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Roupa barata: comprar ou não comprar?

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Iracema Sodre | 2008-07-09, 19:46

Para começar, vou confessar os meus pecados. Pouco depois que cheguei a Londres, há quase cinco anos, descobri a Primark. Eu, que era estudante, e tinha um orçamento que podemos chamar de limitado, não podia acreditar que havia uma loja onde era possível comprar blusinhas por uma libra (cerca de três reais), calças jeans por três e jaquetas por menos de dez. As roupas são bonitinhas, inspiradas em modelos exibidos nas passarelas, mas a qualidade deixa a desejar, claro. Mesmo assim, ainda é melhor que a de algumas lojas "de marca" no Brasil.

Então, ótimo. Roupas bonitas e baratas em Londres. Eu não sabia que era pecado, mas era. Descobri duas semanas atrás, quando uma reportagem investigativa para o programa Panorama, da ý, mostrou que algumas das roupas da Primark eram feitas por crianças trabalhando em péssimas condições em favelas e campos de refugiados na Índia.

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Não se pode dizer que isso é exatamente uma surpresa. Se pensarmos um pouco, é difícil acreditar que algo que foi produzido do outro lado do mundo possa custar tão barato e ainda dar lucro para alguém (já que, obviamente, a Primark é uma empresa que vai de vento em popa e isso não acontece com quem vende roupas por menos do que o preço de custo).

Como dizem os especialistas em comércio ético, alguém está pagando pelas suas roupas e produtos baratos, seja com salários baixíssimos, péssimas condições de trabalho ou práticas duvidosas, como o uso de pesticidas nas plantações de algodão, tintas sendo despejadas em rios ou maus-tratos de animais.

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Mas, segundo redes como a Primark, os preços baixos são fruto de uma combinação da produção em grande escala, dos poucos gastos com publicidade e de lojas gigantes, de gerenciamento barato.

Assim que o escândalo de trabalho infantil foi exposto, a Primark encerrou os contratos com três fornecedores e fundou uma instituição em benefício de crianças. A loja tem um comitê de ética e diz que faz o possível para inspecionar e garantir que as leis sejam respeitadas nos locais onde suas roupas são produzidas. Mas a Primark alega que é quase impossível controlar os subcontratados de seus contratados.

E agora? É condenável continuar comprando nessas lojas baratas? Será que comprar roupas mais caras é garantia de que elas são produzidas "eticamente"? Os especialistas dizem que não. Roupas caras podem ser produzidas na mesma fábrica chinesa que o vestidinho de cinco libras da Primark.

O segredo seria descobrir de onde vêm e como são produzidas as roupas vendidas em cada loja. Tarefa complicada. Hoje em dia, todas as lojas por aqui se dizem "éticas", contra o trabalho infantil e outros abusos, e dizem fazer auditorias rigorosíssimas. A Primark era uma delas, antes da denúncia.

Essa é a questão. Estou dividida entre comprar as roupas de uma libra e depois ficar pensando se não estou financiando o trabalho infantil ou ficar interrogando gerentes de loja para saber a procedência dos produtos e ainda assim ficar com a pulga atrás da orelha quando voltar para casa com as sacolas cheias.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 01:35 PM em 10 jul 2008, Carlos escreveu:

    Nao se preocupe tanto assim... Se voce olhar os produtores das outras grandes lojas de departamentos e mesmo de marcas, a maioria também contrata serviços de terceiros, que por sua vez contratam os serviços mais baratos possíveis.
    Entao ao entrar na Debenhans, Selfridge, House of Frasier e ate mesmo na M&S, nao tenha certeza de que por estar pagando mais eles nao estao utilizando servicos infantis ou qualquer outro sub empregado.

    Uma duvida. Para postar neste blog eh preciso ser jornalista da ý?

  • 2. à 02:04 PM em 10 jul 2008, Iracema Sodre Author Profile Page escreveu:

    Carlos,

    Respondendo a sua pergunta, sim, o London Talk é feito pela equipe da ý Brasil aqui em Londres. Mas se tiver sugestões, elas serão sempre bem-vindas. Obrigada pela participação.

  • 3. à 06:58 PM em 10 jul 2008, Ana Fernandes escreveu:

    Meu Deus!
    e eu achando que tinha feito um ótimo negócio comprando roupas na primark!! realmente...é muito preocupante!
    Mas eu já ouvi dizer também que as roupas da Zara (que muitas vezes vêm do Camboja) são fabricadas nesse mesmo esquema de exploração. Não sei se é verdade, mas no mundo de hoje parece que vale tudo pra produzir e vender os produtos né! (caros ou baratos!). Há muito tempo atrás eu li uma matéria que dizia que grifes como a prada e a armani compravam peças produzidas por empresas terceirizadas que exploravam imigrantes ilegais. Tá vendo... o mundo tá complicado. Acho que cada um tem que fazer a sua parte.
    Eu vou interrogar os gerentes...

