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Brasil, EUA e a sanidade

Rogério Simões | 2010-10-18, 15:17

odonnellblog.jpgBrasileiros e americanos irão à²õ urnas nas próximas semanas. Três dias depois de o Brasil escolher um novo presidente da República, os Estados Unidos terão seu Congresso renovado e novos governadores eleitos. Os chefes das duas nações estão preocupados. Luiz Inácio Lula da Silva, que a esta altura do campeonato acreditava já poder estar opinando sobre o ministério de Dilma Rousseff, sabe que existe uma real possibilidade de ter de devolver a faixa presidencial ao PSDB. Barack Obama também pode receber o troco dos seus adversários, caso perca o comando das duas casas do Congresso para os republicanos, após apenas dois anos na Casa Branca.

Mas as semelhanças entre as duas eleições não se restringem aos desafios dos dois presidentes. Manifestações políticas vistas recentemente parecem dar razão ao humorista Jon Stewart, que convocou para o próximo dia 30, em Washington, . O alvo do sarcasmo de Stewart é o radicalismo de posições políticas que misturam preceitos morais, religião e preconceito e prejudicam aquilo que se espera da função pública: bom senso. O movimento conservador Tea Party tem sido destaque nas campanhas americanas, catapultando candidatos com pouca ou nenhuma experiência política. O conservadorismo do movimento vai muito além das posições de George W. Bush. A candidata republicana ao Senado em Delaware, Christine O'Donnell (foto acima), . Ela também já disse em entrevistas que os Estados Unidos gastam excessivamente em prevenção e tratamento da Aids e que seu país tem hoje uma economia "socialista".

O'Donnell não tem, aparentemente, chances de vencer o democrata Chris Coons na disputa em Delaware. Mas, em Nova York, outra criação política do Tea Party, o empresário Carl Paladino, ainda pode conseguir o posto de governador do Estado. Já apresentado aqui na ´óÏó´«Ã½ Brasil por Lucas Mendes como um político no mínimo polêmico, por ter criticado a Parada Gay novaiorquina e o homossexualismo, que, pare ele, "não é uma opção igualmente válida ou bem-sucedida", em comparação com a formação de uma família tradicional. Talvez indicativo do sucesso de Paladino em parte do eleitorado, , incluindo o recente sequestro e tortura de um homossexual.

O Brasil é, como os Estados Unidos, um país jovem e de muita diversidade. Também é, como a superpotência do norte, um país em que a religião tem papel importante na condução da vida de cada indivíduo e na organização social de suas comunidades. Meses atrás, a campanha presidencial de 2010 parecia ser marcada por certa calmaria, diante de um país em um ótimo momento econômico e com os dois principais candidatos oriundos do movimento de centro-esquerda pela democracia e contra o autoritarismo. As indicações, porém, de que argumentos morais e de natureza religiosa poderiam garantir votos extras, caso fossem trazidos para o debate eleitoral, deram outra cara à campanha. O aborto passou a ser discutido a partir de crenças pessoais, em vez de ser analisado como uma questão de saúde pública ou mesmo sob o ponto de visto do custo financeiro (a morte de milhares de jovens mulheres tem um preço econômico alto para o país). Se a realidade nacional atual leva cidadãs brasileiras à morte, há um problema que a socieade precisa resolver, de forma racional e equilibrada. O problema concreto, entretanto, é deixado de lado para dar lugar a discussões subjetivas, como a própria crença pessoal de um político. A comunhão ou não de um candidato acaba tendo quase o mesmo peso das suas propostas para a ensino médio (o que, diga-se de passagem, ainda não foi detalhado por nenhuma campanha).

Quem investirá mais em saúde, Dilma Rousseff ou José Serra? Os dois pretendem ou não reduzir os gastos públicos a partir de 2011? Nas disputas americanas, o que defendem os candidatos ao Senado para melhorar as relações econômicas com a China? O que acham que deveria ser feito para reduzir a violência na fronteira com o México? No Brasil e nos Estados Unidos, perguntas importantes estão ficando sem respostas, enquanto crenças religiosas e discussões sobre estilos de vida tomam o tempo dos eleitores. Diante dos caminhos do debate político, é compreensível que um comediante esteja se mobilizando em favor da volta da sanidade.

