As lições do IPCC
A poeira do "Climategate" ainda nem bem tinha baixado, quando surgiram novas acusações sobre a falta de rigor cientÃfico do IPCC, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas - as previsões supostamente erradas iam do desaparecimento de geleiras do Himalaia à "descoberta" de que a Amazônia é mais resistente ao aquecimento global, passando por mais de metade da Holanda debaixo d'água.
No meio da tempestade, nesta quinta-feira, a coordenação do IPCC anunciou a escolha dos 3 mil especialistas que serão responsáveis pela elaboração do 5º relatório do painel, que deve sair entre 2013 e 2015. É o inÃcio do processo que levará a um documento como o que foi publicado em 2007, com uma avaliação de toda a produção cientÃfica recente relevante à mudança climática.
Destes 3 mil especialistas, entre 600 e 700 serão convidados, provavelmente até o fim de maio, para coordenar os grupos temáticos e dar inÃcio aos exaustivos trabalhos de revisão.
Espera-se que desta vez não aconteçam erros. Por outro lado, é bom não se esquecer de que sempre existirão grupos interessados - de tendências até opostas - em explorar as conclusões do IPCC.
O 4º relatório do IPCC, de 2007, com sua conclusão de que o aquecimento do planeta é "muito provavelmente" provocado pela atividade humana, virou bandeira de organizações ambientais durante anos.
Erros e acertos
Com as dúvidas levantadas pelo "Climategate" - os polêmicos emails entre cientistas do ramo hackeados da universidade britânica de East Anglia -, a maré começou a virar e os chamados "céticos" partiram para o ataque.
Entre as alegações, algumas se comprovaram erros genuÃnos como a afirmação de que a Holanda tem 55% do seu território abaixo do nÃvel do mar, baseada em uma informação errada do próprio governo holandês e devidamente corrigida. Na realidade, 55% do paÃs corre risco de inundações, mas apenas 26% está sob o nÃvel do mar.
O desaparecimento de 80% das geleiras do Himalaia também se comprovou um erro, já que tinha sido baseada em uma entrevista com um cientista, e não em um trabalho publicado e revisado por outros cientistas.
No Brasil, chamou mais a atenção a recente alegação de que a previsão do IPCC de que até 40% da Floresta Amazônica poderia desaparecer por causa das mudanças climáticas. Uma reportagem levantou a acusação de que essa conclusão teria sido baseada em um levantamento não cientÃfico feito pela organização ambientalista WWF.
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De fato, os autores do IPCC não citaram a fonte correta, mas o tal documento do WWF era baseado em estudos do professor Daniel Nepstad, que confirmou as informações em estudos posteriores também. Ou seja, o IPCC não teria errado.
Que lições tirar dessa polêmica?
Primeiro, que existem falhas no processo de revisão do IPCC, que podem e devem ser corrigidas. Segundo, que qualquer processo deste porte esta sujeito a erro, mas eles precisam ser rapidamente admitidos e corrigidos, uma vez identificados.
Por este motivo, a ONU determinou uma revisão dos métodos usados no processo.
O chefe do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, também deve ter tirado as suas próprias conclusões disso tudo. Ele teve a cabeça pedida pelos ativistas do Greenpeace e resistiu a pressões fortes. O próprio diretor do programa de Meio Ambiente da ONU, Achim Steiner, afirmou que o IPCC atravessa "uma crise de credibilidade".
Crise que não deve passar despercebida pelos 3 mil cientistas convocados na quinta-feira. Para o resto de nós mortais, resta a esperança de que o trabalho do IPCC seja feito da forma mais crÃtica - cética no sentido literal da palavra - para que as decisões de nossos governantes possam ser baseadas em algo próximo da realidade do nosso planeta.
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
Uma vez listados os "erros", poderemos descobrir quais os verdadeiros critérios polÃticos responsáveis por tanta afirmação sem base cientÃfica. Aqui no Brasil não foram errôneas apenas as previsões acerca das transformações climáticas na Amazônia, foram lamentáveis também as abnegações à ²õ análises de nossos cientistas e laboratórios.