A importância do vice
A Holanda já foi vice duas vezes, e por isso mesmo fará de tudo para evitar o mesmo destino no próximo domingo, em Johanesburgo, contra a Espanha. Mas ser vice tem suas compensações. A própria Holanda só é tão badalada hoje devido ao desempenho em 1974 e 1978. Martha Rocha tornou-se um ícone da beleza feminina brasileira após ficar em segundo lugar no Miss Universo, com o título de vice dando ainda mais charme ao mito da eterna Miss Brasil. Os candidatos à Presidência da República têm também cada um o seu vice, recentemente anunciados ao grande público. Tratados muitas vezes como simples adereços em composições políticas, os candidatos a vice-presidente podem ser de grande importância num futuro governo, mesmo se ignorados pelo eleitor durante a campanha. A história política brasileira mostra que muitas vezes o futuro da nação pode estar em suas mãos.
Como sabemos, a redemocratização do Brasil começou com um vice. Depois do mal súbito que se abateu sobre o então presidente eleito, Tancredo Neves, seu vice, José Sarney, acabou no Palácio do Planalto. Um ano antes, Sarney apoiava o mesmo regime que Tancredo tentava derrubar, e sua escolha para o posto de vice visava apenas compor um novo grupo político capaz de vencer no Colégio Eleitoral. Sarney não apenas ficou com a Presidência como até hoje é figura central no jogo de poder em Brasília. Após seu governo, o Brasil não demorou para voltar a ter um vice no comando: Fernando Collor de Mello renunciou diante do iminente impeachment, e seu substituto direto, Itamar Franco, ficou no comando. Poucos brasileiros conheciam Itamar antes da crise política que indicava a queda de Collor, mas o discreto vice virou o chefe da nação e entrou para a história. Implementou o Plano Real, levou a Copa de 1994 e trouxe de volta o Fusca. Se voltarmos ainda mais na história, veremos que o vice de Jânio Quadros, João Goulart, que nem à sua chapa pertencia, também foi alçado à Presidência e nela tornou-se figura central da grave crise política que antecedeu o golpe de 1964 e 21 anos de regime militar.
Fora do Brasil, os países onde existe a figura do vice também têm sua história muitas vezes determinada pelo número 2. Lyndon Johnson herdou uma nação traumatizada após o assassinato de John F. Kennedy, para depois garantir direitos civis aos negros americanos e afundar os Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Gerald Ford, que não havia nem sido eleito, mas indicado, para o posto de vice-presidente, chegou à Casa Branca após a renúncia de Richard Nixon. Anos depois, o vice de Ronald Reagan, George Bush, também tornou-se o número 1, dessa vez por méritos próprios, nas urnas. Seu filho, George W. Bush, tinha um vice, Dick Cheney, que muitos consideravam mais poderoso que ele. Cheney era visto como o grande arquiteto da chamda "guerra contra o terrorismo" que levou os Estados Unidos a ocupar o Iraque.
Mas a escolha ruim de um vice pode colocar os planos do número 1 em perigo. John McCain achava ter dado um golpe de mestre ao buscar no Alasca a sua vice, Sarah Palin. Os americanos, no entanto, sabem que vice não é brincadeira. Caso o presidente seja forçado a renunciar, morra ou sofra um derrame que o deixe incapaz de exercer o cargo, é o vice quem tomará conta da economia e da vida do país. E daquele famoso botão nuclear. Por isso os americanos dissecaram a carreira e o conhecimento de Sarah Palin. Não gostaram do que viram, e a vice acabou sendo um fardo que ajudou a afundar a campanha de McCain contra Barack Obama.
Voltando ao Brasil: na atual campanha presidencial, a aliança com o PMDB levou Dilma Rousseff a escolher o deputado federal Michel Temer como vice, o que deixou a candidata do governo com uma enormidade de tempo na TV. Marina Silva, do PV, tem ao seu lado o empresário Guilherme Leal, seu colega de partido. O tucano José Serra deixou tudo para a última hora: com um anúncio diferente atrás do outro, escolheu para vice o jovem deputado Índio da Costa, do Democratas. Candidatos e eleitores darão aos três pouca ou nenhuma atenção nos próximos meses. Mas, se algo acontecer com o próximo presidente da República, um deles assumirá o controle de uma nação de 190 milhões de pessoas. Espera-se que Temer, Leal e Índio saibam o que fazer com os botões quase nucleares brasileiros.
dzԳáDzDeixe seu comentário
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Um veículo de informação deve ser imparcial.
Mostrar fotos apenas de candidatos da oposição que são desavergonhadamente apoiados pela mídia, é no mínimo desonesto.
A ý Brasil descambou p/ o ridículo e a matriz em UK terá o link e meus comentários acerca do sr. Rogério Simões.
Artiguinho xôxo,esse ,éin? Difícil ser imparcial quando se torce para um candidato,não é mesmo? Imagine se vinga a escolha de José Arruda ex-governador do DF,e mentor do mensalão? Já estava pronto um slogan informal:"Vote num careca e leve dois !". O escândalo depois da convenção sepultaria definitivamente Serra,e seus aliados.
Essa opção desesperada, falta de nomes e inconsistência da candidatura determinaram o óbito precoce e lento dessa aliança anacrônica :o atraso com o coronelismo.
Apelaram para a galhofa , desprezando o povo como sempre o fizeram apoiando-se nas elites como é de sua tradição.
Artigo muito fraco.
Não tocou no pinto central: as diferenças entre os vices.
O modo como um vice é escolhido reflete a visão do candidato sobre a maneira de pensar sobre temas importantes.
Ao escolher o despreparado Indio da Costa, Serra mostrou quenao pensou na função primaria do vice. Concordo com os demais comentários e acrescento:Temer tem defeitos, mas o Indio nao serve nem para limpar o sapato dele.
Ao dar destaque para a imagem de um só candidato, omitindo os demais, e ao nao se posicionar numa minima analise de quem é quem, o artigo desmascara o posicionamento editorial claro da bbc Brasil em favor do PSDB_DEM
Penso que a ý foi tendenciosa ao colocar a foto de Vice que até agora tem demonstrado ser uma ameaça. Sugiro que faça as devidas retratações ou que cite (não foto) todos os vices.