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Uma semana de Obama

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Rogério Simões | 10:09, quinta-feira, 29 janeiro 2009

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obamapresidente1.jpgDe que serve uma semana? Muitas vezes, ela passa voando, e tem-se a impressão de que não foi possível fazer nada. Mas há quem acredite que sete dias foram suficientes para se criar o mundo... E o presidente Barack Obama? O que conseguiu fazer em sua primeira semana na Casa Branca?

Primeiro, a posse de Obama foi repleta de imagens memoráveis. Os milhões nas ruas de Washington, Aretha Franklin cantando, Obama gaguejando no juramento, músicos clássicos tocando sobre um play back. E um discurso presidencial que deveria ter comovido até os mais céticos, mas deixou muitos se perguntando o que exatamente Obama queria dizer com o que disse. Diante daquele 20 de janeiro de 2009, que já havia entrado para a história mesmo antes de ter acontecido, o mundo só queria saber agora como seria o novo governo Obama. Havia chegado a hora da verdade.

Quem esperava por uma mudança clara de rumo não se decepcionou. Nos seus primeiros oito dias de expediente no Salão Oval, Obama interrompeu os julgamentos na prisão de Guantánamo, anunciou seu fechamento definitivo em até um ano, suspendeu a proibição de ajuda a entidades que apoiem o aborto, introduzida por George W. Bush, mudou várias políticas de Bush na área ambiental (sob aplausos de ambientalistas e do governador californiano, Arnold Schwarzenegger), enviou ao Oriente Médio seu representante para a região, deu uma entrevista a uma TV árabe para dizer que os Estados Unidos não são inimigos do mundo islâmico e conseguiu aprovar na Câmara um pacote de ajuda econômica de mais de US$ 800 bilhões. Ah, Obama ainda teve tempo de ligar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e elogiar o trabalho do Brasil na área de biocombustíveis. Ufa.

Se a expectativa em torno do novo presidente americano já era grande, após uma semana repleta de ações de destaque ela deverá crescer ainda mais. Fim do embargo econômico a Cuba, normalização das relações com o Irã, paz definitiva entre Israel e palestinos, saída rápida para a maior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial, redução da emissão de gases poluentes, pacificação definitiva do Iraque e do Afeganistão... Os mais otimistas acham que Obama dará ao mundo tudo isso e muito mais. Sua inicial contribuição, entretanto, não foram as medidas, mas a sensação de que na Casa Branca existe hoje alguém claramente tomando decisões, trabalhando.

Pode-se esperar que as próximas semanas não repetirão a dose, especialmente diante dos entraves que costumam surgir na vida de qualquer governante e cuja superação não depende necessariamente dele. No Oriente Médio, o comportamento do governo americano tem enorme peso, mas o futuro próximo das relações entre Israel e palestinos depende muito mais das eleições israelenses, daqui a poucos dias. A economia ainda dará muito trabalho a Barack Obama, e combater o aquecimento global é uma tarefa muito mais difícil do que a sedutora fala do presidente americano muitas vezes dá a entender.

De qualquer forma, o mundo já vê uma grande diferença entre a nova gestão e o governo Bush, desacreditado e pouco operante em seus últimos meses e indeciso e dividido em boa parte de seus oito anos. A sensação que fica após uma semana é a de um governo com sede de realizações. Sabe-se, entretanto, que tal ritmo dificilmente será mantido. Apenas no longo prazo será possível avaliar o verdadeiro impacto de Barack Obama e seu prometido governo de mudança.

Boa sorte, presidente Obama

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Rogério Simões | 16:09, segunda-feira, 19 janeiro 2009

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obamaportrait.jpgAdeus, George W. Bush. Bem-vindo, Barack Hussein Obama. A mudança de comando nos Estados Unidos não poderia ser mais radical nem acontecer num momento mais dramático da história americana. O ano de 2009 começou com notícias ainda mais negativas no cenário econômico doméstico, assim como em outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Também começou com mais um sangrento capítulo da guerra entre árabes e judeus na Terra Santa. Se o mote da campanha do candidato Obama foi "esperança", ou a "audácia da esperança", como diz um dos seus livros, este ano novo já mostrou o tipo de desafio que espera esse sentimento.

"Sim, nós podemos", dizia Obama. Inicialmente, a frase estava ligada à hercúlea tarefa de colocar pela primeira vez um negro na Casa Branca. Mas e agora? O que poderá mesmo fazer o presidente Barack Obama? Por pouco o presidente da esperança não teve sua posse prejudicada por frescas imagens de corpos de crianças palestinas mortas pelos tanques israelenses. Israel concordou com a tese de um cessar-fogo unilateral, seguido por uma trégua do grupo Hamas, e o mundo pode agora concentrar suas atenções nas festas em Washington DC. Mas o conflito na Faixa de Gaza foi apenas interrompido. Não foi vencido, nem perdido. Por ninguém. O que sobrou foram . Palestinos e israelenses continuam em compasso de espera. À espera de Obama.

