2011, um ano difícil
Tudo indica que será um ano difícil. Na Europa, políticos tentam salvar a União Europeia por meio de pacotes de ajuda financeira a países já endividados que lutam para retomar um bom nível de crescimento. Greves gerais e protestos de rua, cenas já vistas desde 2008, devem se tornar mais frequentes. Governos, como o da Irlanda, podem não resistir à pressão e se render ao apelo por novas eleições. Nos Estados Unidos, um presidente enfraquecido tentará governar sem o apoio da Câmara dos Representantes. No seu caminho, estará uma economia em lenta recuperação, até agora insuficiente para reduzir a alta taxa de desemprego. O mundo seguirá dividido em dois, com a parte desenvolvida empacada e endividada e o lado emergente crescendo em poder econômico e confiança política. A China tentará equilibrar a delicada equação envolvendo crescimento/moeda/comércio internacional, e a Índia continuará correndo para reduzir o nível de pobreza, condição em que vive 70% da sua população. Somados a isso tudo, a recente preocupação com ataques terroristas, a crescente tensão na Península Coreana e a possibilidade de que a Questão Palestina chegue a um momento de tudo ou nada deixam claro que 2011 promete.
É neste mundo que começará o governo de Dilma Rousseff, em 1º de janeiro. A vitória da ex-ministra, uma figura pública pouco conhecida no início da campanha eleitoral, mostra como os brasileiros estão satisfeitos com o governo que a apoiou, após oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva no poder. Mas os desafios de 2011, alguns deles descritos acima, que nem incluem a luta contra o crime organizado no Rio de Janeiro, podem fazer do primeiro ano um dos mais difíceis para a primeira mulher presidente do Brasil. Economistas e políticos não descartam uma nova crise financeira semelhante à ocorrida em 2007/2008. O sistema como um todo ainda não se recuperou, com os bancos irlandeses, por exemplo, ainda incapazes de operar normalmente. Sua fragilidade ameaça os bancos britânicos, suíços, franceses, americanos etc, etc. O euro, a segunda maior referência monetária no globo, pode perder ainda mais fôlego e até mesmo desaparecer. A instabilidade no Primeiro Mundo pressiona o mundo emergente, com suas altas taxas de juros e entrada indiscriminada de capital, o que ameaça o equilíbrio da sua economia e sua capacidade produtiva. O mundo seguirá perigoso, inclusive para o Brasil.
Dilma Rousseff anunciou pequenas mudanças na equipe econômica que ganhou do presidente Lula. Aceitou manter Guido Mantega na Fazenda, mas mudou o comando do Banco Central, tirando o banqueiro/político Henrique Meirelles e optando pelo técnico Alexandre Tombini. Ainda é cedo para avaliar o impacto da nova formação, mas os poucos dias de especulação sobre a equipe de Dilma foram suficientes para mostrar quão delicado é o momento econômico em qualquer parte do mundo. O mercado acompanhou de perto os rumores e chegou a apostar, a favor ou contra, no resultado que ainda viria. O mundo está volátil, sensível e precisa de um Brasil que cresça, compre, venda e tome as decisões corretas. Mundo afora, qualquer marola, mesmo uma marolinha, pode complicar até mesmo a vida de um país de robusto e constante crescimento. A diferença de outros momentos da história é que hoje o Brasil está no centro das decisões, ou pelo menos bem mais próximo dele. Não é simples alvo de remédios amargos ditados pelo Fundo Monetário Internacional para partes do mundo com a saúde debilitada. O Brasil hoje faz parte da receita e do tratamento, apesar de também poder ser contaminado e vir a adoecer. Em seu primeiro ano, Dilma governará em um mundo em situação delicada e repleto de riscos. Suas decisões podem ajudar a conter ou agravar um cenário de chuvas e trovoadas no horizonte.
dzԳáDzDeixe seu comentário
Apesar de tudo acredito que o cenario para o Brasil sera bastante positivo se a nova equipe de ministros exergar o mercado interno como propulsor da economia nacional, se não é esperar para a melhoria nas econmias internacionais...
Concordo com o comentário acima. O Brasil veio se consolidando nos últimos anos, diferentemente do pseudo-crescimento de outras nações, que muito se basearam em aspectos puramente especulativos. As políticas até certo modo anti-cíclica e não ortodoxas para uma época de crise mundial, tais como não reduzir investimentos públicos, apostar em programas de transferência de renda, apoiar o setor de construção (ideia que o próprio finado Sen. Jefferson Péres me expôs) etc., mostraram à sociedade que o caminho do trabalho e produção é mais concreto e sólido. A teoria da dependência parece que, felizmente, perdeu espaço no Brasil e embora seguramente teremos dificuldades das dimensões continentais de nosso país, as bases são mais sólidas.
Um abraço!
Eduardo