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Guerra e paz na política

Rogério Simões | 2011-01-12, 17:44

euapoliticablog.jpgEm 2010, brasileiros e americanos foram à²õ urnas. Nos dois países, a coisa esquentou. O passado de candidatos, alusões a Deus, referências a temas polêmicos e de foro individual, como homossexualismo ou aborto, foram transformados em armas de campanha. Ambas as disputas, pela Presidência, pelo Congresso e por Estados no Brasil e pelo Congresso e governos estaduais nos Estados Unidos, foram tratadas pelas facções políticas como batalhas decisivas. Eram casos de vida ou morte. Se o adversário vencesse, o mundo acabaria, ditaduras seriam estabelecidas, liberdades seriam confiscadas, conquistas sociais seriam interrompidas. A derrota estava fora de cogitação, e a palavra era vencer ou vencer. O clima era de tensão e confronto.

Brasil e Estados Unidos são democracias estabelecidas, mesmo que a brasileira tenha apenas 25 anos. Como tais, sobreviveram à abertura das urnas. Todas as disputas do ano passado nas duas maiores potências das Américas tiveram vencedores e perdedores, e a vida seguiu em frente. Uma certa paz estabeleceu-se após a guerra eleitoral. No Brasil, especificamente, uma relativa reconciliação pôde ser vista na imprensa, com veículos e articulistas antes críticos de Dilma Rousseff recebendo positivamente os primeiros pronunciamentos da nova presidente. Dilma foi elogiada por comprometer-se com a estabilidade econômica e o combate à inflação, por defender a liberdade de imprensa e por seu discurso comedido. O "estilo Dilma" chegou a ser descrito como gerencial, priorizando a eficiência e os resultados, bem diferente da figura essencialmente política que é Luiz Inácio Lula da Siliva. A relativa pacificação também pôde ser vista nas relações partidárias, com adversários aparentemente dando tempo e espaço para a nova ocupante do Planalto acostumar-se com a cadeira. O novo governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, até declarou seu apoio ao trem-bala federal, projeto várias vezes criticado por José Serra na campanha. O espírito de colaboração também parece prevalecer, pelo menos por enquanto, diante das tragédias provocadas pelas chuvas no Sudeste.

Os Estados Unidos têm um calendário eleitoral diferente do brasileiro. A maioria das cadeiras do Legislativo federal é renovada no meio do mandato do presidente, em uma disputa que dá o tom do que será a luta pela Casa Branca dois anos depois. Para Barack Obama, o embate com republicanos com sede de vingança foi apenas um aperitivo para o que promete ser uma sangrenta batalha em 2012. A trégua americana parece ter sido breve, e o período pós-eleitoral é também preparatório para a próxima guerra. Mas, mesmo para os que compreendem ou até mesmo apreciam o caráter apaixonado do jogo político americano, o conflito pode ter ido longe demais. O atentado contra a deputada democrata Gabrielle Giffords, no Arizona, em que outras seis pessoas foram mortas, parece ter servido de alerta para muitos americanos sobre o perigo dos discursos políticos radicais. É verdade que a ligação entre o detido pelo ataque, o jovem Jared Loughner, e as disputas políticas nos Estados Unidos não está estabelecida. Tamanha violência, no entanto, envolvendo uma líder política em ascensão durante evento com seus eleitores, foi suficiente para iniciar uma discussão no país sobre a qualidade do seu debate político.

O principal alvo das críticas tem sido a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin. Giffords havia condenado a propaganda política de Palin que marcava com alvos de rifles os deputados democratas que ela esperava ver derrotados no ano passado. Giffords era um deles. Sarah Palin reagiu e, em uma mensagem em vídeo, condenou o que chamou de "calúnia de sangue", referindo-se a insinuações de que sua atuação teria inspirado os atos do assassino do Arizona. A mensagem de Palin sugere que a possível futura candidata a presidente esteja preocupada com as consequências da tragédia. Muitos acreditam que suas chances de ser indicada para enfrentar Obama daqui a dois anos se evaporaram. Numa tentativa de aliviar as tensões, Obama pediu união e o fim das acusações partidárias.

A política americana, que já vinha de uma década de polarização, fruto da Era Bush, ficou ainda mais radicalizada com a crise na economia. O momento nos Estados Unidos é delicado e exige que moderados assumam o controle se quiserem evitar o avanço da intransigência. Já o Brasil vive um cenário de prosperidade econômica, com boas perspectivas para o futuro, o que favorece o entendimento. Mas nada garante que a trégua dada a Dilma Rouseff seja duradoura ou que seu governo não enfrente percalços. A democracia prevê o confronto de ideias, propostas e interesses, e a unanimidade é um conceito perigoso para qualquer sociedade que almeja ser livre. Se mantida dentro das regras da civilidade e do jogo democrático, a guerra política pode ser tão importante quanto a paz.

°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário

  • 1. à²õ 07:25 PM em 21 jan 2011, BM escreveu:

    "homossexualismo"?

  • 2. à²õ 12:33 PM em 24 jan 2011, Rogerio Simoes escreveu:

    Caro BM, o homossexualismo foi explorado como tema de campanha pelo então candidato republicano a governador de Nova York, Carl Paladino, que criticou abertamente o movimento gay. Após forte reação, Paladino desculpou-se pelos comentários.

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