Racismo no futebol sul-africano?
Existe um limite para o volume de som que uma torcida pode produzir dentro de um est谩dio. Os quase 50 mil torcedores que neste domingo foram ao Ellis Park de Joanesburgo para ver a partida de estreia da Copa das Confedera莽玫es entre 脕frica do Sul e Iraque pareciam n茫o saber disso.
Eles se esfor莽avam para ampliar as possibilidades sonoras dos cornet玫es, fazendo-os rasgar o ar, misturando seu som com o dos gritos e cantos, embalados por tambores de graves imensos que faziam tremer o ch茫o. 
E aplaudiam. Sem parar.
A torcida vibrava com a menor dividida, a bola defendida ou qualquer tentativa de ataque, por mais enfadonha que fosse. Vibrava e dava for莽a a tudo e a todos. Menos para Matthew Booth.
Toda vez que o (neste jogo muito competente) zagueiro alto, branco e careca tocava na bola, se escutava um 'buuuuu' rasante que parecia jogar momentaneamente 谩gua gelada na fervura que foi o Ellis Park neste domingo.
Um contraste sonoro muito maior do que quando a oposi莽茫o iraquiana, fosse ela sunita, xiita ou curda, ensaiava algum perigo.
Ou quando qualquer outro Bafana Bafana furava pifiamente ou enviava um daqueles passes laterais infantis que permitem contra-ataque.
O fato de ele ser o 煤nico branco do time - e a铆 pense em branco total, uma esp茅cie de cover do vocalista do Midnight Oil, e ter levado o tratamento do "buuuuu" logo na primeira vez que tocou na bola, me fez pensar em racismo.
Ainda no primeiro tempo, pesquisando na internet, descobri que Booth havia declarado, em 2003, que "existe racismo na minha 脕frica do Sul, na Inglaterra e em muitos outros pa铆ses. Ele precisa ser combatido". A declara莽茫o foi feita quando ele participou de um amistoso internacional contra a discrimina莽茫o racial.
No intervalo do jogo, pesquisei mais e vi que ele foi um dos nomes mais discutidos entre os convocados por Joel Santana.
O motivo 茅 que o quarto-zagueiro, aos 32 anos e uma d茅cada de sele莽茫o nacional, seria lento demais.
Ante a indignada imprensa local, Joel teve que justificar sua sele莽茫o, em detrimento do que 茅 considerado um melhor defensor, Nasief Morris, do Recreativo Huelva da Espanha, pelo fato de Booth ser alto. 'A maior fraqueza defensiva da 脕frica do Sul s茫o as bolas a茅reas', disse o treinador brasileiro para os jornalistas do pa铆s.
Mas curiosamente, falando com colegas da imprensa local ainda no intervalo, ouvi a explica莽茫o de que o pr贸prio nome do rapaz, quando dito de forma alongada (Booooooooth), seria uma onomatop茅ia de vaia (soa como um longo 'Buuuu'). E que esta inusitada forma de reconhecimento seria, de fato, um incentivo carinhoso ao jogador.
Precisei escutar isso de pelo menos quatro sul-africanos para ficar convencido.
Porque um pa铆s com uma recente e complexa bagagem hist贸rica de racismo, como 茅 a 脕frica do Sul, n茫o pode ser deixada em paz para saudar um 铆dolo com uma vaia disfar莽ada, sem que quest玫es sociol贸gicas sejam levantadas quando o 铆dolo calha de ser o 煤nico branco do time.
Armadilhas interessantes desse futebol globalizado, cuja compreens茫o 脿蝉 vezes trope莽a em curiosas brincadeiras locais.
Quanto ao jogo em si, um impotente 0 x 0, destaque para o tremendo, inesquec铆vel e hist贸rico azar do atacante Bernand Parker que, em um lance de rara plasticidade anat么mica, conseguiu evitar um gol do pr贸prio time usando o traseiro.
颁辞尘别苍迟谩谤颈辞蝉Deixe seu coment谩rio
Ser谩 que a popula莽茫o da 脕frica do Sul n茫o tirou sua li莽茫o depois de tantos anos de "apartheid"?
Quer dizer que a regra anti-racismo s贸 vale em via de m茫o 煤nica?
Espero sinceramente que a FIFA se pronuncie a respeito, exatamente como vem fazendo na Europa quando afro-descendentes s茫o v铆timas de racismo.
O futebol deve promover a integra莽茫o de todos, n茫o havendo espa莽o para preconceitos de origem, ra莽a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina莽茫o.
Muito bom o post, Rodrigo. Com tamanho hist贸rico de repress茫o e apartheid, 茅 de se imaginar que um jogador sofra esse tipo de discrimina莽茫o. Afinal, o preconceito n茫o escolhe lado. Espero que o "buuu" realmente seja uma forma elogiosa de trat谩-lo.
Acho que existe um misto de racismo e elogio nas palavras dos torcedores. Os gritos misturam vaias e ova莽玫es. Racismo n茫o termina e n贸s brasileiros sabemos disso.
Ser o 煤nico branco da equipe n茫o deve ser f谩cil e ficar sempre na d煤vida sem saber se est茫o discriminando ou incentivando 茅 duro. Quando ele fizer um gol 茅 que vamos saber realmente o que o torcedor est谩 sentindo. Nessa hora n茫o vai dar para esconder os sentimentos.
Calma, Marcus. Era realmente uma forma de incentivo. O Boooooth 茅 realmente 铆dolo da galera. No post, eu quis mostrar mesmo que a minha ignor芒ncia pode levar 脿 conclus玫es erradas. N茫o era racismo.
Como tem pessoas desinformadas e opinam sem saber os fatos, por isso que o Brasil 茅 o pa铆s da piada pronta e dos "cr铆ticos de plant茫o".
A torcida dos Bafana-Bafana n茫o vaia quando o zagueir茫o Matthew Booth toca na bola, simplismente o idolatram e gritam "Boooth" que parece realmente uma vaia, mas n茫o 茅 !
Procurem se informar antes de opinar e descer a lenha em um assunto.
Abs !