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Vale sem o Brasil?

Camilla Costa | 2012-08-01, 0:28

A ginasta chinesa Linlin Deng em North Greenwich Arena. (Foto: Getty)

Em um sistema no qual era preciso comprar ingressos aleatoriamente e com muita antecedência, a dúvida mais comum é o que fazer se você se deparar com a situação de ter nas mãos ingressos para uma competição sem o seu time. "Vendo os ingressos, é claro." Né?

Depois de assistir a uma emocionante final de ginástica artística por equipes, eu digo: não vendam seus ingressos, por favor. Ou os vendam para mim.

Um colega da ´óÏó´«Ã½ Mundo, Natalio Cosoy, já havia me alertado de que ver uma competição de ginástica ao vivo é completamente diferente de vê-la pela TV. Decerto o mesmo acontece com todos os esportes, mas na ginástica a diferença é mais importante.

Pela TV, nunca temos uma visão geral da prova, do ambiente, da Arena. Estamos sempre concentrados em um exercício, em um aparelho, nas piruetas de um(a) ginasta. Ao vivo, tudo acontece ao mesmo tempo. É difícil saber para onde olhar em meio a tantos saltos impressionantes e a tantos talentos.

E é por causa disso, também, que as competições de ginástica artística são tão mais interessantes ao vivo. Talvez por estarem acostumados com os espectadores que estão na Arena mais por curiosidade do que por conhecimento profundo sobre o esporte, os organizadores tem um cuidado especial com o público.

Antes mesmo do início da competição, com a Arena completamente escura, começa uma apresentação dramática sobre a modalidade. Ginastas - que não são os competidores - fazem piruetas no tatame central sob os aplausos animados da plateia e um show de luzes, para nos lembrar que, apesar do ritual e da complexidade, o que veremos em instantes é mesmo um espetáculo.

Em seguida, meninas fazem os movimentos básicos em cada um dos aparelhos que fazem parte da competição, iluminados por canhões de luz. Durante as provas, telões nos mostravam os melhores movimentos em câmera lenta, comentados pelos narradores oficiais, para não ficarmos com saudades demais da TV de casa.

Os narradores, talvez compadecidos da nossa ansiedade em meio a tantas escolhas impossíveis, também nos chamam atenção para atletas ou países específicos em cada uma das rotações de aparelhos. Assim, aprendemos rapidamente que vale a pena nos concentramos nas apresentações de solo romenas, nos saltos americanos, na trave chinesa, nas barras assimétricas britânicas.

Parece um pouco acadêmico para uma competição esportiva, mas o aprendizado é prazeroso e vale cada segundo. A plateia, mesmo dividida em cores e bandeiras diferentes, parece torcer por todas elas sem pudor. A cada erro, queda ou pisada fora da linha, ouve-se o "uh" compadecido dos espectadores, em uníssono. Não importa de onde as ginastas são, estamos ali para todas elas. Uma espécie de recompensa pelo esforço que fazem somente para nos impressionar.

A hora do aquecimento, quando as equipes tem um minuto para se prepararem para um novo aparelho, é um show à parte, que nunca vemos pela televisão. Talvez por não estarem sendo oficialmente avaliadas, elas parecem relaxar. Fazem piruetas mais ousadas, correm com menos cálculo, se jogam nos movimentos sem medo de cair. E caem, para não caírem sob o olhar dos juízes.

Dá sempre, é claro, uma dorzinha pela ausência do Brasil. Na chegada a North Greenwich Arena, saindo do metrô, encontrei a ginasta Adrian Gomes, que esperava as outras meninas para acompanhar a final.

Mas assistir a uma competição assim também nos dá a capacidade de entender melhor os nossos atletas e o porquê de eles não terem conseguido estar lá naquele momento. Não se enganem: todos os ginastas choram, se desconcentram pelo nervosismo, erram, caem. O que vira o jogo para eles parece ser, algumas vezes, uma inspiração do momento e muitas vezes, as condições que tiveram para chegar até ali.

Aqui em Londres e no Rio, vale ver os Jogos sem o Brasil. Mesmo sem medalhas, só por contágio, a Olimpíada pode acabar - tomara - nos transformando em um país mais apreciador e apoiador do esporte.

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