Digo-te não!
Nem mesmo o temÃvel Galactus, o devorador de mundos, teria sido capaz de feito tão audacioso e maligno.
A Disney acaba de adquirir todo o acervo da editora Marvel Comics por US$ 4 bilhões.
Uma bagatela, repito, uma bagatela, um custo com o qual até o Tio Patinhas estaria disposto a arcar, visto que o catálogo da Marvel é inestimável.
Mas não é só inestimável. É também invendável. Mas em tempos de grandes negócios e fusões, eis que ocorre uma transação digna de Wilson Fisk, o Rei do Crime.
Ninguém pode negar tudo que de bom a Disney já deu ao mundo, desde clássicos como Fantasia até pérolas modernas como Wall-E.
Mas quando se trata de mexer com o catálogo que reúne do Capitão América aos X-Men, do Homem de Ferro ao Surfista Prateado, só resta ao fã ardoroso repetir o bordão do Coisa, do Quarteto Fantástico: ''É hora do pau!".
E a julgar por algumas ''bombas'' que a Disney soltou nos últimos anos, como Neve pra Cachorro e Mansão Mal-Assombrada, o catálogo da Marvel precisará de uma estrutura digna dos ossos de adamantium do Wolverine para não ser ameaçado.
A empresa fundada por Walt Disney está de olho no potencial que os personagens da Marvel vem tendo e seguirão tendo nas telas de cinema, com êxitos como Homem de Ferro e IncrÃvel Hulk.
Mas a editora que primou pela ousadia corre sério risco de ter de incorrer em tramas que não fazem justiça a seu passado transgressor.
O Surfista Prateado não dará mais vazão às suas digressões filosóficas enquanto ronda pela Terra.
Pelo contrário, encontrará algum ''atalho'', um portal mágico ou coisa que o valha, para regressar a seu planeta natal e aos braços da amada Shala Bal.
Em vez de ''Hulk esmaga'', que dá mais do que conta do recado, talvez a criatura com a pele esverdeada por uma radiação de raios Gama adote um tom mais concilador e articulado, na linha de ''Caso os senhores não saiam de meu caminho, serei forçado a esmagá-los''.
Não para por aÃ. Tal qual o Vigia, que tudo vê, mas não pode intervir nos desÃgnios terrestres, consigo vislumbrar coisas ainda piores.
Com os personagens da Disney e da Marvel lado a lado, em breve poderão surgir parcerias bizarras e indigests, como a de um antigo gibi no qual o Super-Homem lutava contra Muhammad Ali em um outro planeta (!).
Em breve, Mickey Mouse poderá se tornar um estagiário no Clarim Diário e, consequentemente, o braço-direito de Peter Parker/Homem-Aranha.
O Pantera Negra - por sinal, o primeiro super-herói negro na história dos quadrinhos americanos, regressará a seu reino africano de Wakanda trazendo a seu lado um animalzinho doméstico...o Rei Leão.
Os X-Men passarão a fazer ''bicos'' atuando como os guarda-costas de Hannah Montana.
Diante de um quadro desses, só caberá fazer como Conan, o Bárbaro e praguejar: ''Cães cimérios!''
Mas não basta a indignação. Os fãs têm que relembrar o chamado às armas do Capitão América, para os heróis que ele liderava: "Avante, Vingadores!''.
É preciso espalhar protestos pelos mundos real e virtual - um blogueiro gaiato já disse que agora todos os personagens da Disney são mutantes.
Mas será que o professor Xavier aceitaria ter Huguinho, Zezinho e Luizinho sob seu comando?
Se todos os poderes da Terra e de Asgard não funcionarem, o fã fiel da Marvel tem de ao menos manter sua carbeça erguida e, a exemplo do poderoso Thor, exclamar:
"Digo-te não!''.