Futebol S.A.
Ao contrário do que supõe a badalação feita pela imprensa, ao meu ver o fim da novela Ronaldinho Gaúcho acabou expondo algumas curiosidades que revelam o atual estado do futebol brasileiro.
Seguindo a tendência iniciada pelo Corinthians com a contratação de Ronaldo, o Flamengo embarcou na onda do futebol-negócio e derrotou Palmeiras, Grêmio e o próprio Corinthians. Para a presidente do Flamengo, Patricia Amorim, a contratação do gaúcho "representa o futuro, o lançamento internacional do clube".
Retorno financeiro deve trazer, projeção da marca Flamengo também, mas tenho dúvidas quanto ao prometido sucesso no futebol.
Neste tipo de empreendimento, os clubes, com as finanças enfraquecidas por administrações incompetentes, recorrem a uma engenharia financeira sofisticada para viabilizar a contratação a peso de ouro de um jogador de potencial futebolístico duvidoso, mas com grandes credenciais de craque estabelecidas num passado distante.
Entra no jogo uma estrutura empresarial que garante suporte financeiro suficiente para o pagamento das multas de rescisão contratual e de salários milionários de dar inveja ao resto do time (muitos atletas destes clubes amargam atraso no recebimento de salário).
Diga-se de passagem que o esquema precisa de clubes de imensa torcida, com presença nacional, carente de ídolos, mas que por si só garanta um mercado consumidor de respeito.
Os empresários esperam (ou têm certeza, até porque empresário não enfia a mão em cumbuca vazia) tirar um alto retorno do capital investido, vendendo camisas com o nome do (ex-) craque estampado, ou vendendo qualquer produto endossado pelos (ex-)craques.
Para aumentar a popularidade dos ídolos junto à enormes torcidas, os marqueteiros contam com a participação da imprensa que na ânsia de sair com notícias em primeira mão acabam criando uma euforia de mercado propícia à exploração comercial em larga escala da associação das marcas Clube + Jogador, como se o jogador ainda tivesse capacidade de resolver.
O que não se divulga é que esses atletas estão na linha decadente da curva de desempenho, vivem mais da fama do que de atuações recentes. São bons garotos- propaganda, mas os grandes times do futebol brasileiro deveriam oferecer à fiéis torcidas craques autênticos, no auge de sua produtividade.
Desculpem o ceticismo. A festa da torcida é válida. Futebol tem esse lado festivo, movido em boa parte pela idolatria. Mas como diz o velho ditado, futebol é bola na rede. O que conta no final são os resultados. E aí nem sempre esse investimento dá o retorno esperado.
Escaldados pelo que viram com Ronaldo no Corinthians que nas poucas vezes em que entrou em campo em 2010 apresentou um volume abdominal que se por um lado aumentava o espaço reservado à publicidade por outro comprometia a mobilidade, a habilidade, o drible e a velocidade do (ex-) Fenômeno, alguns torcedores do Flamengo já começam a se perguntar se Ronaldinho Gaúcho vai mesmo fazer a diferença que promete.
Inegavelmente, ele fez coisas maravilhosas com a bola nos pés. Para mim, foi quem mais se assemelhou a Mané Garrincha, pelo futebol inspirado, inusitado, improvisado, de deboche, riso e técnica refinada. Um gênio da bola.
Mas já faz um bom tempo que só tem produzido lampejos do que foi, em jogadas que nem sempre se traduzem em algo realmente positivo. Aqui na Europa só o inexpressivo Blackburn Rovers da liga inglesa mostrou interesse em ter o (ex-) craque.
Pode ser que se empenhe como promete e faça a diferença. Mas, perto de completar 31 anos e disputando agora campeonatos em que a média de idade é bem baixa, o sucesso nos gramados não é assim tão garantido como a venda de camisas. Vamos esperar para ver.
Por enquanto vale a festa.
Mas, eu preferia ver meu time aplicando um dinheirão desses no desenvolvimento das equipes de base e que os administradores fossem capazes de segurar as pratas da casa sem ter que transformar os jovens craques em moeda para pagamento de salários que mais se assemelham a aposentadorias fabulosas.
Fico lembrando do juvenil do Flamengo do final da década de 60 que revelou Rodrigues Neto, Zequinha, Luis Carlos, Dionísio e Arílson, todos que vestiriam mais tarde a camisa da seleção brasileira em época de intensa competição com grandes craques.
Anos mais tarde, o chamado Ninho do Urubu produziu a geração de Zico, Geraldo, Júnior, Leandro, Adílio, Tita, Júlio César (Uri Geller) e Rondinelli. Em seguida vieram Zé Carlos, Aldair, Mozer, Leonardo, Jorginho, Zinho e Bebeto.
Nos anos 90 o Flamengo ainda gerou Marcelinho (depois chamado de Carioca) e logo depois o Imperador Adriano, mas sem investimento, a fonte vem secando e já faz tempo que não há um craque de peso que tenha sido produzido pelo Flamengo.
