Uma questão de culpa
Um dia desses fui a um churrasco na casa de um casal amigo. Ele, inglês. Ela, brasileira. E caímos naquele debate que não é novo, mas não cansa de me inflamar: até que ponto é justo que os britânicos mudem seus costumes e tradições para acomodar os dos imigrantes de outros países?
A questão já foi motivo de muito bate-boca na imprensa daqui.
Por exemplo, houve o caso da estudante muçulmana que queria usar o véu na escola. A escola tinha consultado entidades islâmicas moderadas e criado um uniforme opcional para as meninas. A estudante, no entanto, não estava satisfeita e queria usar uma roupa que cobria um pouco mais seu corpo. O caso foi parar no tribunal e a escola perdeu.
A história da professora que queria dar aulas vestindo um véu que deixava apenas seus olhos à mostra também gerou polêmica. Nesse caso, a justiça deu ganho de causa para a escola, que argumentou que era essencial que as crianças - em fase de alfabetização - vissem os lábios da professora para poderem aprender direito.
Outro caso que que ganhou espaço na imprensa daqui, embora tenha ocorrido na França, envolveu uma piscina pública. As autoridades estavam discutindo se deveriam estabelecer horários de freqüência diferentes para homens e mulheres de forma a que as muçulmanas pudessem freqüentar a piscina.
Até agora só me ocorreram exemplos envolvendo a população muçulmana, talvez porque atraiam mais a atenção da mídia. Mas há outras questões que nada têm a ver com religião.
O problema do idioma também provoca muito debate. Há comunidades inteiras de imigrantes que não falam inglês. As autoridades gastam milhares de libras para pagar tradutores nos tribunais, hospitais ou em qualquer outro serviço público para garantir que todos tenham acesso em pé de igualdade.
O foco, no momento, são os imigrantes poloneses. Desde a entrada da Polônia na União Européia, centenas de milhares de poloneses imigraram para a Grã-Bretanha, muitos deles incapazes de se comunicar.
Eu fico achando que está todo mundo louco. Onde foi parar aquele velho e tão sensato ditado, "Estando em Roma, faça como os romanos"?
Quando saio do Brasil, sempre deixo - e não sem sofrimento - uma outra Mônica para trás. Em Londres, tento respeitar os costumes do lugar.
Meu amigo inglês tentou argumentar. "Uma coisa são os costumes. Mas religião é outra história", ele disse. Explicou que, como britânico, ele acredita que as pessoas devem ter a liberdade de praticar sua religião.
Aí me lembrei de uma conversa anterior, também sobre esse assunto, que tive com um outro inglês. Ele tinha ouvido meus argumentos e respondido que concordava com tudo. Mas ainda assim, os britânicos não poderiam jamais agir de outra forma. “E por que não?” - eu tinha perguntado. “It's a guilt thing”, foi a resposta. Uma questão de culpa.
dzԳáDzDeixe seu comentário
Concordo com o ditado, em Roma como os romanos, a visita é que precisa falar a língua da casa do visitado e não o contrário. Os ingleses, por que razão não sei, estão vendo e fazendo errado, adaptar os demais cidadãos aos costumes dos estrangeiros porque estes não querem falar inglês? É um absurdo, o mundo todo está aprendendo inglês, e os estrangeiros vivendo entre os ingleses não falam inglês? Como pôde chegar a Inglaterra a este ponto? Quanto as questões religiosas acho-as de fôro intímo, mas os crentes não podem querer impor os seus usos e costumes ao demais, crentes ou não. Antnio Carlos
Desculpem-me os religiosos, mas não é coerente que se chegue na casa de uma pessoa e se exija que ela se porte de maneira diferente ao ponto de interferir na rotina do lugar. Deve-se respeitar a opção do próximo, mas esse também deve ter o bom senso de respeitar o lugar e custumes para onde escolheu ir.
Ninguém vai para lugar algum sem antes ter plena consciência do que vai encontrar por lá!
"It´s a guilt thing"
Como será que reagiriam os muçulmanos de países como o Irã, Iraque ou Afeganistão se alguma moça ocidental andasse pelas ruas das suas cidades enfiadas dentro de biquinis minúsculos como costumam andar no Rio ou em Salvador? Será que reagiriam com naturalidade? Ou será que a levariam pra cadeia?
Acho que os ingleses deveriam tomar uma posição mais firme quanto a esse negócio de se querer impor seus costumes e suas religiões (o que é bem pior) em terras alheias. Ou vai chegar o dia em que eles vão querer andar de metralhadora em punho pelas ruas, como fazem nos seus países, onde a lei está escrita num livro que diz que matar por Deus vale a pena.
