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Arquivo para setembro 2010

A ex-companheira de Lula

Rogério Simões | 11:13, terça-feira, 28 setembro 2010

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lulamarinablog.jpgA poucos dias do primeiro turno das eleições presidenciais, uma nova batalha se consolida. De acordo com as mais recentes variações nas pesquisas de opinião, Dilma tem perdido votos depois das denúncias de tráfico de influência no Ministério da Casa Civil, em torno da sua ex-assessora Erenice Guerra (demitida em seguida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva). As mesmas pesquisas indicam que a candidata do PV, Marina Silva, foi a maior beneficiada pela queda da candidata do governo. Segundo a mais recente sondagem Datafolha, Marina subiu três pontos percentuais e chegou a 14% das intenções de voto. Se Dilma Rousseff não vencer já no primeiro turno, a responsável pode ser sua ex-colega de ministério.

O presidente Lula, apesar de não ter seu nome nas urnas de uma eleição geral pela primeira vez desde a redemocratização (candidatou-se a governador de São Paulo em 1982, foi eleito deputado federal em 1986 e disputou a Presidência em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006), é um personagem central no pleito. Lula tem feito tudo o que pode para garantir que sua escolhida o substitua no Planalto, inclusive participado ativamente de comícios em que geralmente se torna a atração principal. Suas aparições no horário eleitoral gratuito na TV foram certamente responsáveis em grande parte pela disparada de Dilma nas pesquisas. Lula tem sido, até agora, um supracandidato, um personagem central da campanha que, na boca da urna, vê seus planos ameaçados por uma ex-companheira de mais de 20 anos.

Se sua história de vida fez de Lula um símbolo da ascensão da classe trabalhadora, um exemplo de luta em meio à massa operária do ABC paulista, Marina Silva pode ser vista como seu espelho no norte do Brasil. Ex-colega de ativismo de Chico Mendes, com quem fundou a Central Única dos Trabalhadores do Acre em 1985, Marina era o Lula da Amazônia. Em sua luta pelos direitos dos seringueiros e pela defesa da floresta, era uma militante pura, símbolo de um Partido dos Trabalhadores diferente de "tudo que está aí", como dizia um antigo jingle de campanha de Eduardo Suplicy. Em comparação com a pragmática Dilma Rousseff, que passou mais tempo da sua vida política no PDT do que no PT, Marina Silva é a essência do purismo petista de outrora. Apesar de ter sido, assim como Dilma, ministra de Lula, abandonou a Presidência lulista. Diante do que chamou na época de "dificuldades" para realizar seu trabalho, acabou jogando a toalha. A ex-pedetista associada à ideia de crescimento econômico (energia, PAC) ganhou o espaço que poderia ter sido da petista histórica, defensora da floresta. Na prática, Lula trocou uma companheira pela outra.

Agora, roubando votos de Dilma Rousseff, Marina Silva ameaça estragar os planos de seu ex-amigo e ex-colega de luta sindical. O projeto de Lula será significativamente abalado caso Dilma não assegure uma vitória já no primeiro turno, o que explica por que o presidente tem estado tão dedicado em evitar uma segunda votação. Caso José Serra consiga obter o apoio de Marina e derrotar a candidata do presidente, terá realizado um feito histórico. Mas o mais provável é que, mesmo em um segundo turno, Dilma continue sendo favorita contra um adversário que, no momento, depende da estrela do PV para compensar uma campanha pouco empolgante.

A vitória em dois tempos, entretanto, não terá sido tão avassaladora como o presidente Lula sonhou. O poder da presidente Dilma será reduzido, possibilitando uma disputa mais acirrada em 2014. Ao escolher Dilma como sucessora, em vez de Marina, o presidente optou por um estilo de política em detrimento de outro, a companheira das obras no lugar da companheira ambientalista. Mas, fora do PT e longe Lula, a estrela de Marina Silva ainda pode brilhar.

