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Egito, Irã e as revoluções

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Rogério Simões | 2011-02-02, 14:10

egitotanqueblog.jpgOs acontecimentos no Egito, onde confrontos entre seguidores e críticos de Hosni Mubarak ainda podem causar um banho de sangue, adquiriram uma velocidade impressionante. Digna de uma revolução. E, como em toda revolução, é possível saber como ela começou, mas nunca como acabará. As forças liberadas por um processo revolucionário, como o francês, no final do século 18, ou o russo, no início do século 20, são explosivas e duradouras, podendo mostrar seu verdadeiro impacto apenas muitos anos depois. Guerras civis, mortes e a adoção de regimes autoritários estão entre as várias nocivas consequências de movimentos que, no início, pretendiam ser um caminho para a democracia. Uma revolução é geralmente uma viagem acelerada e tortuosa em meio à escuridão.

Muitos consideram os atentados de 11 de Setembro ou a queda do Muro de Berlim os mais importantes fatos internacionais desde a Segunda Guerra Mundial. Outros, no entanto, apontam para um acontecimento transformador cujos efeitos se fazem sentir até hoje no cenário político global. A Revolução Iraniana, de 1979, mudou o paradigma de governo no Oriente Médio, abriu um novo espaço na vida pública para a religião e modificou os cálculos políticos das grandes potências. O regime iraniano é tão orgulhoso de sua revolução que apressou-se em dizer, dias atrás, que o movimento político no Egito era inspirado nos fatos de 1979 em Teerã. De certa maneira, é possível entender tal argumento, mas há muitas diferenças entre os dois movimentos. A revolução egípcia pode não ter o mesmo caráter transformador e inédito do levante que derrubou o xá Reza Pahlevi, mas é capaz de mais repercussões imediatas na região.

Diferentemente do movimento egípcio, a revolução do Irã tinha uma figura central, idolatrada por grande parte da população. O aiatolá Khomeini já era um ponto de referência para a oposição iraniana havia mais de dez anos enquanto estava baseado na cidade iraquiana de Najaf. Khomeini deu ao movimento que derrubou o xá um forte caráter religioso, apesar de na oposição haver várias outras tendências políticas, inclusive liberais e comunistas. O resultado foi a adoção de um regime islâmico e xiita, algo que o mundo ainda não havia presenciado. No Egito, apesar da significativa penetração da Irmandade Muçulmana, grupo político islâmico proibido por Mubarak, não existe uma figura central e inspiradora que conduza a ação dos manifestantes. Tal vácuo na liderança pode poupar os egípcios do caminho religioso adotado em Teerã, mas põe mais pontos de interrogação em um movimento difuso e sem clara direção.

A Revolução Iraniana também teve um resultado político regional relativamente modesto, apesar de em certa medida ter mesmo mudado o mundo. Cercada de inimigos por todos os lados, especialmente os árabes sunitas, muitos no Ocidente acreditavam que o levante de Khomeini fosse vulnerável demais para sobreviver. Estados Unidos e seus aliados incentivaram então seu amigo Saddam Hussein a tentar sufocá-lo por meio de uma guerra, um ano depois da queda do xá. Oito anos de combates deixaram 1 milhões de mortos, mas o grande aiatolá e sua República Islâmica do Irã sobreviveram. O novo regime inspirou e armou movimentos militares além das suas fronteiras, particularmente o libanês Hezbollah, mas não se expandiu, nem provocou a queda de outros aliados dos americanos na região.

Tal efeito pode, entretanto, ser provocado pela revolução egípcia. Apesar de já termos visto a queda de um ditador neste ano, na Tunísia, o Egito é a maior nação árabe, e a queda de Mubarak pode ter um efeito dominó por toda a região. Efeito que não veio imediatamente com a Revolução Iraniana, mas que de certa forma terá suas origens nos acontecimentos de 1979 em Teerã. Símbolo do controle ocidental sobre o Oriente Médio, Reza Pahlevi teve o fim temido por líderes da Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Argélia etc. O caráter xiita do movimento iraniano o restringiu geograficamente, mas a ideia de um levante popular no Oriente Médio continuou na mente de muitos na região, tanto os que o esperam como os que o temem. Os revolucionários egípcios podem agora provocar um efeito reformador que leve democracia a povos calados por ditaduras, o que faltou ao movimento do Irã. Mas nada é garantido em uma revolução. As cenas de violência no centro do Cairo indicam que até mesmo uma nova guerra civil pode surgir, em meio ao tortuoso e incerto caminho revolucionário.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 01:46 PM em 03 fev 2011, elton escreveu:

    PODERA ALGUM REGIME RESPONDER COM ECONOMIA ATRAENTE E EMPREGOS PARA TANTOS JOVENS FRUTO DUMA DEMOGRAFIA INCOSEQUENTE? SO DEUS NA CAUSA! AI EGPISIOS O FUTURO SERA MUITO INCERTO.

