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Arquivo para junho 2009

Irã, país da juventude

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Rogério Simões | 15:35, quinta-feira, 18 junho 2009

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ira.jpgEm fevereiro deste ano, os iranianos, assim como o mundo exterior, lembraram os históricos acontecimentos de 1979 que levaram à queda do xá Mohammad Reza Pahlevi. As imagens da revolução que transformou o Irã em uma república islâmica não deixavam dúvidas da determinação do povo daquele país. Contra um aparato de repressão que não pensava duas vezes antes de atirar contra manifestantes civis desarmados, a população tomou seguidamente as ruas de Teerã e mudou o curso político do Oriente Médio. O movimento de 1979 mostrou que os iranianos sabem fazer uma verdadeira revolução popular contra um regime ditatorial. O povo persa provou não ter medo de mudança.

Uma semana depois da polêmica eleição presidencial que condedeu quatro anos a mais de mandato ao conservador Mahmoud Ahmadinejad, muitos manifestantes que colorem Teerã de verde começam a falar em uma nova "revolução". Não que o candidato oposicionista derrotado, Mir Hossein Mousavi, queira mudar o regime, longe disso. Mousavi é um político nascido na Revolução Iraniana, foi primeiro-ministro nos tempos do aiatolá Khomeini, e muitos de seus seguidores desfilam pelas ruas com cartazes em que sua foto aparece ao lado das dos líderes supremos Khomeini e Khamenei.

Mas Mousavi promete um Irã mais moderno, com menos restrições à forma de as mulheres se vestirem, uma administração mais profissional da economia e uma atitude um pouco mais amigável perante o Ocidente, especialmente os Estados Unidos. Seu discurso tem um forte apelo principalmente junto aos jovens, que formam a maioria da população iraniana (mais de 50% tem menos de 30 anos), resultado da política de incentivo à natalidade implementada pelo governo revolucionário. O Irã, que já não temia ir às ruas por mudança, é hoje ainda mais jovem.

Uma verdade sobre a juventude em qualquer parte do mundo é o fato de que ela costuma gostar de novidades. E as novidades tecnológicas têm sido um marco desse movimento de contestação ao resultado das eleições. O governo proibiu que a imprensa estrangeira cubra as manifestações, mas a medida não surtiu o efeito que teria uma década atrás. Se ´óÏó´«Ã½, CNN e tantos outros têm seus movimentos controlados pela polícia, os próprios manifestantes viraram os repórteres. Os jovens insatisfeitos que nasceram com a revolução formaram um exército de telefones celulares e câmeras que registram cenas que o regime preferia esconder. Essas imagens têm lotado o e diariamente chegam às grandes redações do mundo afora, inclusive aqui na ´óÏó´«Ã½. O regime dos aiatolás sabe que é inútil tentar controlar totalmente o fluxo de informações no super jovem Irã e parece estar esperando para saber até quando irá a resistência e determinação dos manifestantes.

A utilização da internet e outras novas tecnologias de comunicação para superar censuras locais não é novidade. Há pelo menos uma década que grupos dissidentes em nações onde há pouca abertura política recorrem ao protesto virtual ou à simples busca de informação online. Anos atrás, falava sobre como as iranianas usavam a internet para discutir temas banidos, como a relação com o sexo oposto. Outros países onde a possibilidade de uma oposição política organizada é praticamente nula, como a Coréia do Norte e mesmo a China, censuram permanentemente o fluxo de informação do mundo virtual. No Irã, no entanto, a informação consegue achar caminhos alternativos.

É possível que o regime iraniano se recupere da atual crise, e mesmo uma chegada de Mousavi à Presidência não mudaria significativamente a estrutura de poder no país. Mas a juventude iraniana tem mostrado que sabe muito bem como usar a sua capacidade de organização e o poder das novas tecnologias.

