Ciência, clima e opinião pública
Andei escrevendo aqui sobre o embate entre o IPCC e os céticos, e alguns leitores comentaram achar que o chamado consenso cientÃfico é "alarmista". Coincidentemente, saiu nos Estados Unidos uma pesquisa de opinião justamente sobre isso.
Os indicam que mais de 40% dos americanos acham que a preocupação sobre as mudanças climáticas é exagerada - a mais alta porcentagem em dez anos de pesquisa.
Por outro lado, mais de 2 mil cientistas de alguns dos mais respeitados centros de pesquisa do planeta passaram três dias em Copenhague, na Dinamarca, avaliando os estudos mais recentes sobre o assunto, e lançaram um alerta: as previsões mais pessimistas do IPCC já estão se transformando em realidade.
Entre elas, um novo estudo do conceituado Hadley Centre, aqui de Londres, que prevê a destruição de 85% da Floresta Amazônica em 100 anos se a temperatura média global subir 4 graus, como previsto em um dos cenários do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas.
Me pergunto por que os cientistas parecem cada vez mais convencidos da gravidade do problema, enquanto a opinião pública parece estar ficando mais cética.
O que você acha?
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
Sr. Éric,
antes de me situar do lado dos céticos, gostaria de afirmar que sou contra desmatamentos, poluições e degradação do ambiente em geral.Moro no Rio e tenho 53 anos; quando criança o dentista da famÃlia tinha consultório em Niterói e quando meu pai me levava ficava observando os golfinhos brincando ao redor da barca em uma água de azul cristalino. Muito pouco tempo se passou para ver o estado calamitoso que a baÃa de Guanabara se encontra. Vejo isso e outros exemplos, mas com a certeza de que tudo é reversÃvel. Acompanhei de perto a construção e a entrada de operação de uma estação de tratamento de esgoto em Arraial do Cabo, e và de perto os resultados impressionantes de recuperação da Praia dos Anjos que antes estava aos nÃveis da BaÃa de Guanabara de hoje. A natureza só precisa de uma ajuda.
No caso das mudanças climáticas, não sei se o alarmismo exagerado é para chamar mais atenção ao problema. A EMBRAPA fez testes em laboratório com cana de açucar em um ambiente isolado com nÃveis de temperatura e CO2 mais altos, simulando o "futuro", e para surpresa a planta cresceu mais rápido e ficou maior do que em atmosfera normal. Por que a Amazônia iria desaparecer?
Outro aspecto esquisito é falar sobre "temperatura média global", segundo Dr. Bjarne Andresen, da Universidade de Copenhague, falar de temperatura média global beira o absurdo.E vejo artigos como esse:"o pesquisador brasileiro Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também apontou inconsistências nas conclusões sobre as mudanças climáticas. Segundo ele, a Antártica não está derretendo e aquele continente contribui minimamente para o aumento no volume dos oceanos observado nos últimos anos."
Em sintese, a cada dia que abro o noticiário o futuro parece mais sombrio, e fica claro que como os meios de comunicação tendem a gostar de noticiar tragédias, veremos muito mais.
A grande massa da opinião pública está vinculada ao que é repassado a ela pelos grandes centros de mÃdia. Como a maior parte está interessada em se manter "entreetida" com estes, ao invés de fazer algo para colaborar com o sistema, utilizam-se do lema "pessoas simples precisam de respostas simples" e não se avaliam com a opinião de cientistas, no fundo são céticos ao que a ciência comprova.
acho que os estadunidenses agem como avestruzes.não querem mudar nada no seu modo de vida.mas que vão sofrer as consequências,isso é certeza.
Caro Eric,
talvez pela nossa capacidade de adaptação. Mas tem aquela regrinha de ouro, a desgraça do vizinho ou mais distante, nem sempre incomoda. Creio que a imprensa tem um grande papel nesta descrença de parte significativa da opinião pública. Ao mesmo tempo em que apresenta manchetes sobre os efeitos e previsões relativas à ²õ mudanças climáticas, a imprensa está permanentemente a bombar os "grandes" acontecimentos e investimentos econômicos, e a cultuar um modo de vida e padrões de consumo, que ajudam a promover os danos ambientais difusos. os mil laços de dependências entre empresas e governos, todos anunciantes, não nos proporcionam a menor esperança de reversão do processo catastrófico. Vide a Amazônia, vide a forma maluca com que se está lidando com as águas subterrâneas, vide a pavimentação/impermeabilização de vastas regiões, vide a produção de matérias não degradáveis, inutilizadas em poucos minutos por bilhões de pessoas.