O presidente Bush talvez tenha sido o maior amigo que Israel já teve, como políticos israelenses gostam de lembrar. Mas também abraçou oficialmente a idéia de um Estado palestino existindo ao lado de Israel. E fez várias viagens ao Oriente Médio, encontros, conferências, reuniões. A última, no final de 2007, em Annapolis (EUA), visava obter um acordo sobre a criação do Estado palestino em 12 meses. Não chegou nem perto. Vem Obama, e com ele a esperança. Mas um lugar onde o discurso do novo presidente ainda custa a ter efeito é o Oriente Médio. Israelenses, que perdem o amigo Bush, não sabem direito o que esperar do sucessor. Palestinos, com seus mais de 1.200 mortos em Gaza, seguem sem motivos para confiar em um futuro melhor.

Obama pode dar aos americanos e a grande parte do mundo um futuro melhor, de mais diálogo, numa nova relação entre o governo americano e seus cidadãos e entre a Casa Branca e a comunidade internacional. Ele pode até acabar repetindo Franklin Roosevelt e conseguir, com o tempo, recolocar a economia dos Estados Unidos nos trilhos. Mas resolver o conflito entre Israel e os palestinos poderá ser ainda mais difícil. As fronteiras indefinidas de Israel, os assentamentos judaicos em terras palestinas, as divisões internas palestinas, os mísseis do Hamas, os bombardeios israelenses, a polêmica sobre o futuro de Jerusalém... Tantos problemas teriam de ser solucionados nos próximos quatro (ou oito) anos. Esperança, infelizmente, não será suficiente. Boa sorte, presidente Obama.

A imprensa longe de Gaza

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Rogério Simões | 18:19, sexta-feira, 9 janeiro 2009

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gazaescombros.jpgHá poucos jornalistas hoje na Faixa de Gaza. Duas semanas depois de Israel lançar uma ampla campanha militar contra o território palestino, com bombardeios aéreos e invasão terrestre, com o declarado objetivo de interromper lançamentos de misseis do grupo Hamas, a imprensa estrangeira segue vetada. ý, CNN, ITV, ABC, NBC, CBS, The New York Times, The Times, The Guardian, Le Monde, El Pais, a imprensa brasileira, argentina, japonesa etc, as agências internacionais, enfim, os grandes veículos de mídia estão limitados ao trabalho dos seus poucos correspondentes locais já baseados em Gaza.

Israel alega proibir a entrada de jornalistas estrangeiros por uma questão de segurança. Mas, quanto mais complexos tornam-se os eventos dentro do território, maior a necessidade de que jornalistas tenham acesso aos fatos, em um conflito que dia-a-dia desafia a política e a diplomacia. Acusações são feitas, pontos de vista conflitantes são apresentados, e a imprensa não pode cumprir o seu papel de tentar mostrar ao mundo o que realmente acontece no campo de batalha.

Nas mais recentes polêmicas, aparece, de um lado, o governo israelense. Do outro, as Nações Unidas, a Cruz Vermelha Internacional e outras entidades humanitárias, como a Oxfam. A ONU abandonou a assistência a civis palestinos, alegando que funcionários seus foram mortos pelas forças israelenses enquanto tentavam fazer seu trabalho. No mesmo dia, a Cruz Vermelha acusou Israel de não cumprir sua responsabilidade de ajudar civis sobreviventes de confrontos, depois que crianças palestinas foram encontradas junto aos corpos de suas mães, mortas em um ataque. Bombardeios mataram dezenas de civis ao atingir duas escolas da Organização das Nações Unidas, que também acusa Israel de bombardear um abrigo de refugiados, matando outras 30 pessoas, depois de tê-los evacuado de suas casa e os dirigido para o local. A Anistia Internacional de abusos contra a população civil palestina.

O governo israelense tem rebatido as acusações, mas promete investigá-las. Israel diz ainda que o Hamas tem usado civis palestinos como escudos humanos e que membros do grupo, ou pessoas ligadas a ele, têm interesse em associar o país a supostos crimes de guerra. Israel não chega a acusar a ONU ou a Cruz Vermelha de associação com o Hamas, mas sabe-se que os organismos internacionais de ajuda são vistos com suspeita pelo governo israelense. E a imprensa internacional? Continua proibida de entrar na Faixa da Gaza, limitada a um pequeno número de bravos repórteres locais, sem recursos suficientes para verificar o que realmente acontece no território.

Toda grande potência militar tenta, durante uma guerra, controlar o fluxo de informação nas áreas que domina. Na Guerra da Bósnia (1992-1995), os sérvios impediam a entrada de jornalistas ocidentais a leste de Sarajevo. No Iraque, os Estados Unidos praticamente exigiram que repórteres estivessem com suas tropas para poder trabalhar. Quem agisse de forma independente corria o risco de ser morto, como aconteceu com o . Mas nesses conflitos, como em muitos outros, jornalistas seguiam fazendo o possível para cobrir os conflitos, circulando por áreas de combate, mesmo sabendo que poderiam perder a vida.