  • 4. à 07:42 PM em 10 jul 2008, Pablo escreveu:

    Que duvida cruel, se a gente compra sem saber tudo bem, mas agora que sabemos é, na nossa cabeça, quase um pecado comprar a roupa barata e ajudar o trabalho infantil.
    Se eu gosto eu compro, as autoridades que cuidem do trabalho escravo.
    Que feio, imagina se todo mundo pensar assim ? hahahaa
    Melhor não comprar e ficar com a mente tranquila né.

  • 5. à 07:00 PM em 11 jul 2008, Eduardo Caetano escreveu:

    Simples. Passarei eu mesmo a cultivar meu campo de algodão e costurar minhas ropas. Usarei peles de caça também. Sem trabalho escravo.
    Enquanto não compro a fazenda de algodão vou andar nu por ai.

  • 6. à 06:14 PM em 12 jul 2008, Joao escreveu:

    Agora entendi porque a costura das roupas deles são tão ruins... Deviam mudar de fornecedores, quem sabe pro campo de refugiados afegãos na Grécia. Lá é Europa, e eles são civilizados.

  • 7. à 06:27 AM em 13 jul 2008, Luiz Carlos escreveu:

    A primeira preocupação é com o dinheiro que voce tem. Ai vem a seguinte questão: Para quem se liga em marcas, sugiro pagar mais caro. Mas para quem não se liga com marca, como eu. Se a roupa é de qualidade boa, eu compro sim. Fica muito dificil de saber se as roupas são fabricadas atravês de pessoas exploradas ou não.

  • 8. à 03:15 PM em 13 jul 2008, gemima escreveu:

    É muito complicado saber as procedências dos produtos que você compra , digo que é praticamente impossível.
    Eu quero fazer curso de corte e costura e produzir minhas próprias roupas.Mas fica ainda questão: como foi produzido este pano e por quem?
    Estamos numa rota capitalista.
    Mas podemos ser éticamente corretos ao pensarmos de forma sustentável.

  • 9. à 02:13 PM em 15 jul 2008, ѳܲٲá escreveu:

    O que é difícil para as pessoas de modo geral entenderem, que o problema não esta somente na forma como as roupas são produzidas ou por quem são produzidas, essa denúncia é um sintoma, de uma doença muito mais grave, a sociedade se organizaou e firmou-se de tal maneira que é inevitavel o sacrifício de determinado número de seres humanos para que uma parcela menor possa viver,e quando escrevo isso tenho a consciência de que isso é inerente ao local que se more, é assim no mundo todo, não falo com o conformismo no tom de minhas plavras mas com a certeza da veracidade de um fato que nos é mostrado todo santo dia, mas não somos capazes de ver a doença em si, vemos sintomas, aqui e ali, por serem tão crueis consideramos casos isolados, mas não o são. É tudo interligado da maneira como vivemos em sociedade, muito mais que cruel, é a verdade, hoje para 3 pessoa viverem é preciso que outras 10 sejam mortas.Nossa incapacidade de lidar com nossa própria espécime nos leva a brutalidades que estam, e vão causando sintomas cada vez mais inreversiveis. Parece complexo, mas não é, para que 1 uma pessoa tenha roupa boa e barata é preciso que 5 pessoas fiquem peladas. Considerem exagero meu, mas só quem ja sofreu com a crueldade humana, e lidou com ela todos os dias entende o que estou a dizer. Criamos um sistema em que uma parcela da população nunca irá sofrer com dores reais, para que outra parcela muito maior simplesmente padeça com as infernidades da vida, como fome, frio, violência. E protegemos esse sistema a cada dia, mesmo que incosciente, por que a maioria das pessoas ja não saberiam viver de modo diferente, e o medo que a mudança causa. A muito mais no seu texto menina que uma simples denúncia. Fico por aqui.

  • 10. à 07:30 PM em 16 jul 2008, Julia Sant'Anna escreveu:

    Dear, you do have a point! Uma coisa a se comemorar é o grande número de pessoas que já pensam como você. O que tenho feito com freqüência é evitar roupas com etiquetinha de países que têm relações trabalhistas pra lá de flexíveis. Isso já facilita um pouco. Mas não resolve, sem dúvida... ;-)

  • 11. à 08:08 AM em 17 jul 2008, Luciana escreveu:

    Preco barato pode ser indicativo de empresa sem etica, mas nao quer dizer tudo. Outra reportagem mais antiga denunciou a GAP, que, digamos, nao tem precinhos Primark, usou Madonna como garota propaganda e se diz mais elitizada....

