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Futebol e cerveja, o casamento perfeito, n茫o?

N茫o, n茫o e n茫o.

Depois de dez anos morando fora do Brasil (nove deles em Londres, terra de piratas e pingu莽os, entre outros), passei a desconfiar da integridade dessa combina莽茫o, t茫o cantada em verso, prosa e comerciais. Na verdade, agora que voltei ao Brasil, quero dist芒ncia dela. Pelo menos por enquanto.

Tudo porque fui, por anos (dois), um ativista contra a TV. O per铆odo em que vivi sem uma foi, de longe, o mais rico do meu ex铆lio na Inglaterra. E fazia campanha para que todos descobrissem as benesses mais preciosas de Londres, com seus eventos, pessoas e surpresas que s贸 s茫o descobertas quando voc锚 abdica da telinha, mexe as n谩degas e vai encarar o frio l谩 fora.

Mas o tempo passa, a gente se acomoda e capitulei: passei a assistir TV, at茅 exaltando o padr茫o de qualidade brit芒nico embora talvez para preservar um resto de dignidade irracional, ou economizar uns trocados, nunca tenha cogitado assinar um pacote de televis茫o.

A铆 茅 que est谩 o problema. Quase n茫o passa futebol na TV aberta. Assistir no est谩dio 茅 coisa para vendedor de cachorro quente ou torcedor dedicad铆ssimo, daqueles que compram ingressos car铆ssimos com anteced锚ncia anti-brasileira.
Te sobra ent茫o ir ao pub. E no come莽o era uma alegria.

Sempre tinha a desculpa perfeita para ir beber cerveja, afinal todos sabem que os jogos imperd铆veis aparecem regularmente nas nossas vidas e nos bares, a gente costuma ir com os amigos. Os jogos, portanto, acabam se tornando celebra莽玫es et铆licas memor谩veis.

Lembro bem onde estava em momentos cruciais, como quando paquerava uma alem茫 em Dulwich enquanto Steve Macmanaman e Raul despachavam o Valencia na final da Liga dos Campe玫es em 2000. Ou quando, na final do mesmo torneio, cinco anos depois, estava com dois amigos em um bar e nos divertimos vendo os torcedores do Liverpool que sentavam ao lado.

De quase suicidas por apanharem de 3 a zero ao final do primeiro tempo, eles se tornaram gradualmente mais assombrados com a rea莽茫o imposs铆vel do time e acabaram por subir nas cadeiras e comemorar incontrol谩veis um t铆tulo extra铆do do ba煤 do sobrenatural. Ou ver um pub inteiro, com muitos casais frescos de classe m茅dia, parar em uma noite de s谩bado para ver Ronaldinho roubar o show em Madrid em uma noite hist贸rica.

Tudo isso foi legal, mas o problema 茅 perceber que, na minha mem贸ria, estes momentos importantes se diluem em uma n茅voa inc么moda. A parte de mim que acredita ser minha voca莽茫o arquivar mentalmente os Grandes Momentos do Futebol, se ressente de v谩rios primeiros tempos da 煤ltima d茅cada me serem muito mais n铆tidos do que os segundos. Isso sem mencionar quando a empolga莽茫o 茅 tanta e eu sou obrigado a assistir o VT inteiro do jogo depois, como quando o Brasil ganhou da Alemanha, no final de 2002.

E tudo que 茅 obriga莽茫o, enche. Nos 煤ltimos anos, j谩 tinha saudade da sensa莽茫o de ver a bola rolando com meus reflexos intactos. E olha que o ambiente conspira contra.

No simp谩tico bar nigeriano ao lado da minha ex-casa, chegaram a se negar a me vender um refrigerante. Fui ent茫o obrigado a comprar uma cerveja e v锚-la esquentar, abandonada 脿 minha frente, s贸 para ter o privil茅gio de sentar e ver um jogo (de quinta) do Arsenal. Coisas assim irritam muito a pessoa.

Tanto que, agora de volta ao Brasil, onde o futebol 茅 f谩cil e abunda, tanto na TV como 茅 poss铆vel decidir ir ao est谩dio no 煤ltimo momento, ainda n茫o tomei nenhuma cerveja durante um jogo de bola.

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