Obama, a celebridade
Um dos maiores desafios da mídia na cobertura das eleições presidenciais americanas é tratar o virtual candidato democrata, Barack Obama, como um ser humano. Depois de uma semana viajando pelo Oriente Médio e pela Europa, onde foi recebido como uma mistura de estrela de cinema e salvador do mundo, especialmente na Alemanha, Obama aos poucos deixa de ser de carne e osso. O que pode se transformar em seu calcanhar de Aquiles no pleito de novembro.
Seu oponente, John McCain, encurralado pela super-exposição de Obama na mídia, com claras dificuldades de convencer jornais, revistas e TVs americanos a prestar atenção em seus movimentos e discursos, já começou a explorar a seu favor a idéia do Super Obama. O da campanha do senador republicano compara o democrata com Britney Spears e Paris Hilton, moças de inegável apelo popular, mas que já demonstraram certa incompetência em administrar suas próprias vidas e carreiras. A pergunta que McCain faz no anúncio: "Ele é a maior celebridade do mundo. Mas será que ele está pronto para liderar?" Em seguida a propaganda faz referência ao alto preço do petróleo, uma das maiores preocupações recentes dos americanos, e insinua que Obama não sabe o que fazer para combater o problema. O anúncio termina com a frase: "Mais impostos, mais petróleo vindo do exterior. Esse é o verdadeiro Obama". A idéia de McCain é colar no adversário a imagem de que ele é como uma estrela do cinema, distante da realidade do cidadão americano.
Há realmente muito de celebridade na figura do candidato Barack Obama, o que não quer dizer que ele não tenha substância em suas propostas. Ele recentemente confirmou que, se eleito presidente, vai estabeler um cronograma de retirada das tropas americanas do Iraque, encerrando uma campanha militar da qual ele discordou desde o seu início. Em conversas em Bagdá, o plano, de retirada das tropas em 16 meses, foi bem recebido pelo governo iraquiano, o que fez John McCain dizer que achava a proposta boa. O mesmo McCain que chegou a dizer que o Exército americano talvez tivesse de ficar no Iraque . Obama mostrou que pretende cumprir sua mais antiga promessa de campanha, e McCain teve de correr atrás.
Mas, apesar de suas idéias e uma oratória digna dos maiores líderes da história, a pecha de celebridade ainda pode criar problemas para Barack Obama. A imprensa americana parece ter culpa no cartório, pois em vários momentos tem se empolgado tanto com o apelo do democrata que parece ter vestido a camisa, como já escreveu aqui na ý Brasil o nosso correspondente Bruno Garcez. A acusação vem dos tempos em que ele ainda lutava contra Hillary Clinton pela indicação democrata e se mantém . O republicano acusa a mídia americana de estar "apaixonada" por Barack Obama.
A impressionante passagem de Obama por Berlim e seus encontros políticos no Oriente Médio, na França e na Grã-Bretanha não surtiram efeito nas pesquisas de opinião. aponta que ele continua na frente de McCain, mas tanto quanto estava antes do giro internacional: sete pontos percentuais. Pode parecer muito, mas é bom lembrar que a eleição americana não é um pleito nacional, mas um conjunto de 50 eleições estaduais. Em 2000, George W. Bush perdeu no voto popular, mas ganhou nas regras eleitorais. Obama ainda tem três meses de uma longa estrada antes de fazer história, e seu oponente não pode ser subestimado. McCain é antes de tudo um sobrevivente, tanto da Guerra do Vietnã como do jogo político. Inicialmente vista como um empurrãozinho, a onipresença do democrata na mídia ainda pode atrapalhar seu sonho de chegar à Casa Branca.