AF 447: Nossa cobertura e nosso erro

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Rogério Simões | 18:39, quinta-feira, 4 junho 2009

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airfrance.jpgA tragédia envolvendo o voo 447 da Air France, cuja viagem entre Rio de Janeiro e Paris terminou no fundo do oceano, atingiu e sensibilizou pessoas ao redor do mundo. Cidadãos de 32 países perderam a vida no acidente, cujas características ainda intrigam especialistas e chocam qualquer um que já tenha cruzado o Atlântico a bordo de uma aeronave.

Diante do desastre, leitores e jornalistas, ainda desprovidos de explicações técnicas para o raríssimo fato de que um Airbus havia simplesmente despencado do céu, buscaram o lado humano dessa triste história. A imprensa foi atrás de perfis das vítimas, informações que foram avidamente consumidas por um público sensibilizado pela perda repentina de mais de 200 vidas. Num momento como esse, o interesse pelas circunstâncias que colocaram cada passageiro dentro do voo da Air France, como o motivo de sua viagem, quem ficou para trás à espera de um telefonema na chegada ou quem se preparava para recebê-los na capital francesa, era imenso. Como uma forma de homenagem às vítimas, ou por simples curiosidade, o lado humano de uma tragédia é sempre um importante material jornalístico.

Além dos nossos repórteres no Rio de Janeiro e em Brasília, que registravam as últimas informações sobre as buscas e teorias para o destino do avião, inicialmente dado como desaparecido, a ´óÏó´«Ã½ Brasil dedicou parte de seus esforços de reportagem no exterior à obtenção de informações sobre passageiros, particularmente estrangeiros. O menino britânico de 11 anos
que voltava sozinho do Rio após visitar os pais, o grupo de franceses que havia ganhado a viagem ao Brasil de uma empresa, a espanhola que voltava de lua-de-mel em voo diferente do marido, todas essas histórias mostravam o caráter verdadeiramente internacional do desastre.

Entre elas estava a da família Schnabl. A sueca Christine Badre Schnabl e seu filho Philipe morreram na queda do Airbus A330, enquanto seu marido, o brasileiro Fernando Bastos Schnabl, e a filha Celine fizeram o mesmo trajeto a bordo de um voo da TAM, pousando com segurança em Paris. Mas ao noticiar tal história, nós da ´óÏó´«Ã½ Brasil erramos. Erramos por reproduzirmos, sem confirmação, a informação de que a separação do casal em dois voos diferentes se devia ao medo da família de acidentes aéreos. A informação havia sido publicada apenas por um jornal sueco, o , e ainda não havia sido confirmada pela nossa reportagem em Estocolmo. Mas mesmo assim o nosso texto foi ao ar, não apenas trazendo uma informação vinda de apenas uma fonte, mas também sem explicar no título e no primeiro parágrafo, como deveríamos ter feito, que se tratava de um fato apurado apenas por um outro veículo.

O suposto costume do casal de viajar em voos diferentes dava uma conotação ainda mais dramática e inusitada ao caso, e por isso nosso texto teve grande repercussão, recebendo grande destaque em nossos sites parceiros. No entanto, a separação da família na viagem à França tinha na verdade outro motivo. Quando conseguimos falar com Fernando Schnabl, ele desmentiu a versão do jornal sueco, reporoduzida no dia anterior pela ´óÏó´«Ã½ Brasil. A família não tinha medo de voar, apenas estava em aeronaves diferentes devido à necessidade de aproveitar os benefícios de milhas aéreas acumuladas.

A reportagem com o brasileiro, esclarecendo o que realmente havia motivado a separação da família, foi publicada um dia depois do texto anterior. Recebeu no nosso site o mesmo destaque que havia tido a informação errada. Mas nada apaga o fato de que divulgamos, equivocadamente, uma notícia de outro veículo sem a verificação devida, prevista nos princípios editoriais da ´óÏó´«Ã½. Um erro, fruto de um esforço de levar aos leitores as histórias humanas por trás de uma terrível tragédia. Mas, mesmo assim, um erro. Do qual (o nosso leitor pode ter certeza) já tiramos muitas lições.

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