Economia x política

Rogério Simões | 18:25, segunda-feira, 20 setembro 2010

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ereniceblog.jpgEm 1991, após a fácil vitória sobre as forças de Saddam Hussein no Kuwait, o então presidente americano, George Bush (o pai), tinha uma taxa de aprovação de dar inveja a Luiz Inácio Lula da Silva: 89%. Bush liderou a nação nos anos do colapso do comunismo no Leste Europeu, ou seja, cruzou a linha de chegada na vitória sobre os soviéticos na Guerra Fria. Também fez os americanos superarem o trauma da Guerra do Vietnã ao vencer facilmente o conflito no Golfo Pérsico. Mas, ao tentar obter a reeleição (dever político de todo presidente americano), deparou-se com o slogan adotado pela oposição democrata: "É a economia, estúpido". Colecionador de vitórias políticas no exterior, Bush foi derrotado nas urnas por Bill Clinton por não ter conseguido reduzir o déficit fiscal e por ter descumprido a promessa de campanha de não aumentar impostos. A economia venceu a política. O bolso do eleitor, então furado, falou mais alto.

A menos de duas semanas do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, o noticiário tem sido uma mistura de informações positivas e negativas. As positivas estão diretamente relacionadas à economia (geração de empregos volta a bater recorde, PIB cresce mais do que o esperado etc), enquanto as negativas estão ligadas à forma de se fazer política no país. A quebra do sigilo fiscal de várias pessoas associadas ao tucano José Serra sugeriu a existência de ações ilegais deliberadas contra a oposição. O ministério que serviu de trampolim para Dilma Rousseff se lançar candidata a presidente transformou-se num centro de acusações de tráfico de influência que derrubaram a substituta e ex-assessora da petista. O jornal britânico The Times disse que as suspeitas "tiraram o brilho" do que parecia, até então, uma campanha histórica de uma futura presidente do Brasil. Como consequência, perdeu brilho também o cenário político brasileiro, que, numa espécie de viagem no tempo, nos faz lembrar os episódios do Mensalão, Anões do Orçamento, a Casa da Dinda etc.

Mas, na briga entre notícias positivas e negativas, entre a economia e a política, quem sai ganhando? Pesquisas de opinião devem indicar, nesta semana, se o Erenicegate tem ou não potencial de afetar a disputa pela Presidência. Até agora tudo sugere que Dilma Rousseff receberá de Lula a faixa presidencial, tornando-se a primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto. A economia costuma determinar a maioria dos destinos políticos, no Brasil e mundo afora. O regime militar brasileiro enfraqueceu-se após a crise da dívida, na entrada da década de 80, e Fernando Collor de Mello foi afastado por corrupção, mas em meio ao fracasso de mais um plano econômico. Lula só chegou à Presidência porque, no segundo mandato, o governo Fernando Henrique Cardoso perdeu o controle da economia. Como lembrei acima, Bush pai não conseguiu se reeleger porque o bolso do americano ia mal, e seu filho não fez seu sucessor porque os Estados Unidos enfrentavam a mãe de todas as crises. O mesmo desastre econômico fez com que os trabalhistas britânicos fossem tirados do poder, em maio passado, após 13 anos e três vitórias eleitorais. Nem o todo-poderoso Suharto, que governou a Indonésia por 31 anos, resistiu à falta de dinheiro do cidadão, sendo derrubado um ano após a eclosão da crise asiática.

O Brasil terá em 2010 sua maior taxa de crescimento econômico desde 1986, e dessa vez a população mais pobre se beneficiou. Programas de distribuição de renda do governo e o avanço do emprego formal têm dado a Lula taxas de aprovação que chegam a 80%. O presidente teria de se esforçar muito para perder uma eleição sob condições tão favoráveis. Seria preciso que algo muito grave acontecesse, que alterasse a confiança e a admiração da população pelo chefe da nação. Por exemplo, o presidente ser desmascarado num caso de comportamento sexual impróprio com uma estagiária na ante-sala da Presidência, como aconteceu com Bill Clinton. O escândalo abalou seu partido, o Democrata, e Al Gore fez campanha sem se associar ao então presidente. Acabou perdendo.