Será que é esse o futuro prometido pela presidente do clube que diz ter a maior torcida do mundo?
dzԳáDzDeixe seu comentário
maior traidor do futebol brasileiro em toda historia gloriosas: mostra o quanto de mercenarismo pode um ser humano ousar. foi criado no Gremio que deu a seu irmão Assis uma casa quando precisou, depois de juras saiu do clube traindo e 10 anos depois repete a dose.
não vai poder unca sair na rua em POrto Alegre... será que o dinheiro compra isso?
Concordo com o texto e acho que o flamengo está sim se preocupando com a estrutura do clube. E é claro que esse dinheirão deveria ser gasto em categoria de base, mas tem alguém pagando esse dinheirão, e ninguém dá R$ de graça concorda? Não que o investimento da categoria de base seria um desperdicio, mas não tem retorno tão rápido qaunto será o da contratação do gaúcho. E com relação a contratar jogadores consagrados e de custo milinário as últimas experiências tem sim dado retorno quando se fala em resultados, pois o ronaldo e robinho voltaram para o Brasil e trouxeram a copa do brasil para seus respectivos clubes, e o flamengo com Adriano ganhou o brasileiro... Vai ser difícil, o calendário brasileiro é cruel para os jogadores, mas se o gaúcho está focado para copa, tenho certeza que eu como flamenguista teriei grandes alegria com ele!
O governo deveria executar as dívidas que esses times tem com a união e cobrar que eles pagem o que devem de direitos trabalhistas, o Brasil é mesmo o país da festa e do futebol, acho que só aqui que times que devem tanto como o Flamengo, Corinthians e outros fazem contrataçõs dessas.
Combinação perfeita, diretoria incompetente, marqueteiros, imprensa sensacionalista, um craque decadente, e uma torcida carente, é muito triste ver o futebol brasileiro entregue a maracutaias deste tipo. O amor a camisa, ao clube é coisa do passado, o futebol mercenário venceu, o futebol “morreu”, viva o futebol brasileiro.
Faço minhas cada uma das suas palavras.
Espero que o Zico volte como presidente, implante uma ditadura, bote a corja toda fora e acabe com essa palhaçada que reina no Flamengo desde a metade dos anos 90.
Concordo em todas as linhas de seu texto. Acrescentaria a dúvida que tenho de ver essa contratação jogando nos campos do suburbio carioca, como Conselheiro Galvão, Italo del Cima e Moça Bonita,sob o sol escaldante do Rio depois de uma semana cheia em baladas da noite carioca. Sem dúvidas i "chinelinho" vai entrar em atividade.
Realmente é uma pena o clube não investir mais na "prata da casa" e ter abandonado o lema "Craque o Flamengo faz em casa".
Dividirei meus comentários sobre seu texto em duas partes, caro Ricardo:
Antes, friso que concordo em parte.
1. Acredito não ser muito assemelhada a situação do Gaucho com a do Fenomeno. R.Gaucho ainda joga futebol quando foi contratado, diferente do Fenomeno que só fazia fisioterapia a muito tempo, em praticamente todos os clubes que passou. Chegou a ficar sem clube, foi liberado pelo Milan antes de fechar com o Corinthians. Portanto, R.Gaucho vem jogar, bem diferente de seu chará do Parque Sao Jorge. Alem disso, se ele jogar metade do futebol que apresentou no Milan, já em decadência, brilha nos gramados aqui do Brasil. Talvez por estar morando por aí, na terra da rainha, você nao possa acompanhar de perto nossos estaduais, copa do brasil, brasileirao e libertadores. Apenas o blackburn se interessou pelo futebol dele por aí simplesmente porque ele queria jogar por aqui. Ninguem quer dar murro em ponta de faca, não é?
2. O flamengo revelou, além de Adriano, nas últimas décadas: Júlio Cesar, melhor goleiro do mundo, Juan, zagueiro da Roma, Felipe Melo, vilão do Hexa, dentre outros como eles, com um pouco mais ou pouco menos de expressao, que agora me falha a memória. Há de concordar comigo que revelar outra geração campeã de 1981 é bem complicado, não?
Um abraço e continue o excele trabalho!
Henrique Werberich dos Santos
Brasília - DF
Henrique, você tem razão. Esqueci de mencionar o Juan, Julio Cesar, Felipe Mello e possivelmente algum outro. Mas isso não invalida o argumento de que o número de jogadores revelados vem diminuindo em consequência de uma política que mais privilegia a compra e venda de jogadores. O Fluminense tem sido um exemplo muito melhor de revelação, pena que também não segura seus melhores valores. Quanto à comparação do Gaúcho com o (ex-) Fenômeno concordo também que os dois não estão no mesmo nível. A semelhança que citei diz respeito ao esquema empresarial que visa ex-craques que esgotaram seu potencial de marketing na Europa, mas que ainda rendem no Brasil. O esquema é (mais) viável se envolver times com torcidas gigantescas (mercado). O futebol fica em segundo plano, pois a imprensa (que também precisa vender) se encarrega de pintar o ídolo com as cores da ilusão, transformando-o em autêntico craque. Mas sei que o Gaúcho não é Fenômeno. O Ronaldo virou R9 e parece estar mais interessado em tirar proveito do marketing que a Fiel tem capacidade de proporcionar.