Euro e o futuro da integração
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, teve de sair em defesa da moeda única europeia durante entrevista coletiva em Paris, ao lado do primeiro-ministro britânico, David Cameron. lembrando que pouco depois de ser criado o euro tornou-se a segunda mais importante moeda do mundo, atrás apenas do dólar americano. Cameron, um premiê conservador que prometeu antes das eleições nunca adotar o euro, parecia bastante aliviado por seu país ter mantido sua moeda nacional. Mas a crise envolvendo o euro, caso se agrave ainda mais, não deverá poupar a economia britânica, pelo contrário, já que 60% das exportações do país seguem para seus vizinhos de continente. "Eu acho que nós acertamos por não termos adotado o euro e acertamos em ficar fora do euro. Mas é do interesse da Grã-Bretanha que a zona do euro seja um sucesso."
O tema não interessa apenas aos europeus. Não é à toa que as bolsas de valores dos mundos desenvolvido e emergente vêm despencando dia após dia. A bolsa de Londres ficou nesta sexta-feira abaixo do marco psicológico dos 5 mil pontos, o que não acontecia desde meados de 2009. A bolsa paulista acumulou seis dias de queda consecutivos. Investidores em qualquer parte do mundo sabem que a crise do euro é um indicativo da gravidade do estado das finanças públicas em várias nações europeias, que mal conseguiram se recuperar da crise financeira de 2008/09. Uma moeda é um medidor da saúde econômica de quem a imprime, e a saúde europeia preocupa. Mas, no caso do euro, existem duas perguntas sendo constamentemente feitas por analistas econômicos e que mostram quanto o atual momento assusta: como pode a zona do euro resolver o problema das suas nações mais endividadas (primeiramente a Grécia, mas também Portugal, Espanha ou Itália) se exatamente por causa da moeda única elas não têm políticas monetárias autônomas? Além disso, caso a Grécia abandone o euro e retome seu antigo drachma, para poder resolver seus problemas isoladamente, qual seria o impacto para a integração europeia? Como ficaria o futuro econômico e político do continente?
Ao longo dos anos 90, a palavra "integração" tornou-se quase uma panaceia na política internacional. O modelo europeu inspirava as discussões sobre o futuro do Cone Sul, com o Mercosul sonhando em um dia ter sua moeda única (tal discussão, inclusive, voltou à pautas do bloco sul-americano nos últimos anos). Imaginava-se que a integração econômica, que garantia uma maior unidade política, era uma tendência da qual não se poderia escapar. Aqui na Grã-Bretanha, muitos escreveram no começo deste século que, se o país não adotasse o euro em um futuro próximo, seria relegado ao ostracismo econômico, perdendo em competitividade com as nações continentais. Mas e agora? Quem se arrisca a colocar a mão no fogo pelo futuro da integração europeia? Se os impressionantes US$ 1 trilhão prometidos pelo bloco para proteger as economias mais vulneráveis da zona do euro não conseguiram acalmar os mercados, se as regras que pautaram o lançamento do euro (déficit orçamentário de até 3% do PIB, dívida de até 60% do PIB) foram completamente estouradas por muitos países da zona do euro, como recuperar a credibilidade da moeda? Se a credibilidade do euro estiver condenada, como fica a União Europeia?
O mundo em 2010 é muito diferente daquele que se moldava após a fim do comunismo no Leste-Europeu. A ascensão de novas potências, como China, Índia e Brasil, fragmentou a estrutura econômica global. A União Europeia continua sendo um projeto poderoso e de grandes ambições. Mas a ideia da formação de grandes blocos, que já foi vista como tendência natural da globalização, pode se tornar uma de suas grandes vítimas. Uma nação como o Brasil, ciente do seu potencial, não se limitou a integrar-se com seus vizinhos. Lançou-se a alianças das mais diversas, independentemente de geografia ou ideologia, instinto que também aproximou a China da África subsaariana. Não há dúvida de que a interdependência, uma das maiores características do processo globalizador das últimas décadas, veio para ficar. Mas Estados nacionais poderão ser obrigados a defender sua autonomia, se quiserem sobreviver aos seus efeitos.
dzԳáDzDeixe seu comentário
O sistema do Euro é como o do Real aqui, os estados lançam os títulos e os futuros governantes que paguem...