O Show de Goody
O casamento da ex-Big Brother Jade Goody, que sofre de câncer e recebeu recentemente dos médicos a notÃcia de que tem apenas alguns meses de vida, foi destaque na mÃdia britânica nesse final de semana - como prevê o contrato.
Goody, que foi diagnosticada com câncer no colo de útero enquanto participava da versão indiana do Big Brother e anunciou a doença no confessionário do programa, vendeu os direitos de imagem do casamento a uma revista por £700 mil (R$ 2,5 mil) e a uma rede de televisão por £100 mil (R$350 mil).
Além disso, seus últimos dias de vida estão sendo registrados pela mesma rede de televisão e serão transformados em um programa.
O casamento de Goody, se não fosse apenas porque ela está internada e sendo tratada com quimioterapia, ainda tem outro grande apelo público: o marido está sob liberdade condicional e foi liberado por uma noite com autorização da ministra do Interior para passar a noite de núpcias com a esposa. Ele cumpre pena por ter agredido um rapaz de 16 anos com um taco de golfe.
Apesar de toda a atenção da mÃdia, Goody afirma que não é fama que está buscando, nessas alturas do campeonato, mas um pé de meia para seus filhos, de quatro e cinco anos. Até o premiê Gordon Brown aplaudiu a decisão.
Jade defende a decisão e diz que apenas decidiu fazer, nos últimos meses de vida, o que vinha fazendo nos últimos anos. O que muda, segundo ela, é que ao invés de falar da sua vida à imprensa, estará falando sobre sua morte. E assim como o personagem de Jim Carey no filme O Show de Truman, a vida da ex-Big Brother parece continuar sendo vigiada por uma câmera. Ou, no caso, várias.
Freqüentadora assÃdua dos reality shows - ela participou de pelo menos outros oito depois do BB3 - Jade se habituou a dividir os momentos Ãntimos e particulares da sua vida com o público e os britânicos seguiram a sua trajetória nas telas e nas páginas dos tablóides como quem acompanha uma novela.
O drama da luta de Goody contra o câncer e seus últimos meses de vida não serão diferentes. Isso me leva a pensar onde está a linha, já tão tênue, que divide o público e o privado. E para onde essas celebridades instantâneas e alguns setores da mÃdia levaram o limite da exposição pública. E até que ponto nossas televisões não viraram, de fato, um grande buraco da fechadura, por onde se acompanha a vida alheia.
Já dizia o sábio Itamar Assumpção: "quem cuida da vida alheia, da sua não pode cuidar".