cheney era visto como o grande arquiteto da chamda "guerra contra o terrorismo" que levou os Estados Unidos a ocupar o Iraque.

Mas a escolha ruim de um vice pode colocar os planos do número 1 em perigo. John McCain achava ter dado um golpe de mestre ao buscar no Alasca a sua vice, Sarah Palin. Os americanos, no entanto, sabem que vice não é brincadeira. Caso o presidente seja forçado a renunciar, morra ou sofra um derrame que o deixe incapaz de exercer o cargo, é o vice quem tomará conta da economia e da vida do país. E daquele famoso botão nuclear. Por isso os americanos dissecaram a carreira e o conhecimento de Sarah Palin. Não gostaram do que viram, e a vice acabou sendo um fardo que ajudou a afundar a campanha de McCain contra Barack Obama.

Voltando ao Brasil: na atual campanha presidencial, a aliança com o PMDB levou Dilma Rousseff a escolher o deputado federal Michel Temer como vice, o que deixou a candidata do governo com uma enormidade de tempo na TV. Marina Silva, do PV, tem ao seu lado o empresário Guilherme Leal, seu colega de partido. O tucano José Serra deixou tudo para a última hora: com um anúncio diferente atrás do outro, escolheu para vice o jovem deputado Índio da Costa, do Democratas. Candidatos e eleitores darão aos três pouca ou nenhuma atenção nos próximos meses. Mas, se algo acontecer com o próximo presidente da República, um deles assumirá o controle de uma nação de 190 milhões de pessoas. Espera-se que Temer, Leal e Índio saibam o que fazer com os botões quase nucleares brasileiros.

Sob pressão até 2014

Rogério Simões | 18:17, sexta-feira, 2 julho 2010

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copa2014blog.jpgOs próximos quatro anos deveriam ser de festa para o Brasil. O ótimo momento econômico, com crescimento acima de 7% em 2010, deve se manter no futuro próximo. Além disso, o país estaria contando, orgulhoso, os dias até a realização da primeira Copa do Mundo em solo nacional desde 1950. Mas o direito de receber o Mundial, honra com a qual gerações de brasileiros sonharam, tem se mostrado um desafio gigantesco.

Com o fim da participação brasileira na Copa da África do Sul, espera-se para os próximos dias ou semanas uma posição da CBF e da Fifa sobre o papel da cidade de São Paulo na Copa de 2014. Falta ainda saber o que será de Curitiba no Mundial. E de Brasília. E de todas as outras cidades-sede. E da estrutura dos aeroportos que deverão receber dezenas de milhares de turistas estrangeiros. E de tudo mais que precisa ser feito e ainda não foi iniciado. A obra do trem-bala, que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, foi descartada para a Copa, ficando apenas nos planos da Olimpíada carioca de 2016. Não se sabe ainda onde ocorrerá a abertura do Mundial. O plano atualmente considerado para a maior cidade do país prevê a construção de um moderno estádio em um terreno onde hoje não há nada, nem conexão de transporte, público ou privado. Enquanto no Mundial de 2006, na Alemanha, a maioria do investimento veio da iniciativa privada, o Estado brasileiro pagará a maior parte da conta de 2014. O governo aposta que o bom momento econômico nacional será mantido para que o poder público possa financiar tal empreendimento. Há muito mais perguntas do que respostas, a quatro anos da tão esperada segunda Copa brasileira.

E, agora, além de realizar uma Copa a toque de caixa, precisando mostrar ao mundo que realmente merece ser visto como uma nova potência, o Brasil precisará vencer. Após os fracassos de 2006 e 2010, a expectativa pelo sucesso de quem for o próximo treinador da Seleção daqui a quatro anos será imensa. O fantasma de 1950 voltará, assim como o medo de que o Brasil repita a Itália de 1990 e a Alemanha de 2006, recentes perdedores dentro de casa. Criticado pela Fifa por seus atrasos, em meio a uma crise envolvendo a cidade de São Paulo e sem ter garantidas importantes obras de infraestrutura, o Brasil já passaria os próximos quatro anos sob enorme pressão para que realize um Mundial de sucesso. Com o fracasso de Dunga na África, o Brasil também terá, na opinião de muitos, a obrigação de erguer a taça.

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