O 'P' problema da questão climática
A urbanização é apontada como fator de aumento de emissão de gases que provocam o efeito estufa
A estimativa é de que bateremos os 9 bilhões de habitantes no planeta até 2050, mesmo assim, nenhum grupo de trabalho da Convenção da ONU para Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) discute o assunto.
Há quem diga que cientificamente a questão não é relevante, mas talvez o maior obstáculo para discussão seja a possibilidade de detonar um barril de pólvora político: controle de natalidade, diferença nos níveis de natalidade em diferentes grupos étnicos, culturais ou religiosos e direito a liberdades individuais.
Fácil descambar para a discussão apaixonada, em detrimento da razão.
Menos gente, menos emissões?
Voltando ao estudo, a equipe do Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos liderada por Brian O'Neil, um dos maiores especialistas na relação população/emissões, a descoberta é que uma redução apenas moderada do crescimento populacional até 2050 poderia levar a cortes de 16% a 29% nas emissões necessárias para se evitar mudanças climáticas consideradas perigosas.
Estudos como o de O'Neil vão contra a premissa de grande parte da comunidade científica de que a população não é uma variável tão importante para as mudanças climáticas. Em linhas gerais, o argumento é que medidas de redução da natalidade não levariam a grandes mudanças nas regiões em que a população mais cresce. E mesmo se levasse, como essas regiões costumam estar perto das áreas mais pobres do mundo, o efeito sobre as emissões geradas pela atividade econômica seria indiferente.
O'Neil e sua equipe, por outro lado, argumentam que se nascessem 1,5 bilhão de pessoas a menos que o estimado entre 2000 e 2050, o mundo cortaria até 1,4 gigatoneladas de emissões de gás carbônico, ou seja, mais de 16% por cento do total atual. O envelhecimento da população, diz o estudo, também pode reduzir as emissões em até 20%, mas aumentos das áreas urbanas - que levam a maiores emissões, segundo os pesquisadores - zerariam estes ganhos.
Se mesmo sem se falar em população, já está difícil encontrar um meio termo para a comunidade internacional traçar uma estratégia que limite futuras emissões, será que vale a pena tocar no 'p' da questão? Por outro lado, se os ganhos podem ser tão significativos como indica o estudo de O'Neil, e praticamente sem a necessidade de enormes investimentos, não seria irresponsável ignorar esta variável?