Ah! A velha Albion!...pagando os pecados que cometeu quando dominava o mundo
Quando os ingleses dominaram a África, era comum dirigentes de tribos submissas terem de usar terno e gravata em temperaturas que se aproximavam a 50º.Na Índia, um povo inteiro foi obrigado a aprender uma língua , o ingles, totalmente fora do contexto das línguas primitivas indianas, mas ligadas a extensões sonoras nasais do que pronuncias silábicas palatinais Aqui no Brasil também tivemos certas “obrigações civilizatorias inglesas”, como o uso do chapéu e a bengala para a alta burguesia do final do século XIX (apesar que nossa cultura era quase toda influenciada pela cultura francesa )além da polaina nos sapatos (Nossa!, deveria ser terrível usar estes acessórios nos pés na temperatura carioca..) A mania do chá à l4 horas da burguesia fluminense surgiu da influência britânica junto aos grandes comerciantes de café.Além disso, foram os ingleses que istimularamcertos conceitos religiosos, como o puritanismo, que dividiu o mundo entre os “eleitos de Deus” (brancos ) e os “condenados”, a grande massa ignara dos povos conquistados, os chamados autóctones ( não brancos)
Se hoje poloneses não conseguem se comunicar com britânicos, imagine-se o que foi a comunicação entre indianos colonizados e ingleses colonizadores!
Monica,
Penso que quando vamos a outro país imigrar, passear devemos conhecer os costumes e cultura daquele local. Principalmente sobre a legislação para sabermos onde estamos pisando. Penso também que as pessoas são livres e tem o direito de praticar outra religião desde que não atrapalhe os costumes locais. Fazendo coisas diferentes (porque são de culturas diferentes) e não atrapalhando o outro e estando dentro da lei, acredito que seja tolerável. Ser diferente é legal, acredito que agrega a cultura local, mas me incomoda o fato da cultura local perder o espaço. Se é para somar sejam bem vindos. Isto aconteceu aqui no Brasil e graças a isto temos uma cultura multi-racial. Um grande abraço!
Monica, eu, como você, entendo que o país "anfitrião" não deve mudar seus hábitos, cultura e nada de sua maneira de ser em virtude de ninguém. Muito menos por religião! Trata-se de uma sensível questão de soberania e, independente da "culpa" (imagino que pelo imperialismo inglês de outrora), alegada pelo seu outro amigo inglês, a nação não deve ser descaracterizada em sua essência.Ademais, quando estamos na casa dos outros, mesmo que tendo essa estada sido escolhida por nós, cabe a nós jogarmos com a regras deles e não tentarmos impor as nossas.
Além disso, optou por viver em outro país, o mínimo que se espera é que se aprenda, e rapidamente, seu idioma.
A Inglaterra e muito tolerante. E essa tolerancia, tem aberto espaco para o crescimento do radicalismo, principalmente o islamico. A uns dois anos atras vivi uma situacao inusitada; meus filhos sempre estudaram em escolas catolicas, mas por conta de uma mudanca, passaram poucos meses por uma escola laica. Onde se deduz, nao deveria haver manifestacoes religiosas. Um belo dia, ao ir buscar as criancas, minha filha menor trazia consigo um oracao islamica (em arabe e ingles), era a epoca do Ramadan e assim foi durante todo esse periodo. Ate ai nenhum problema, acho bom conviver com a diversidade. Mas, nessa mesma escola nao se comemorou o Natal. Quando perguntei ao diretor por que, ele disse que isso poderia ofender os muculmanos, ja que essa escola nao era ligada a nenhuma fe. Essa situacao, das tradicoes crista e ocidentais (num pais cristao e ocidental), terem que ser mascaradas para que minorias nao se sintam ofendidas e claramente uma perigosa inversao de valores.
O governo aqui, esta pressionando as escolas ligadas a alguma fe, que aceitem estudantes de outras religioes. E claro, que isso vai afetar principalmente as escolas Catolicas e as da Igreja da Inglaterra, que vao acolher representantes de outras religioes e vao ter que se adaptar a isso. Agora, sera que as escolas islamicas vao aceitar cristaos ou quem sabe judeus e aceitar seus simbolos e costumes religiosos, em nome da tolerancia e da diversidade?
...lets go, aculturação, é qdo um povo vai, com o decorrer do tempo, assimilando outra cultura, cuja velocidade fica na dependência do processo ser do dominado para o dominante ou do dominante para o dominado... assim sempre caminhou a humanidade, exemplo disso são os Macs da vida e dos milhares restaurantes mexicanos no EUA! Dos Ternos de cor fechada around the world e das brasileirissimas Hawaianas usadas pelos modernos do mundo todo! Demora, mas finda... Não há culpado nessa mecânica, ele é lento, segue devagar e como água, vai achando suas brechas e seus caminhos. O fato é que sempre haverá o ranço da "norma" perdendo seu espaço... seu status... seu habitat! Não há como impedir...
Eu acredito ser fundamental se aprender o idioma de onde se vive.
O reino Unido eh o melhor lugar para receber estrangeiros na Europa, pois os outros paises de origem latina os brasileiros sao sempre mais discriminados.
Quero mencionar tambem que o perfil do imigrante brasileiro mudou muito nos ultimos 20 anos, anteriormente o imigrante brasileiro vinha para UK para aprender o idioma e se educar, ao passo que hoje existe o imigrante finaceiro, que vem para UK sem a minima ideia de que eh fundamental se educar, e por esta razao vemos hoje brasileiros dando golpes em um sistema a qual ele nao pertence.Lamentavel, pois este tipo de atitude mancha toda a comunidade brasileira estabelecida aqui.