Velhice veloz
A primeira vez que vi uma dessas mobility scooters, ou MS (foto), foi lá pelos idos do final do século. Um vizinho meu, idoso, costumava sair sozinho para passear de madrugada em uma delas e geralmente acabava atolado em alguma lombada, com o motor girando, nervoso, mas sem sair do lugar até que a enfermeira o recolhesse.
Ultimamente, tenho reparado que a cidade anda cheia dessas MS. O fato de os motoristas não serem aparentemente tão velhos ou obesos me fez imaginar se isso não seria mais uma das manias do sistema de saúde daqui, uma espécie de moda: médicos que passam a receitar indiscriminadamente os veÃculos e pacientes que se vêem de uma hora para outra compelidos a ganhar uma.
E, perto da minha casa, tenho visto veteranos da terceira idade descendo as ruas velozmente, no comando desses veÃculos. A velocidade máxima original de fábrica de pouco mais de 10km/h tem aumentado bastante pelas ladeiras de Denmark Hill. O que me fez questionar se o mito da velhice como uma época de movimentos lentos, placidamente inofensiva, não poderia ser em breve destruÃdo pela tecnologia.
O sorriso jovial no rosto do nonagenário do meu bairro, e de outros que tenho visto, não deixa dúvidas de que eles estão sendo fiéis à sua natureza, não se conformando a uma vida artrÃtica em câmera lenta, onde o maior desafio do dia é conseguir ir ao supermercado sem cair.
Será que o instinto veloz de um Ayrton Senna teria sido completamente aplacado pelos anos, se ele tivesse vivido até as vésperas de completar um século?
Talvez esses ainda sejam tempos românticos nos quais os emburrados legisladores ainda não tiveram a chance de arruinar a diversão da velharada impondo regras, restrições, exames de vista e velocidades máximas. Nesse contexto, os audaciosos idosos que descobriram o potencial dessas motinhos seriam desbravadores em um mundo ainda sem leis. Ou talvez as leis já existam e faltem apenas emburrados patrulheiros pelos bairros da cidade.
Mas, pelo visto, cada vez mais gente descobriu um novo prazer na terceira idade, a época em que muitos já não ligam para as convenções sociais, mas com freqüência não têm mais os meios para quebrá-las.
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
oi!
isso que você disse é verdade. Eu moro em Bristol e aqui também a calçada está cheia de velhinhos andando de MS em alta velocidade! Aliás, o pedestre hoje em dia não tem mais espaço para caminhar! Tem ciclista, MS, criança com tênis de rodinha, skatista etc dominando a calçada e o pobre pedestre tem que se deviar disso tudo e mais os carros...
Karin
Se as facilidades e os recursos financeiros existentes no velho mundo fossem encontrados pelos idosos no Brasil, certamente o número desses pequenos veÃculos seria bem maior. AquÃ, a maioria dos aposentados utiliza seus benefÃcios (decorrentes de recursos previdenciários) na compra de medicamentos. Havendo sobra, adquire alguma coisa para seu uso pessoal ou aproveita esses parcos recursos para a aquisição de roupas, calçados, alimentos e guloseimas. Depois disso, raramente sobram alguns reais que possibilitam a participação em excursões, lazer ou recreação. É o mÃnimo que se pode oferecer a um idoso num paÃs de terceiro mundo, como é o Brasil!
Incrivel! Será que os medicos ainda sab e que nós, idosos, temos pernas? Estando nesta condição, tenho valorizado as minhas de forma até fanática: Pratico musculação, ando de bicicleta, evito o máximo andar de carro, etc.E isso tem me respondido com uma vida saudável e produtiva.
Sou daqueles ditos "Idosos inconformados" com tais maravilhas mecânicas, que no fundo servem para nos imobilizar em hospitais e nos encherem de remédios para o colesterol, artrite, etc.
Depois se queixam de epidemias de obesidades, de "postadores de dores na coluna", etc.
Bom para a indústria farmacêutica e para os tais "Geriatras mecânicos" que não passam de "receitadores de medicamentos" e agora, "vendedores de bugigancas motorizadas", o que deve fazer a festa da indústria automobilistica b ritânica