A diferença em Gaza é que se trata de uma área mínima, cercada pelo mar, por Israel e pelo Egito, que não quer problemas em seu território e mantém suas portas fechadas. Neste conflito, Israel define quem entra e quem sai. A população civil não sai. Jornalistas não entram. Israel fechou a Faixa de Gaza para jornalistas porque pode fazê-lo, porque seu controle sobre o território lhe permite esse poder sobre a informação. Outros países provavelmente fariam o mesmo, porque controlar a informação é vital em uma guerra. Pode definir seu resultado. Vence com isso a lógica militar, mas perdem a opinião pública, os feridos e as famílias dos mortos, que gostariam que as acusações de atrocidades, possíveis crimes de guerra e supostos erros cometidos em Gaza fossem devidamente, e rapidamente, esclarecidos.

As razões da guerra em Gaza

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Rogério Simões | 11:34, segunda-feira, 5 janeiro 2009

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gaza.jpgOs defensores da ação militar de Israel contra a Faixa de Gaza, entre eles membros do seu governo, têm há dias repetido o mesmo discurso: nenhum país do mundo aceitaria ser atingido diariamente por dezenas de mísseis lançados por um grupo inimigo. Israel, segundo esse raciocínio, foi obrigado a reagir a uma provocação do palestino Hamas. Algo tinha de ser feito.

No século 19, o general da Prússia desenvolveu, em seu livro Da Guerra, a idéia de que a guerra não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual um ator político impõe sua vontade sobre outro. Seria a "continuação da política por outros meios", considerando que por trás de uma operação militar estaria uma decisão consciente, racional, de se adotar um projeto de Estado para derrotar um oponente. Trata-se do conceito tradicional de guerra, abalado pelos inúmeros conflitos das últimas décadas envolvendo atores não-governamentais e soldados irregulares, em confrontos assimétricos e imprevisíveis na Europa (Bósnia), África (Congo, Ruanda, Uganda etc) e Ásia (Afeganistão, Chechênia).

Mas o raciocínio de Clausewitz continua vivo, ou deveria, nos casos de conflitos que envolvem Estados constituídos, especialmente os democráticos. Pelo menos é o que imaginam os analistas que, em artigos em jornais e revistas e aparições na televisão, têm tentado entender a verdadeira razão pela qual Israel lançou sua ira sobre a Faixa de Gaza, um lugar onde 1,5 milhão de pessoas vivem praticamente sem comida, sem remédios e agora sob chuvas de bombas. E sem ter para onde fugir. Seria a necessidade de reagir aos mísseis do Hamas, assim como o bloqueio a Gaza, parte de uma política de Estado, como imaginava Clausewitz? Ou estaria essa guerra ligada à necessidade de um governo de se fortalecer semanas antes das eleições gerais no país? Seria o bombardeio de Gaza benéfico para o próprio Estado de Israel e para a região? Para as negociações de paz com a Autoridade Nacional Palestina? Para o futuro das relações entre israelenses e seus vizinhos palestinos, dois povos condenados a viver eternamente lado a lado?

Os que criticam o governo e o Exército de Israel dizem que essa ação militar não levará a lugar algum. Ou melhor, levará ao fortalecimento do grupo Hamas entre os palestinos, da mesma forma como o xiita Hezbollah foi elevado à categoria de grupo militante herói após os bombardeios israelenses no Líbano, em 2006. Certamente haverá . Jonathan Freedland, do The Guardian, diz que Israel , apenas para a guerra. Ou seja, a razão israelense seria uma razão militar e não política. A guerra seria um fim em si mesmo, uma reafirmação do poderio bélico de um país que nasceu sob o ataque dos seus vizinhos e vê na sua sobrevivência a necessidade de um eterno embate com o mundo exterior. A política e a democracia israelenses viriam do conflito armado, e não o contrário. Clausewitz ao inverso: a essência da existência de uma nação seria a guerra, e a política existiria como sua continuação.

Israel sabe que não pode simplesmente aniquilar o Hamas, e se o fizesse poderia surgir em seu lugar um outro grupo, ainda mais radical. A ocupação do sul do Líbano, no início dos anos 80, visava derrotar um inimigo palestino, a OLP de Yasser Arafat. Acabou resultando no surgimento do Hezbollah. As razões da guerra em Gaza são legítimas sob os olhos de uns, mas insuficientes sob os olhos de outros. Parecem mais ligadas a uma necessidade de reagir, ao curto prazo, ao imediatismo determinado pelo medo. O raciocínio de Clausewitz, baseado numa lógica política, sugere que uma guerra deve ser buscada quando se pretende atingir uma vitória absoluta e, conseqüentemente, conquistar um posterior estado de paz. Com sua ação militar em Gaza, centenas ou milhares de mortos depois, não importa, é bem possível que Israel não consiga nem uma coisa nem outra.

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