As boas 'armas' de Brixton
Conheci Brixton, assim, de nome, antes mesmo de colocar os pés aqui em Londres. Fã confessa da banda inglesa The Clash, a faixa Guns of Brixton, do clássico álbum London Calling, fez com que esse lendário bairro do sul de Londres fosse uma das primeiras coisas que eu aprendi sobre a cidade.
A primeira vez que saà da estação de metrô de Brixton, na Victoria Line, foi em 2004, quando fui assistir a um filme seguido de uma entrevista com o diretor argentino Fernando Solanas, no charmoso cinema Ritzy.
Ao sair da estação, a mistura de gente é a primeira coisa que chama a atenção. Com uma imigração caribenha que chegou na década de 50 para ficar, Brixton se tornou um dos bairros mais multiculturais e interessantes da cidade. Além de um dos mais famosos - por bons ou maus motivos.
Palco de protestos violentos na década de 80 e alvo de também violentas incursões policiais - lembrem-se do caso da morte de Dorothy Cherry Groce - o bairro se tornou sinônimo de diversidade cultural, protesto, mas também de drogas, violência e um baita preconceito de gente que acha o bairro "perigoso", "sujo" ou coisa que o valha.
Pra mim, felizmente, a impressão é completamente inversa. Além de ser um pólo cultural interessantÃssimo e bem diferente aqui em Londres, Brixton é o berço de ninguém menos que Mr. David Bowie, que nasceu ali pertinho da Brixton Academy, e abriga uma diversidade cultural bem parecida com a que nós, brasileiros, estamos bem acostumados.
Por sorte minha, um casal de bons amigos brasileiros que moram em Londres há muito tempo se mudou para Brixton há uns três anos e eu passei a frequentar bastante a região, que para mim, se tornou também sinônimo de boa música.
Numa das primeiras vezes que saà por ali, esse casal me levou ao Windmill, um pub perto de um conjunto habitacional numa ruazinha escondida perto de Brixton Hill. Cinco bandas independentes excelentes numa noite de bom rock n'roll marcaram um St. Patrick's Day de primeira. Depois disso, ir ao Windmill é sempre bom programa - boa música e gente despretensiosa. E de todo tipo.
Ontem, fui andando até lá da minha casa, também ao sul de Londres. Quando a noite chegou, o mesmo casal de amigos me levou para conhecer o Effra Hall Tavern, onde, segundo eles, rolava uma jam session de jazz imperdÃvel. E pra variar, eles tinham razão.
A dona do bar abre a jam e incorpora um misto de Aretha Franklin, Nina Simone e Della Reese que me deixou boquiaberta. Semana que vem estarei lá de novo, pra experimentar a comida caribenha que eles servem no bar e curtir mais do bom jazz.
Aliás, de opções gastronômicas, Brixton também não deixa nada a desejar, mas aqui tem assunto pra mais pelo menos mais meia dúzia de posts. Aguardem.
Brixton tem realmente e historicamente, muitas armas. Pra mim, uma tradição de música de qualidade é apenas uma delas.