  • 2. à 06:03 PM em 03 fev 2011, Vlademir Monteiro escreveu:

    Apesar dos tortuosos caminhos que as revolução podem tomar, não podemos eximi-las dos ventos transformadores que trazem (alguns retrocessos, outros avanços). A História mostra que revolução implica necessariamente violência, afinal poucas mudanças se efetuam por modo pacífico. Alguns precisam morrer em prol da causa que defendem. Porém, de forma geral, as incontáveis revoltas que irromperam ao longo de séculos partilham do mesmo ideal: [b]LIBERDADE![/b] Independentemente da ausência de uma figura inspiradora - como Robespierre na França, ou Khomeini no Irã - a Revolução que está sendo desenhada no EGITO tem apenas um protagonista: [b]O PRÓPRIO POVO EGÍPCIO![/b] O mundo só está assistindo a uma nação no exercício de seu direito de construir o seu destino. Portanto, não sejamos presunçosos ao tentar vaticinar o que irá vir. Se os egípcios cometerem erros, que as gerações futuras os julguem, não nós! E quanto ao Ocidente... Devemos parar com essas especulações sobre o cenário que irá se instalar na era pós-Mubarak (caso chegue ao fim), pois quem somos nós para exigir que ali se estabeleça a democracia se apoiamos (ou apoiávamos) esse ditador, o que nos põe no mesmo patamar de perpetradores da repressão que esse megalomaníaco déspota infligia sob os cidadãos? [b]Não ofusquemos o momento árabe![/b]
    Outrora reinaram os faraós no Egito, contudo, isso não significa que este país seria a terra do despotismo para sempre; não, pelos menos, para os homens e mulheres que clamam por liberdade nas ruas de Cairo, Suez, Alexandria e tantas outras cidades.

  • 3. à 01:26 AM em 04 fev 2011, mota escreveu:

    O povo faz a revolução porque não se pode enganar muita gente por muito tempo, e no caso do egito, foram muuitos anos de enganação....

  • 4. à 12:24 PM em 05 fev 2011, ÉRIKKA FELICIANO NUNES escreveu:

    O século XXI é um grande marco do fim desses regimes ditatoriais obsolentos, que já ficaram no passado e que não terão mais lugar no futuro. Os cidadãos árabes estão derramando sangue em nome da democracia, que é a grande estrela do novo século e que gera mais liberdade de vida à todos e o presidente-ditador, Mubarak, já tem os seus dias contados e que com certeza, ele "NÃO" vai aguentar até o mês de setembro, como ele planeja seguir o seu governo. E aos nossos amigos internautas da ý BRASIL.COM, já podem esperar um grande levante popular na Venezuela e da queda do grande Hugo Chavez e de outros levantes populares que seguirão por todo o mundo nos países que mantém regimes ditatoriais até hoje.

  • 5. à 10:33 AM em 06 fev 2011, PATRIZIA NAVARRO DI SANCTI escreveu:

    O POVO DO EGITO ESTÁ REAGINDO CONTRA A DITADURA DE SEU PAÍS, E AS DEMAIS DITADURAS ESTÃO COM OS SEUS DIAS CONTADOS TAMBÉM. NÃO VEJO A HORA DESSA REVOLUÇÃO POPULAR CHEGAR À VENEZUELA E DERRUBAR DE UMA VEZ POR TODA O HUGO CHAVEZ, QUE SE SENTE MAIS DO QUE DEUS. O MUBARAK DIZ QUE VAI PERMANECER ATÉ SETEMBRO ? EU PONHO A MINHA MÃO NO FOGO, DE QUE O CARA VAI CAIR RAPIDINHO. HUGO CHÁVEZ, APROVEITE ENQUANTO É TEMPO E PROCURE NÃO PENSAR DUAS VEZES ANTES DE SAIR DO PODER, PORQUE UMA COISA É CERTA, E OS NOSSO INTERNAUTAS PODEM CONFIRMAR COMIGO, DE QUE A REVOLUÇÃO ANTI-CHÁVEZ ESTÁ PRESTES À ACONTECER. "DEMOCRACIA JÁ" !!!

  • 6. à 03:36 PM em 06 fev 2011, ivan alvarenga escreveu:

    Primeiro: A Urss caiu porque os homens são cada vez mais gananciosos, principalmente o mundo ocidental. Segundo: O egito teve esta revolução não porque queriam !"Democracia ocidental", mas nos moldes do Irã. e Terceiro: Daqui a dois anos vocês vão presenciar (se a irmandade muçulmana for representativa ao máximo no Egito), uma reformulação na diplomacia da Casa Branca e dos Israelenses, porque todo o mundo ocidental excluindo poucos paises das Américas, apoiam os Israelenses, vamos presenciar o Estado Palestino apoiado por todo o Oriente Médio. E aí o que os EUA vão fazer?

  • 7. à 07:17 PM em 19 fev 2011, Paulo Cesar escreveu:

    O que esta acontecendo é que a Internet esta implodindo essas ditaduras. A internet deu PODER as pessoas para expressarem sua opinião e descobrir de repente, que TODOS podem compartilham suas opiniões e CONTRIBUIR de forma imediata e realista para a realização de MUDANÇAS. E através do dialógo e da comunicação chegarem a uma conclusão que PRECISAM FAZER ALGUMA COISA e a ponto de chegarem a um CLIMAX e a um LIMITE DE QUE PRECISÃO SAIR DO MUNDO VIRTUAL para o MUNDO REAL, IR PARA AS RUAS SE ENCONTRAREM E SE CONFRATERNIZAREM COM SUAS REVOLTAS. A Internet é a MAIOR REVOLUÇÃO HUMANA DE TODOS OS TEMPOS.

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