A má fase de Ricardo Teixeira
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, já viveu momentos mais felizes em sua carreira. Com duas das cinco estrelas da camisa da Seleção conquistadas sob o seu comando, o ex-genro de João Havelange, cuja entrada no mundo do futebol foi promovida pelo então poderoso sogro, está acostumado a desfrutar de um poder incontestável. O homem-forte do futebol brasileiro sobreviveu à CPI que investigou sua entidade, reestruturou os torneiros do país, criando a Copa do Brasil e introduzindo os pontos corridos ao Brasileirão, e ajudou a conquistar o direito de o Brasil receber novamente a Copa do Mundo. Goste ou não de Teixeira, trata-se de um dirigente de sucesso.
Mas o presidente da CBF, já chamado por parte da imprensa brasileira de "Imperador", parece viver um momento inusitado. Tudo em que aposta parece dar errado, quase como se um passe de mágica lhe tivesse tirado o dom do sucesso. Ricardo Teixeira escolheu, para surpresa dos brasileiros, o ex-capitão Dunga como técnico da Seleção para a Copa da África do Sul, uma aposta polêmica. Dunga ganhou muita coisa, mas na única competição que realmente interessava, o Mundial, fracassou. Teixeira havia perdido sua aposta e sabia que, para 2014, teria de escolher um treinador com bom currículo, vitorioso no futebol brasileiro, o que não costumava ser a política da sua confederação.
Teixeira, segundo muitas fontes do setor, gostaria de ver Luiz Felipe Scolari de volta à Seleção. Mas, entre a CBF e o Palmeiras, Felipão ficou com o clube em que já fora ídolo. Teixeira decidiu então apostar em Muricy Ramalho, escolha indiscutível diante do excelente currículo do treinador tricampeão brasileiro pelo São Paulo. Mas Teixeira não contava com o atual patrão de Muricy, o Fluminense Football Club. A diretoria do tricolor carioca não liberou seu técnico, com quem diz ter contrato até o final de 2012, e Muricy aparentemente acatou a posição do clube. No início da noite desta sexta-feira, o presidente da CBF continuava sem um comandante para a equipe nacional, supostamente o cargo mais desejado por treinadores brasileiros.
Como se não bastassem o fracasso na África do Sul e as frustradas tentativas de encontrar um técnico, Ricardo Teixeira perdeu força na polêmica envolvendo a participação de São Paulo na Copa de 2014. Um mês depois de ter descartado, juntamente com o a direção da Fifa, o uso do estádio do Morumbi na competição, o dirigente encontrou-se com o governador paulista, Alberto Goldman, e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Ouviu dos dois que a primeira opção de São Paulo para a Copa era... o Morumbi. O chamado Piritubão, que por algumas semanas pareceu ser o sonho de consumo do presidente da CBF, estava descartado pelas autoridades políticas do mais rico Estado da República. Ao final do encontro, um humilde Teixeira apareceu ao lado de Goldman e Kassab dizendo que São Paulo estará, sim, na Copa, mas que as alternativas ainda seriam discutidas. Ao contrário do que o presidente da CBF anunciara recentemente, o Morumbi continua no páreo, e um novo estádio apenas será erguido se a iniciativa privada bancá-lo sozinha.
Como um time desacostumado a derrotas que vê seus chutes baterem na trave, enquanto os adversários marcam gols a partir de ângulos improváveis, Ricardo Teixeira torce para que sua má fase seja breve e sem consequências futuras.