A for莽a dos chefs
Os chefs est茫o com tudo e n茫o est茫o prosa. N茫o contentes em ensinar-nos a cozinhar e em viajar por a铆 desvendando segredos da culin谩ria, eles cada vez mais se aventuram em ambiciosas campanhas para mudar h谩bitos sociais ou mesmo leis.
Pelo menos aqui, na Gr茫-Bretanha. Jamie Oliver foi pioneiro nisso, com a s茅rie de TV em 2005 que provocou um grande debate na m铆dia brit芒nica sobre alimenta莽茫o nas escolas e acabou causando uma revolu莽茫o nas cantinas.
Agora foi a vez de Hugh Fearnley-Whittingstal, que foi mat茅ria de capa no Independent em novembro passado quando lan莽ou uma campanha, (Luta de Peixe), 听para tentar inibir a pr谩tica dos discards (descartes) na ind煤stria pesqueira.
A campanha visa conscientizar o consumidor brit芒nico de que mais da metade dos peixes capturados no Mar do Norte s茫o devolvidos mortos ao mar. A raz茫o aparentemente est谩 em regras de pesca da Uni茫o Europ茅ia, que pro铆bem barcos pesqueiros de descarregar determinadas esp茅cies, o que os obriga a jog谩-los de volta ao mar.
Os pescadores n茫o tem controle sobre o que pescam, e o problema 茅 que s贸 parte do que cai na rede serve para o com茅rcio 鈥撎 pelo menos 茅 o que a ind煤stria pesqueira diz.
Fearnley-Whittingstal diz que estamos diante de um desperd铆cio insano de milhares de toneladas de peixes, crust谩ceos e outras criaturas marinhas que poderiam tranquilamente ser aproveitadas.
A听campanha age em duas frentes. Uma recolhe assinaturas em um abaixo-assinado que ser谩 encaminhado 脿 Comiss茫o de Assuntos Mar铆timos e Pesca da Uni茫o Europeia, fazendo sugest玫es e pedindo mudan莽as nas regras pesqueiras do bloco.
No momento em que este post foi publicado,听a campanha reunia mais de 625 mil assinaturas.
A outra frente invadiu nossas TVs brit芒nicas como uma blitzkrieg nas primeiras semanas de janeiro.
Com a ajuda de colegas como Gordon Ramsey, Heston Blumenthal, Jamie Oliver e outros superchefs, Fearnley-Whittingstal comandou uma s茅rie de programas mostrando receitas e incentivando o p煤blico consumidor a substituir as esp茅cies mais manjadas (e amea莽adas) como bacalhau, haddock e atum por outras听das quais h谩 fartura nos mares da regi茫o - e que seriam injustamente subapreciadas, coisas como dab (esp茅cie de linguado), cavalinha, sardinhas, coley (da fam铆lia do bacalhau),听whiting, sprats (tipos de arenque),听pouting (conhecido em Portugal como faneca), gurnard, mariscos e caranguejos.
Quem mora aqui e compra peixe sabe do que estou falando. Ingl锚s gosta mesmo de tr锚s ou quatro tipos de peixe e n茫o d谩 bola para o resto. Jamie Oliver contou que mais de 70% dos alimentos marinhos consumidos no pa铆s s茫o importados 鈥 e que mais de 70% do pescado capturado no pa铆s 茅 exportado, em especial para pa铆ses vizinhos como Espanha e Fran莽a. Ou seja, eles gostam do que n茫o pescam e n茫o gostam do que pescam.
Na semana que se seguiu 脿 blitzkrieg dos chefs, choveram mat茅rias nos jornais dizendo que as vendas de peixe aumentaram drasticamente (o Mark & Spencer disse quer foi a semana de maior venda de peixes na sua historia), assim como a procura generalizada pelos tipos e esp茅cies promovidos nos programas 鈥 o que d谩 um a id茅ia do mencionado poder听dos chefs.
Pessoalmente, acho que o segredo disso est谩 na credibilidade. O p煤blico gosta deles, sabe que entendem do assunto e acredita que sua motiva莽茫o em campanhas como essa 茅 positiva e sincera.
Eu parei de me surpreender com a for莽a dos mestres-cucas, que 茅听de dar muita inveja a pol铆ticos. Mas ainda acho que se trata de听um fen么meno essencialmente brit芒nico.听