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De Kyoto a Montreal, via Cancún

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Eric Camara | 2010-09-21, 11:10

Fez 23 anos, na semana passada, o Protocolo de Montreal. Hoje, talvez pouca gente se lembre dele, mas na década de 80, falava-se do buraco na camada de ozônio sobre o Pólo Sul como hoje se fala de mudanças climáticas.

Era um desafio imenso. E uma ameaça.

Praticamente todos os aerossóis e vários produtos usavam os chamados gases CFCs (clorofluorcarbonos), que destroem o ozônio na atmosfera. Como resultado, cientistas descobriram que esse filtro fundamental para a saúde do planeta - particularmente a nossa - estava desaparecendo.

ozone layer

O primeiro passo foi um tratado multinacional, que abrange todos os países-membros das Nações Unidas, e que aos poucos foi sendo aprofundado e implementado nacionalmente para reduzir localmente o consumo e produção de CFCs.

Nos países em desenvolvimento, as obrigações introduzidas pelo Protocolo de Montreal foram acompanhadas de financiamentos e outros mecanismos de apoio financeiros bancados pelos países ricos. Lembra Kyoto, não?

Bem, as semelhanças com as mudança climáticas acabam por aí.

Processo lento e gradual

O resultado, segundo a ONU, é uma redução de 97 % no potencial de destruição do ozônio.
Pouco mais de duas décadas mais tarde, cientistas constatam a recuperação lenta e gradual da camada de ozônio. No caso do protocolo de Kyoto, um punhado dos países signatários atingiu as metas obrigatórias.

Como no caso do clima, o processo é muito lento: cientistas calculam que a camada de ozônio só deve voltar aos níveis originais por volta do ano 2500, embora ele possa começar a diminuir em 10 a 15 anos. E o aquecimento global é um fator que atrapalha a regeneração.

O que nos traz de volta ao desafio atual: um tratado sobre mudanças climáticas.

Entre 29 de novembro e 10 de dezembro, acontece mais uma rodada de negociações sobre o clima, dessa vez em Cancún, no México - a primeira após o alardeado fracasso de Copenhague, em 2009.

Mas, se as mudanças climáticas são uma ameaça muito mais dramática que o buraco da camada de ozônio, por que Montreal deu certo e Copenhague (alguns dizem Kyoto) afundou?

Existem mil respostas. Para ficar nas mais tangíveis, um protocolo sobre o clima envolve muito mais setores do que um sobre CFCs. Envolve também mudanças profundas na cadeia de produção: CO2 é produzido por virtualmente toda a indústria. E envolve muito, mas muito dinheiro.

Principais economias em reunião

Nesta terça-feira, líderes dos 17 países responsáveis por 80% da poluição do planeta, o chamado grupo das grandes economias, concluem em Nova York mais uma reunião de cúpula para tentar aparar arestas e chegar a um consenso para liberar verbas já prometidas aos países mais pobres e preparar novas propostas que possibilitem um acordo em Cancún.

Ninguém espera grandes avanços. A crise ainda ronda os países mais ricos, o ceticismo - que contraria a grande maioria dos estudos científicos - parece ter ganhado força e um dos principais atores do processo, os Estados Unidos, continuam atolados no meio do caminho que poderia levar a um futuro com baixas emissões de carbono.

Outras reuniões preparatórias estão marcadas para antes de Cancún. A esta altura do ano passado, vésperas de Copenhague, a pressão da opinião pública era enorme, mas já havia indícios do naufrágio adiante.

Neste ano, a situação se inverteu: ninguém espera avanços e a pressão é bem menor. Será que só a publicação do novo relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), previsto para 2013-14, vai dar fôlego às negociações?

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