Uma semana de Obama
De que serve uma semana? Muitas vezes, ela passa voando, e tem-se a impressão de que não foi possível fazer nada. Mas há quem acredite que sete dias foram suficientes para se criar o mundo... E o presidente Barack Obama? O que conseguiu fazer em sua primeira semana na Casa Branca?
Primeiro, a posse de Obama foi repleta de imagens memoráveis. Os milhões nas ruas de Washington, Aretha Franklin cantando, Obama gaguejando no juramento, músicos clássicos tocando sobre um play back. E um discurso presidencial que deveria ter comovido até os mais céticos, mas deixou muitos se perguntando o que exatamente Obama queria dizer com o que disse. Diante daquele 20 de janeiro de 2009, que já havia entrado para a história mesmo antes de ter acontecido, o mundo só queria saber agora como seria o novo governo Obama. Havia chegado a hora da verdade.
Quem esperava por uma mudança clara de rumo não se decepcionou. Nos seus primeiros oito dias de expediente no Salão Oval, Obama interrompeu os julgamentos na prisão de Guantánamo, anunciou seu fechamento definitivo em até um ano, suspendeu a proibição de ajuda a entidades que apoiem o aborto, introduzida por George W. Bush, mudou várias políticas de Bush na área ambiental (sob aplausos de ambientalistas e do governador californiano, Arnold Schwarzenegger), enviou ao Oriente Médio seu representante para a região, deu uma entrevista a uma TV árabe para dizer que os Estados Unidos não são inimigos do mundo islâmico e conseguiu aprovar na Câmara um pacote de ajuda econômica de mais de US$ 800 bilhões. Ah, Obama ainda teve tempo de ligar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e elogiar o trabalho do Brasil na área de biocombustíveis. Ufa.
Se a expectativa em torno do novo presidente americano já era grande, após uma semana repleta de ações de destaque ela deverá crescer ainda mais. Fim do embargo econômico a Cuba, normalização das relações com o Irã, paz definitiva entre Israel e palestinos, saída rápida para a maior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial, redução da emissão de gases poluentes, pacificação definitiva do Iraque e do Afeganistão... Os mais otimistas acham que Obama dará ao mundo tudo isso e muito mais. Sua inicial contribuição, entretanto, não foram as medidas, mas a sensação de que na Casa Branca existe hoje alguém claramente tomando decisões, trabalhando.
Pode-se esperar que as próximas semanas não repetirão a dose, especialmente diante dos entraves que costumam surgir na vida de qualquer governante e cuja superação não depende necessariamente dele. No Oriente Médio, o comportamento do governo americano tem enorme peso, mas o futuro próximo das relações entre Israel e palestinos depende muito mais das eleições israelenses, daqui a poucos dias. A economia ainda dará muito trabalho a Barack Obama, e combater o aquecimento global é uma tarefa muito mais difícil do que a sedutora fala do presidente americano muitas vezes dá a entender.
De qualquer forma, o mundo já vê uma grande diferença entre a nova gestão e o governo Bush, desacreditado e pouco operante em seus últimos meses e indeciso e dividido em boa parte de seus oito anos. A sensação que fica após uma semana é a de um governo com sede de realizações. Sabe-se, entretanto, que tal ritmo dificilmente será mantido. Apenas no longo prazo será possível avaliar o verdadeiro impacto de Barack Obama e seu prometido governo de mudança.