Os cientistas anseiam uma mudança no hábito de consumo mundial, fontes energéticas "limpas" e renováveis e uma mudança de postura dos polÃticos e da população em geral em relação à natureza. Acredito que, se nada for feito, se todos continuarmos no mesmo pé em que estamos hoje, a situação se complicará cada vez mais. Porém, não acredito que ficaremos de braços cruzados frente ao problema. A história da humanidade nos dá certa segurança em relação a isso. Soluções inesperadas surgem em momentos de crise. Além disso, as previsões dos cientistas ignoram a incrÃvel capacidade de recuperação da natureza, como o caso que Murilo citou logo acima, além do ciclo natural de transformações de ecossistemas. Por exemplo, como provar que a desertificação no Rio Grande do Sul é única e exclusivamente causada pela ação antrópica?
Acredito que boa parte destes "céticos populares" levam em conta esse tipo de coisa.
Não ignoro que a ação antrópica tem aumentado a intensidade do efeito estufa. Porém, acredito em mudanças num futuro próximo. A preocupação com o meio ambiente por parte dos polÃticos tem aumentado nas últimas décadas, e mudanças são sempre graduais.
Certa vez quando questionado quanto à superprodução de petróleo e sua escassez no planeta o magnata do petróleo respondeu, a idade da pedra não acabou por falta de pedra... Hoje estou convicto, a era do petróleo está acabando e não por falta de petróleo, más, pela sobrevivência do planeta. Fontes renováveis de energia existem em quantidade suficiente para atender milhares de vezes a necessidade do mundo. Os baixos custos do petróleo e do carvão inviabilizam economicamente o uso destas alternativas, quando desconsiderado o custo do reparo aos danos catastróficos causados ao planeta. O investimento maciço no desenvolvimento tecnológico da energia eólica, energia das ondas, energia solar, energia geotérmica, etc. tornarão acessÃveis o uso destas fontes em curto prazo. O planeta devolverá aos terráqueos melhores condições de vida e prosperidade, enquanto outras ameaças não agravarem seu estado de saúde.
Prezados Murilo, Anderson e Gustavo
Obrigado pelos comentários. Vocês tocaram em alguns pontos interessantes, que tento resumir abaixo:
1. De fato, o estudo das alterações do clima não proporciona conclusões indiscutÃveis nem respostas simples. Foi exatamente isso que levou à criação do IPCC em 1988. As mudanças climáticas são fenômenos observados não apenas por uma disciplina cientÃfica, mas por várias. Decorre daà também o perigo da análise de pesquisas isoladas, que podem levar a conclusões diametralmente opostas.
Além disso, existem enormes lacunas no conhecimento cientÃfico sobre o clima do planeta, principalmente no que diz respeito à épocas menos remotas - o estudo de camadas geológicas milenares fornece dados sobre centenas de milhares de anos atrás - e registros humanos começaram muito recentemente...
Mesmo assim, milhares de cientistas de todo o mundo conseguiram chegar a um consenso - ainda que o processo para isso seja tão lento, que na prática transforma os relatórios do IPCC em "peças de museu" antes mesmo de serem publicados.
Sempre existirão cientistas que divergem deste consenso, como aconteceu em 2007 com o citado Bjarne Andresen, do Instituto Niels Bohr de Copenhague. No caso da "temperatura média global", é bom lembrar que o conceito foi aceito pelos especialistas do IPCC.
2. O acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera provavelmente vai causar transformações climáticas que podem alterar o funcionamento do planeta no próximo século. Muito poucos cientistas duvidam disso atualmente.
3. Poucos duvidam também que a atividade humana se transformou em um importante fator de contribuição para a produção de gases do efeito estufa (que sempre foram produzidos pela natureza), o que evidentemente desequilibra a situação existente antes da Revolução Industrial. Fica a discussão de como lidar com isso. Esperar para ver como a natureza vai se recuperar? Ou agir?
4. Por último, lembro que atravessamos não só uma crise econômica mundial, mas uma crise de energia. Para o mundo voltar a crescer, são necessárias respostas à ²õ perguntas sobre como vamos financiar o crescimento e sobre como vamos alimentá-lo.
Carvão (veja post anterior)? Energia nuclear? Petróleo? Energias renováveis? Já estamos sendo forçados a repensar os modos de crescimento "tradicionais", a questão é: que caminho vamos seguir agora?
´¡²ú°ù²¹Ã§´Ç²õ.
