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A bola é dos emergentes

Rogério Simões | 2010-12-02, 16:37

copaafricablog.jpgMais uma vitória da turma que vem de baixo. Depois de Pequim-2008, África do Sul-2010, Brasil-2014 e Rio de Janeiro-2016, vem aí uma nova safra de grandes eventos esportivos no mundo emergente. A Fifa decidiu levar pela primeira vez a Copa do Mundo para a Rússia, em 2018, e quatro anos depois para o Catar, primeiro país do Oriente Médio a receber o torneio. Os representantes ingleses lamentaram a escolha, cientes de que se trata de muito mais do que uma derrota pontual. Como disse à ý o ex-atacante e hoje comentarista Alan Shearer, lembrando que tecnicamente a candidatura da Inglaterra era impecável: "Se não conseguimos trazer [a Copa] agora, fica a pergunta se conseguiremos um dia".

Os russos voltarão a ser o centro do esporte mundial 38 anos depois que o urso Misha comoveu o mundo, mostrando um lado mais sensível e poético do regime soviético. Aqueles eram tempos da Guerra Fria, e a Copa ocorrerá em uma nova Rússia, dentro de um mundo transformado. O anúncio da vitória russa foi feito no mesmo dia em que o jornal britânico The Guardian expunha na sua manchete principal: com reportagem baseada em material divulgado pelo Wikileaks. O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, decidiu não ir a Zurique para acompanhar o processo de escolha da sede da Copa, segundo ele, "em respeito aos membros do Comitê Executivo da Fifa". O premiê disse que uma campanha maliciosa e mentirosa estava sendo feita contra a entidade que comanda o futebol mundial. Mesmo sem citar a ý, ele provavelmente referia-se ao programa Panorama, que foi ao ar na segunda-feira acusando três dirigentes do comitê, incluindo o brasileiro Ricardo Teixeira, de terem recebido propinas de uma empresa de marketing nos anos 90. Impossível saber o peso que a ý ou a declaração de Putin teve no resultado final, mas o fato é que a Inglaterra foi eliminada na primeira rodada de votos, e a Rússia realizará sua primeira Copa do Mundo.

O que poderia ser apenas uma preferência técnica ou mesmo uma decisão política ganha peso diferenciado ao lado da escolha para 2022 e os destinos de outros grandes eventos da atualiade. O mundo emergente cresce e acumula recursos, ao mesmo tempo em que conquista a simpatia e a confiança de dirigentes esportivos. O Brasil sediará a Copa do Mundo e a Olimpíada, uma em seguida da outra, enquanto a China organizou impressionantes Jogos Asiáticos dois anos depois dos Jogos de Pequim. Tivemos em 2010 a primeira Copa na África e teremos em 2022 a primeira no Oriente Médio. A Fifa, assim como o Comitê Olímpico Internacional, parece ter decidido apostar na expansão territorial do esporte e na força econômica de novos atores no cenário global. Depois de 44 Olimpíadas e Copas do Mundo realizadas na Europa Ocidental ou nos Estados Unidos, o antigo mundo subdesenvolvido transforma-se aos poucos no palco das grandes disputas esportivas.

Não é uma mudança sem riscos, pelo contrário. O Mundial sul-africano ocorreu sem grandes incidentes, além da precária infraestrutura de transporte e alguns registros de crimes de menor gravidade. Mas os Jogos do Commonwealth, neste ano em Nova Déli, tiveram graves problemas de planejamento e realização, inclusive com acidentes durante as obras, que por pouco não comprometeram o evento. A Rússia terá pela frente um desafio ainda maior que o do Brasil, que já é enorme, em termos de infraestrutura para estádios e transporte. Se a criminalidade brasileira exige investimento extra das autoridades, o terrorismo será um tema ainda mais preocupante para a Copa russa, assim como para o Mundial do Catar, escolha criticada pelo presidente americano, Barack Obama. Em 2022, a bola vai rolar numa região extremamente volátil polticamente, onde admiradores de Osama Bin Laden cruzam fronteiras diariamente, o que será um pesadelo para esquadrões antiterrorismo responsáveis pela proteção de dezenas de milhares de turistas/torcedores. Os desafios são enormes, assim como o risco de grandes desastres. A Fifa deve apostar que o tempo de preparação e os recursos hoje abundantes nas nações emergentes sejam suficientes para vencê-los.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 01:48 AM em 03 dez 2010, Micky Oliver - MG escreveu:

    Nada mais natural e justo do que a escolha para esses países.
    Os EUA estão reclamando do que? Eles por acaso amam o futebol como nós ou os russos ou os árabes? Não!
    O mundo mudou e continua mudando e queiram eles ou não,é a realidade. Chega de competições na europa!
    Eu estava torcendo por eles e venceram.
    Adorei o resultado!
    Parabéns a FIFA!

  • 2. à 03:29 PM em 14 dez 2010, João Leo Pinto Lima escreveu:

    Gostaria de comentar sobre os impactos que este tipo de ação tem em todos os setores da economia. Eu sou intérprete da Millennium e em nosso site já é possível ver em quantos eventos fizemos a tradução simultânea de temas relacionados com a preparação para a Copa e para os Jogos Olímpicos, tais como impactos no turismo, melhorias em infra-estrutura etc. E olha que estamos em 2010 apenas!!!
    Parabéns para FIFA e para o COB ao mudar o centro destes grandes eventos mundiais e ajudar a levar desenvolvimento àqueles que mais precisam também (e como no comentário acima, que amamos e temos mais títulos em futebol, volei e em diversos outros esportes!)
    çDz
    Leo

  • 3. à 10:50 AM em 02 fev 2011, JAIR CUNHA escreveu:

    ESTÁ NA HORA DE ESTADUNIDENSES E EUROPEUS RECONHECEREM QUE A VEZ DELES JÁ PASSOU E QUE ELES NÃO SÃO O CENTRO DO MUNDO.

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