Música estranha pra gente esquisita
Oliver Mtukudzi, uma estrela zimbabuana da grandeza de um Gilberto Gil (foto aí embaixo), me deu um aperto de mão esses dias.
Tudo bem, concedo, talvez a maioria dos brasileiros aqui na Inglaterra prefira Mick Jagger ou Paul McCartney - mas suspeito que por onde circulo não passam exatamente as cobiçadas estrelas do pop.
Se bem que é mais ou menos isso que virou o grupo Tinariwen, banda do Mali que caiu nas graças do mundo ocidental misturando guitarras de rock e blues com hipnóticas melodias tuareg. Tornou-se uma espécie de fenômeno de vendas e de público.
Pois outro dia, após um show do grupo que deixou a platéia esvaída, passei uma boa hora conversando e até trocando email com os seus integrantes, junto com uma amiga que desde então não pára de falar em planos de viagem para o país.
Groupies da world music? Que seja. Não é todo dia que se assiste, a dois metros de distância, a uma apresentação do camaronês Manu Dibango, autor de Soul Makossa, a canção que inspirou Michael Jackson em seus bons tempos (o leitor recordará do final de Wanna Be Starting Somethin', "mama-ko, mama-sa, ma-ka-ma-kos-sa"...).
Vivendo em Londres, é impossível torcer o nariz para a facilidade de se abrir a Time Out qualquer dia e escolher o show de um artista de qualquer - literalmente qualquer - estilo ou origem. Do flamenco fusion de um Ojos de Brujo às canções melódicas como as nossas da cabo-verdiana Mayra Andrade, passando por uma apresentação de músicos de Bollywood ou de tradicionais mariachis mexicanos.
É verdade que mesmo no Brasil há algumas oportunidades. Em São Paulo já consegui assistir, de última hora, a uma apresentação do argelino Rachid Taha, que lota platéias em Paris e tocou para relativamente poucas pessoas na choperia do Sesc Pompéia.
Na internet, os interessados podem acompanhar em português aos programas da rádio web , transmitida de Porto Alegre.
Já uma amiga de Belo Horizonte certa vez reclamou do público escasso que acudiu a ver os cubanos do Buena Vista com seu mais novo talento, o virtuoso pianista Roberto Fonseca, que faz jus ao saudoso Rubén González.
Roberto Fonseca, aliás, que vi pela primeira vez em apresentação solo no Jazz Café, uma de minhas casas favoritas de show em Londres, onde se pode até sentar no palco, de cerca de três metros por quatro.
Aqui na Inglaterra, o Buena Vista da Etiópia, Éthiopiques, teve direito a palco e transmissão ao vivo pela TV no festival de Glastonbury.
Vitrine melhor, impossível. Mais que isso, só aproveitando a facilidade - também incrível, mais que em qualquer outro país da Europa, que eu saiba - de chegar ao aeroporto, comprar uma passagem pra onde apontar a veneta e sair in loco caçando música por aí.
Interessado em baixar em um festival em Zanzibar ou na ilha do Sal, dançar ao som de Femi Kuti em Lagos ou da Orquestra Baobab em Dacar, se acabar em um ensaio de escola de samba no Rio de Janeiro?
Mas aí já são assuntos pra dez outros blogs.
Aliás, alguém mencionou por aí que isso aqui é uma ilha?