Caro Eric:
Em uma época em que se transformou jogadores de futebol, modelos e até mesmo frequentadores de big-brother em herois, os cientistas perderam muito do antigo prestÃgio e credibilidade. Por outro lado, respeitar a opinião dos mesmos e tentar frear o aquecimento global significa mudar de vida, alterar a indústria, alterar o perfil de consumo, remodelar o mundo, o que não é, de fato, lá muito fácil
Olha o que vc escreveu:
"Entre elas, um novo estudo do conceituado Hadley Centre, aqui de Londres, que prevê a destruição de 85% da Floresta Amazônica em 100 anos se a temperatura média global subir 4 graus, como previsto em um dos cenários do Painel".
-Cara, temperatura média global já está mais do que provado que isso é medida de doido, é o mesmo que a média aritimetica dos numeros da lista telefonica.
Desculpe-me mas as informações são diversas demais para o meu entendimento.
Caro Eric
Na minha opinião, a resposta para sua pergunta está no fato de que está cada vez mais complicado ver as catástrofes iminentes que os cientistas anunciam. Por iminentes, parecem sempre ser em 10, 20, 30, 50, 100 anos, o que, em tempo geológico, que costuma ser o usado para mudanças de climas, são piscares de olhos, são também uma vida inteira. O ceticismo nasce facilmente quando toda semana anuncia-se uma catástrofe, e a vida segue como sempre. Os cientistas da área estão parecendo os religiosos messiânicos, que toda semana anunciam o fim do mundo. Não quero aqui desacreditar estes cientistas, porque não sou especialista da área e não tenho motivos para não acreditar, mas acho que o ceticismo cresce não por erro dos cientistas, mas dos Relações Públicas destes institutos. Porque um esforço imenso para falar da incompetência do governo Bush em ajudar as vÃtimas de New Orleans, mas um esforço menor para ligar Katrina aos maus hábitos humanos?
Lobby das empresas petroliferas. Os Estados Unidos é o maior consumidor de petroleo do mundo e consequentemente é onde existem os maiores gastos em lobby contra o aquecimento global.
Pra mim é simples: enquanto não for possÃvel sentir de forma mais contundente os efeitos das mudanças climáticas, os cientistas continuarão meio que falando sozinhos.
Não adianta, é assim que a humanidade funciona. Foi (e é) assim com epidemias e foi assim com qualquer outro tipo de coisa ruim. Enquanto a tragédia não bate pelo menos na porta do vizinho, ninguém acredita que ela exista.
Não faria o menor sentido sermos alarmados pela mesma mÃdia que nos diz a cada dia para consumir mais e mais,a mesma que transforma tudo em descartável, se não houvesse mÃnima verdade.Basta apenas olhar o ambiente ao nosso redor que todos os problemas e falhas de conduta e de sistema saltam aos nossos olhos, não são precisos 2 mil cientistas que afirmem o mesmo; todavia se afirmam, acho que isso deve ser levado em conta... . Mas em algo concordo: o ser humano gosta de tragédia.Isso vende, dá audiência. Talvez não façam nada por que há sempre o pensamento de que a tragégia não passará do quintal do vizinho, e, se os afetar, apenas viverão mocinhos de um filme-catástrofe de hollywood.
Mas o assunto nesses termos infelizmente já não é mais discutÃvel...O tempo de rever condutas está se esgotando...
O ceticismo da população se deve, a meu ver, a falta de consenso nas informações divulgadas pelos governos. O capitalismo desmente as teorias cientÃficas que ameaçam a sua continuidade, censura relatórios, desculpa-se, modifica resultados a seu bel prazer. Resultado: informações difusas, inconsistentes e falhas, com o ceticismo por arremate porque não resta outra conclusão de foro Ãntimo a ser tomada. Se houvesse menos interesses comerciais e mais consenso em torno dos riscos da destruição do planeta e suas consequências, as informações seriam mais crÃveis e as ações mais exatas.
Arthur Schopenhauer já constatara e , há 200 anos , assinalou : "A razão, geralmente, está a 180 graus da opinião da plebe."
A opinião de uma maioria desqualificada, muitas vezes deve ser simplesmente ignorada, desprezada. O problema é que vive-se hoja na hipocrisia do politicamente correto. Verdades são mascaradas para não ofender uma maioria medÃocre e iletrada.
Veja-se, a exemplo , a classe média norte americana, há maior exemplo de alienação.?? ....
Eu gostaria de saber porque algumas pessoas inclusive professores de falculdades dizem que o aquecimento global é uma grande mentira...
? =/