De novo, os imigrantes
A lista da revista americana Time com as trouxe uma nova lÃder na qual poucos apostavam até recentemente. Seu avanço no cÃrculo polÃtico, após a saÃda de cena do seu mentor e padrinho, foi uma das grandes novidades recentes na disputa pelo poder em seu paÃs. Não estou falando da presidente Dilma Rousseff, também incluÃda pela Time na relação e cuja estrela só faz subir, apesar dos enormes desafios do Brasil. Eu me refiro à , cuja ascensão entre os eleitores na França é sinal dos tempos. Surfando na onda da crise econômica que continua afligindo o Velho Continente, um novo movimento anti-imigração ganha força entre lÃderes nacionais e apoio nas urnas ou pesquisas de opinião.
Os premiês da França e da Itália, depois de uma breve crise diplomática envolvendo imigrantes vindos da TunÃsia, resolveram se aliar para combater o problema. Nicolas Sarkozy e Silvio Berlusconi apareceram nesta semana lado a lado para exigir da União Europeia uma revisão do acordo, nascido nos anos 80, que permite o livre trânsito dentro do bloco. É mais um baque para o espÃrito da UE, cujos principais pilares são a moeda única (abalada pelas crises na Grécia, na Irlanda e em Portugal) e a ausência de checagem de documentos nas fronteiras internas (com exceção das ilhas Grã-Bretanha e Irlanda). Desde a chegada de dezenas de milhares de refugiados das crises polÃticas no mundo árabe, a preocupação com a imigração aumentou, e as lideranças nacionais sentem-se pressionadas a fazer algo a respeito. Na cabeça de Sarkozy, particularmente, está o nome de Marine Le Pen. A filha de Jean-Marie Le Pen herdou do pai o comando do partido de extrema-direita francês e vem tentando torná-lo uma opção viável nas urnas. Uma pesquisa recente trouxe Marine na liderança da disputa presidencial, um ano antes das próximas eleições, com o apoio de 23% dos ouvidos. Foi o suficiente para preocupar Sarkozy, que deverá tentar a reeleição, e colocá-la na lista de influentes da Time.
O apoio a polÃticos que exploram o medo da população local de perder o emprego para trabalhadores estrangeiros não se restringe à França. Vários paÃses europeus registraram nos últimos anos um crescimento dessa tendência, como a Finlândia, onde a extrema-direita quadruplicou seus votos entre 2007 e 2011, chegando a 20% do total no pleito realizado em março. Além disso, a preocupação geral com a imigração (ou com os fantasmas criados em torno do fenômeno) tem forçado polÃticos mais ao centro a ajustar seus discursos. O atual lÃder dos trabalhistas na Grã-Bretanha, Ed Milliband, disse dias atrás que o seu partido, quando no governo, subestimou o impacto da imigração na disputa por empregos e moradia no paÃs. O atual primeiro-ministro, o conservador David Cameron, foi além: comprometeu-se com mais restrições contra aquilo que chamou de "imigração em massa".
A atração exercida por muitos anos pelo continente europeu sobre aspirantes a bons empregos e bons serviços sociais tem diminuÃdo desde a eclosão da crise econômica, em 2008. Nações como Irlanda e Portugal, que por muitos anos atraÃram trabalhadores de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, começam a voltar à caracterÃstica que tiveram no passado, de exportadores de mão-de-obra. Portugueses céticos diante das atuais dificuldades começam a deixar o paÃs, numa onda migratória que tem como um dos destinos o Brasil. Já os brasileiros em geral começam a se acostumar, cada vez mais, com a presença de latino-americanos, europeus ou americanos no mercado de trabalho, já que o crescimento econômico tem atraÃdo profissionais, qualificados ou não, de outras nações. O Brasil, cuja sociedade é majoritariamente composta por imigrantes (os Ãndios são os únicos que estão no paÃs há mais de 500 anos), perdeu cidadãos durante décadas, mas volta a receber estrangeiros entusiasmados com seu potencial. Qual será a atitude do paÃs diante desse interesse? Parte dos europeus acredita não poder mais manter suas portas abertas, levando lÃderes a jogar com as cartas da xenofobia. No Brasil, a disposição de lidar com o diferente também será aos poucos testada, pelo menos enquanto o paÃs for visto como fonte de prosperidade em um mundo imerso na incerteza econômica.