°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário

  • 1. à²õ 11:14 AM em 19 out 2010, Alexandre Silveira escreveu:

    Excelente comentário. Tenho acompanhado também o pleito americano, e o lobby religioso nos EEUU sempre foi forte, mas parece que se acentuou nas últimas eleições, graças, em boa parte, à Internet.

  • 2. à²õ 03:40 PM em 20 out 2010, Lucas escreveu:

    Bom texto, mas acho que na parte que aborda a eleição brasileira, seria importante falar qual candidatura levantou e se beneficiou inicialmente do tema religião. Foi Serra. Nos EUA você deixou bem claro que vem da parte dos Republicanos, e por que não evidenciar que no Brasil está ligado aos tucanos? É importante no Brasil, como na Europa e EUA já é, apresentarmos as candidaturas deixando claro quem é o lado conservador e progressista. Alias, sem prejuízo para nenhum lado, já que são duas opções clássicas e históricas no mundo ocidental.

  • 3. à²õ 03:29 PM em 21 out 2010, Rodolfo escreveu:

    Concordo com o Lucas. Houve tendência política favorável ao PSDB da parte do jornalista. Além de não indicar o envolvimento da religião na campanha tucana, há também uma insinuação no começo do texto nas orações "Luiz Inácio Lula da Silva, que a esta altura do campeonato acreditava já poder estar opinando sobre o ministério de Dilma Rousseff, sabe que existe uma real possibilidade de ter de devolver a faixa presidencial ao PSDB". Peço a ´óÏó´«Ã½ que retorne à sua postura neutra para manter sua credibilidade jornalística.

  • 4. à²õ 02:02 PM em 22 out 2010, Tiago Nogueira escreveu:

    Segundo a candidata do PT Dilma, o aborto é uma questão de saúde publica.
    Também disse que o número de mulheres que realizarão aborto no ano de 2009 foi de três milhões e quinhentas mil.
    Vocês querem dizer que três milhões e meio de mulheres foram violentadas ou correrão risco de vida?
    É claro que não, alguns casos sim foram resultados de violência sexual ou risco a vida da mãe, mas acima de tudo nos mostra a banalidade com que tem se matado três milhões e meio de crianças inocentes somente no ano passado. Que foram geradas por muitos casos de infidelidade de casais de amantes, jovem que não se preocupam com a sua própria saúde, pois gravidez é uma das conseqüências do sexo assim como a AIDS.
    Se banalizarmos o aborto automaticamente o número de pessoas com o vírus do HIV ira aumentar violentamente, pois a maior preocupação é não ter filhos e não o risco de contrair essa doença fatal.
    Isso sim é uma questão de saúde publica!

    Pense bem nisso!!!!!!!!!

  • 5. à²õ 02:53 PM em 22 out 2010, Fernando escreveu:

    Parabenizo a qualidade da cobertura jornalística das Eleições 2010 realizada pelo site da ´óÏó´«Ã½ Brasil. O site se atém a debater temas importantes, diferente de outros, que criam temas, e arrastam a opinião pública para o vazio de idéias.

  • 6. à²õ 09:54 PM em 22 out 2010, Iris Cristinna escreveu:

    Tiago Nogueira, os homens são, em sua maioria, quem não aprovam o aborto. Logicamente não ficam 9 meses esperando a dor do parto e, muitas vezes, não assumem a criança. É fácil, dessa percepção, dizer que a mulher é uma assassina. No entanto já pensou o quão hipócrita é a mãe que, por preceitos religiosos (um exemplo), deixa a criança "viva", mas na rua? Ou no orfanato? Tanto uma quanto o outro são dignos de transtornos psicológicos para um filho.
    Não discordo a respeito do medo para com o aumento da AIDS no país, Devemos pensar, porém, que haverá uma maior política de conscientização a respeito do verdadeiro uso da camisinha. Principalmente com os adolescentes, que ainda hoje têm medo de conversar sobre sexo.

    A respeito da matéria. Sou jovem e esse é meu primeiro ano com título eleitoral (que por sinal, não presta para p**** nenhuma) e já estou absurdamente triste com tamanho desvio do discurso eleitoral (o que mais temos nesse país hoje é desvio, nada mais "natural" que nas propagandas também haja, não é?). Meus familiares me garantem que em todo ano de eleição é assim, indiretas-diretas para todos os lados. Caso daqui há quatro anos, porém, continuar dessa maneira, prefiro pagar a multa de R$3,50 a escolher quem é o melhor nas críticas.

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