Um bom negócio é a melhor forma de arte
Andy Warhol dizia que ganhar dinheiro é arte, e que um bom negócio é a melhor forma de arte.
Esse polêmico ponto de vista é o que está em cartaz aqui em Londres, na galeria Tate Modern. No começo do mês, fui conferir a exposição Pop Life: Art in a Material World.
A exposição é uma retrospectiva de obras que desde o século passado provocam as reações mais extremas - admiração de outros artistas, mal-estar entre alguns crÃticos e, principalmente, rombos milionários nos bolsos de colecionadores de arte.
A exposição gerou polêmica até mesmo antes de abrir ao público, com direito a visita da Scotland Yard e tudo.
Em cartaz, vi algumas coisas que eu nunca esperaria ver em um museu ou galeria de arte. Alguns exemplos:
- uma sala inteira é dedicada à s obras que o americano Jeff Koons criou logo após seu casamento com Ilona Staller, a famosa ex-atriz pornô italiana Cicciolina. São esculturas e pinturas de sexo explÃcito entre os dois. Koons sabia da curiosidade que o casamento entre um artista renomado e uma controversa estrela pornô, ocorrido em 1991, despertou na mÃdia, e tratou de se aproveitar disso para ganhar dinheiro.
- a americana Andrea Fraser ultrapassou qualquer limite de prostituição da arte ou do artista. Em 2003, ela ofereceu-se para gravar um vÃdeo de uma hora de duração para o colecionador que oferecesse o melhor preço. Detalhe: o vÃdeo é da artista transando com o colecionador, que pagou US$ 20 mil pela obra, agora exposta no Tate.
- se um bom negócio é a melhor arte, o britânico Damien Hirst é provavelmente o maior artista vivo. Em setembro de 2008, mês do estopim da crise financeira mundial, um leilão de obras de Hirst arrecadou 95 milhões de libras (mais de R$ 260 milhões). Na exposição no Tate Modern, Hirst recriou algumas obras suas - como a famosa False Idol (foto) - mas com novos detalhes em puro ouro. Hirst confessa na exposição que o único objetivo do ouro é encarecer suas obras ainda mais junto aos colecionadores.
- um vÃdeo com a participação de Andy Warhol no breguÃssimo seriado Barco do Amor, em 1985. No episódio, Warhol interpreta a si mesmo. Ele é convidado por um cruzeiro a escolher um dos tripulantes e imortalizá-lo como obra de arte, em um retrato. A participação de Andy Warhol tem dois objetivos: promover o artista (e encarecer sua obra) e brincar com a sua crescente reputação de exibicionista, que faz tudo pela fama.
Será que um bom negócio é mesmo arte? Eu mesmo ainda não tenho certeza, mas não tenho dúvidas de que arte ou negócio formaram uma exposição espetacular e imperdÃvel.