A não ser que Lula seja envolvido em algo de tamanho impacto, Dilma segue favorita. Mas vencerá já no primeiro turno? Se seu triunfo for confirmado, ela governará com tranquilidade? Os escândalos recentes, mesmo que não mudem o resultado do pleito, podem vir a abalar o poder político do novo governo. No mínimo servem de alerta para a provável futura presidente de que seu governo será objeto de constante olhar crítico, da oposição e da imprensa, como se espera em uma democracia. A prosperidade econômica provavelmente dará a vitória à candidata de Lula. Já a lama política pode ter consequências além das eleições.

Exageros e o futuro do Brasil

Rogério Simões | 15:16, quarta-feira, 8 setembro 2010

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brasiliablog.jpgConfesso que não sei se alguém já expôs esta ideia com estas mesmas palavras, mas eu arrisco dizer: assim como a pressa é inimiga da perfeição, o exagero é inimigo da credibilidade. É um conceito óbvio, especialmente para quem lida diariamente com informação, ou seja, nós, jornalistas. O bom jornalismo prevê o abandono do exagero, da convicção cega, de ataques raivosos ou elogios bajuladores. A imprensa não é parte da história que cobre, seu papel é informar, questionar, expor contradições e esclarecer dúvidas sem fechar as portas para nenhum argumento, sem jamais dar-se por satisfeita. Quando dá espaço às várias facetas da realidade, ao contraditório, o bom jornalismo acumula credibilidade junto ao público. Quem está disposto a questionar tudo e todos de forma objetiva, sem superdimensionar o valor das respostas encontradas, terá o respeito, a crença e a admiração do consumidor da informação.

O exagero cabe àqueles que lucram diretamente com o que oferecem. Um vendedor pode exagerar sobre os benefícios de um produto, assim como um político pode superdimensionar ou mesmo inventar qualidades ao se dirigir ao eleitorado. Ambos precisam apenas pesar o risco de serem expostos na divulgação de propaganda enganosa, mas consumidor e eleitor já esperam certa dose de injustificável autopromoção. É verdade que empresas jornalísticas também têm de vender seu produto, como um jornal, um site ou um programa de rádio/TV. Mas jornalista algum deveria ter de vender a informação em si. Esta deveria ser apresentada de forma equilibrada, proporcional, sob uma perspectiva ampla e com a apresentação de todos os seus lados relevantes. Qualquer exagero na oferta da informação pode abalar a confiança do receptor no mensageiro.

Na cobertura da atual campanha presidencial brasileira tem havido exageros de todas as partes. Alguns profissionais da imprensa, convencidos de que o país ganharia com o fim do comando petista no Planalto, alertam para uma espécie de apocalipse caso Dilma Rousseff vença a disputa, como indicam até agora as pesquisas de opinião. Outros, convencidos da necessidade de se dar continuidade ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, preveem o desaparecimento de tudo que ocorreu de bom no país nos últimos anos caso José Serra vire o jogo na reta final. Tal apresentação desproporcional das informações, ou seja, da realidade deveria estar confinada ao horário eleitoral gratuito, onde fatos e ficção costumam caminhar lado a lado.

A ´óÏó´«Ã½ Brasil acredita na importância de uma discussão sensata e pluralista sobre a realidade brasileira, fugindo dos superlativos muitas vezes encontrados na cobertura da atual campanha eleitoral. Por isso, em parceria com a rádio CBN, reunirá especialistas em São Paulo para discutir o que deveria estar sempre na mente de eleitores e candidatos: o futuro do Brasil. A partir do próximo dia 13, em três debates abordando a economia, a educação e a relação do Brasil com o resto do mundo, incluindo o tema do meio ambiente, ´óÏó´«Ã½ e CBN pretendem olhar com seriedade, objetividade e equilíbrio para muitas das questões que estarão em jogo durante e além do próximo mandato presidencial. Afinal, o momento decisivo por que passa o país ajudará a moldar o Brasil das próximas gerações. Contamos com a participação do nosso público no evento, cujas conclusões, opiniões, perspectivas e contradições estarão depois publicadas aqui no nosso site. De preferência, sem exageros.

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