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A rádio, a cidade e os passarinhos

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Pablo Uchoa | 2008-03-11, 12:40

Uma rádio que, em vez de música, toca o canto dos passarinhos está atraindo "dezenas de milhares" de ouvintes em Londres.

E eu, que me achava mal da cachola porque gostava de perder umas horas observando os passarinhos na cinzenta São Paulo.

Lá, na paulicéia, algum banco de praça no verde Alto de Pinheiros, ou na minha querida Vila Madalena, servia de descanso para os olhos metidos no corre-corre da hora do almoço. (Quem se interessar, leia esta ).

Aqui, descobri a rádio Birdsong por acaso, quando escaneava sinais com meu recém-comprado aparelhinho de rádio digital, que substituiu o de pilhas, antigo companheiro, que ficou por aí em algum canto deste planeta.

Diz o Daily Telegraph que a Birdsong nasceu há apenas dois meses, substituindo a antiga rádio OneWord. A trilha sonora consiste de gravações feitas em 1992 no jardim do presidente do grupo Digital One, Quentin Howard, em Wiltshire, relata o jornal.

Entre os sons que costumavam preencher a freqüência da rádio Classic FM há 16 anos, um ouvinte chegou a identificar 12 tipos de cantos de passarinhos.

Neste país em que observar passarinhos é um hobby sério, com direito a inúmeros programas de televisão, alguém chegou a comparar a trilha sonora da rádio Birdsong a outro clássico da rádio britânica – o não menos hipnótico boletim do tempo para navegadores, o Shipping Forecast da ´óÏó´«Ã½.

Adepto ocasional do hipnotismo do Shipping Forecast para dormir, não resisti e sintonizei a Birdsong em pleno congestionamento certo dia. Fechei os olhos e deixei-me imaginar em uma rede rodeada de palmeiras, onde o zum-zum do exterior virasse apenas o pano de fundo de umas merecidas férias.

Confesso, à²õ seis horas da tarde, era melhor que o walkman do sujeito ao lado ligado no último volume.

Imaginei que na mesma hora talvez estivessem fazendo o mesmo "dezenas de milhares" de pessoas que o Telegraph definiu como "urbanóides sedentos por um gostinho do interior", nesta Londres onde não haverá um palmo de terra inaproveitado.

Infelizmente, como o solo, o ar de Londres também não pode se dar ao luxo de ficar à margem desta potente máquina capitalista. Como a rádio Birdsong não é comercialmente viável – qual o sentido de colocar anúncios numa rádio deste tipo? –, mais dia, menos dia sairá do ar, alertou Quentin Howard.

Talvez se repitam as mesmas reclamações de ouvintes que protestaram quando os cantos de passarinhos saíram do ar da rádio Classic FM em 2005. Ou quem sabe estes ouvintes se conformem com que viver na metrópole tem lá o seu preço.

No fundo, nada para um urbanóide vicia mais que cidade, Londres, São Paulo, Caracas, Mumbai ou Tóquio, passarinhos à parte.

°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário

  • 1. à²õ 08:03 PM em 16 mar 2008, Altino Correia escreveu:

    Num mundo conturbado como o atual
    - onde a TV e outros meios de comunicação só se preocupam em divulgar tragédias - chega a ser louvável o surgimento de alguns canais para a divulgação de cantos de aves ou músicas para relaxar. O bom seria mesclar esses cantos de pássaros com os sons de "cachoeiras", ou ainda o ambiente característico das praias. Pelo menos deixaria de existir a poluição sonora provocada pelos sons de alta modulação produzidos nas vias públicas. E como conseqüência,deveriam ser proibidos os inconvenientes carros de som com caixas acústicas mal ajustadas, que
    por sua vez só deveriam ser aceitos em concursos de Som Automotivo.

  • 2. à²õ 02:20 PM em 18 mar 2008, David escreveu:

    Bem, acho muito triste não tocar o chão, terra ou areia ou sentir a água do mar, rio ou lago por muito tempo. Isso me traz uma sensação de sufocamento. Especialmente se eu ficar algum tempo longe de uma grande quantidade de água. Sem contar a falta de verde e espaços que não tenham concreto e asfalto.
    Isso, ao menos a mim, é vital. Me incomoda saber que já não existe quase nenhum lugar no mundo que não se mantenha 100% selvagem. Lugares intocados e misteriosos a serem descobertos estão extintos. Uma pena.
    Prefiro o som dos passaros ao vivo e a cores. Gravado não tem graça... mas se não tiver outro jeito...

  • 3. à²õ 08:23 AM em 12 abr 2008, Rodrigo escreveu:

    Muito legal o post.
    Pena q se esqueceu do mais importante, Não citou a freqüência da rádio ou site... Nada...
    Vamos transformar essas dezenas de milhares em dezenas de milhões !
    Eu ouviria essa rádio !
    Quem sabe com tanta audiência ele não descobre um jeito de lucrar com isso e conserva a rádio no ar ?
    Grande abraço

  • 4. à²õ 09:27 AM em 14 abr 2008, Pablo Uchoa escreveu:

    Oi Rodrigo

    A rádio é digital, e eu não sei muito bem como funciona isso. Pelo meu radinho, acho que a frequência é 11D 222.064 MHz (estaria correto...?) Dá pra escutar neste endereço:

    Ah, e pelo visto já houve inclusive campanhas para que a rádio não saia do ar.

    Enjoy!

    Abs
    Pablo.

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