  • 12. à 09:55 PM em 17 jul 2008, L.Sutton escreveu:

    Como muitos assiti o programa na bbc sobre o trabalho das criancas. Aqui todos se preocupam, pois estas criancas deveriam estar na escola.
    Agora eu pergunto: Ha escolas para estas criancas?
    Eu particularmente nem entro mais na Primark a qualidade deixa muito a desejar. O barato sai caro!!!

  • 13. à 01:57 PM em 18 jul 2008, David escreveu:

    Acho que a solução é única, sair sem roupa, o problema seria o frio é claro... Brincadeira... Mas sinceramente, o que se pode fazer, se tanto as lojas de roupas caras ou roupas baratas podem fazer uso da mesma mão-de-obra exploradora e abusiva?
    É complicado. Como diria minha professora na Universidade "ser bom é fácil o difícil é ser justo".

  • 14. à 09:20 AM em 21 jul 2008, Luiz Mazzoni escreveu:

    Nao me preocupo com este fato, pois ao menos aquele povo esta empregado e vivendo.
    a GAP foi a primeira firma a ser exposta com este esquema alguns anos onde pagavam £0.50 por uma cueca e a mesma era vendida a £17.00 nas lojas de Londres.
    Se os paises ricos deixassem de estorquir o povo com taxas a mao de obra seria mais barata e competitiva, mas o governo nao abre mao da sua fatia de graca que tira dos contribuintes.
    A DYSON foi outra que fechou as portas e se mudou para a Malasya onde la pode produzir com menos gastos.
    Nao me importo quem ou onde sao produzidas estas roupas, o que me importa e o preco barato.Se os governos estao TAO preocupados porque eles nao melhoram as condicoes destes paises pobres? Zimbawe e exemplo tipico....mas la nao tem OLEO !So pobres oprimidos...vamos deixar de ser hipocritas!

  • 15. à 01:42 PM em 21 jul 2008, Eduardo Caetano escreveu:

    Lembrando que isso ocorre no Brasil também. Não podemos fechar os olhos para os bolivianos escravizados nas confecções do Brasil. Até a famosa C&A já esteve envolvida em caso semelhante, vide "www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=617"

  • 16. à 04:11 PM em 21 jul 2008, Ana escreveu:

    Resumindo: O barato pode envolver trabalho semi-escravo e descaso com impacto ambiental. O caro também. E nunca dá pra ter certeza.

    Resumindo: não há solução...

  • 17. à 07:25 PM em 21 jul 2008, Paula escreveu:

    Gostaria de saber se existe algum site ou alguma ong de confianca que divulga quais lojas ou marcas sao confiáveis?

  • 18. à 08:05 PM em 24 jul 2008, luizcarlos de magalhaes escreveu:

    Ficar na dúvida entre comprar barato ou caro por não saber a procedência nem como é feito o produto é da maior infantilidade pois enquanto houver pessoas capazes de vender a própria alma para viver em vão serão os esforços das autoridades para conter a atividade éticamente incorreta. Ficar sem comprar um bem necessário para o seu dia -dia não vai resolver o problema.

  • 19. à 11:50 PM em 28 jul 2008, maria aparecida oliveira fernandes escreveu:

    quero ser vendedora

  • 20. à 03:40 PM em 09 ago 2008, Իé escreveu:

    Bom dia Iracema...

    Gostei muito de sua observaçao.
    Indico a você e seus leitores os dois livros publicados, escritos pela autora canadense Naomi Klein.

    No Logo
    The Shock Doctrine

    Um fala sobre os abusos deste tipo de mao de obra, pelas grandes companhias.
    O outro sobre o modo como grandes companhias e governos se aproveitam de situaçoes de desastres naturais e perdas irreparáveis vividos por uma populaçao, para dominarem e incutirem suas idéias e interesses político-econômicos, no processo de reestabelecimento social.
    Percebemos com isso, que nao somente as companhias que comercializam marcas baratas se utilizam desse tipo de mao de obra. Você se surpreenderá.

    ç.

  • 21. à 12:35 PM em 12 abr 2009, Beatriz escreveu:

    eu na minha opiniao continuaria sim compramdo nas lojas primark, sabe porque? É melhor as criancas trabalhando do que se envolver em violencia e bandidage,eu desde crianca trabalho,e agradeco por isso. mas é claro q tem q estudar tambem. mas trabalhar nao faz mal nenhum.

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