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Arquivo para dezembro 2009

O desafio de ir e vir

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Rogério Simões | 11:23, quarta-feira, 30 dezembro 2009

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airport.jpgNão é à toa que a rede extremista Al-Qaeda é obcecada pela ideia de derrubar aviões civis ou usá-los como armas contra alvos no Ocidente. Se os bem-sucedidos atentados de 11 de setembro de 2001 deixaram milhares de mortos, a operação de dias atrás envolvendo um jovem nigeriano mostrou que, mesmo frustrados, tais ataques conseguem abalar o inimigo. A fiscalização em aeroportos já aumentou, as falhas no sistema de vigilância americano foram expostas, irritando o presidente Barack Obama, e muitos passageiros voltaram a sentir um medo adicional de embarcar em um voo internacional. Para a Al-Qaeda, atentados contra voos comerciais parecem ser uma ação de retorno certo: quando funciona, mata centenas ou milhares e espalha o medo. Quando fracassa, ainda assim aterroriza futuros passageiros e impõe custos adicionais nos sistemas de vigilância.

Os custos para a sociedade de tais ousados planos terroristas não seriam tão altos se o embarque em um avião para cruzar fronteiras ou continentes não tivesse se tornado uma atividade tão disseminada pelo mundo, considerada quase uma necessidade básica em tempos de globalização. Tanto os últimos anos do milênio passado como os primeiros deste foram marcados pelo facilitado acesso a viagens de avião para a população de classe média ou mesmo de baixa renda. A proliferação de companhias aéreas de baixo custo e a ampliação do crédito, fenômenos permitidos pela globalização, reduziram distâncias e fizeram das viagens aéreas um bem sem o qual muitos não conseguem mais viver.

Na verdade, não é apenas a Al-Qaeda que provoca dor de cabeça na indústria do transporte de pessoas. As fortes nevascas que têm atingido a Europa e a América do Norte causaram enormes transtornos a milhares de passageiros que simplesmente "tinham" de viajar. A necessidade de visitar parentes ou amigos em outro país, de cruzar o canal da Mancha após uma semana de trabalho ou simplesmente de aproveitar merecidas férias do outro lado do mundo leva milhões de pessoas diariamente a estradas, aeroportos e estações de trem. Quando o mau tempo ou o fanatismo político-religioso ameaçam esse deslocamento, o cidadão globalizado se vê perdido, sem opções, sem saída. Acostumado a mudar de continente em poucas horas, o que para nossos antecipados levaria meses, os passageiros de hoje em dia tem muita dificuldade em lidar com a espera, as filas, a incerteza do embarque, as noites no chão do aeroporto e outros inconvenientes que têm se tornado comuns.

, o jornalista Simon Jenkins expôs com todas as letras um fato difícil de contestar: o problema não está nos inconvenientes, mas no número de pessoas que se consideram no direito de ir para e vir de lugares distantes. "De todas as atividades que trazem à tona o egoísmo na humanidade, nada se compara à de viajar", escreveu Jenkins. Usando o termo "hipermobilidade" para descrever o estado a que a humanidade chegou, Jenkins sugere: "Minha solução para o caos nas viagens durante o inverno? Não viaje. Fique em casa. Faça uma fogueira. Viva e faça compras onde você possa ir a pé. Relacione-se com os vizinhos. Visite parentes que vivem longe em outra época do ano." Poucos parecem ter seguido tais conselhos neste fim de ano.

Viajar para longe, algo que era difícil, caro e raro para gerações passadas, tornou-se para muitos milhões uma necessidade ou um costume impossível de abandonar. A Al-Qaeda sabe disso e provavelmente continuará a lançar homens-bombas numa tentativa de atrapalhar esse aspecto da vida ocidental. A natureza, mortalmente danificada pela emissão de CO2 de aviões e automóveis, seguirá despejando nevascas e tempestades que desafiam a resistência da moderna tecnologia. E, provavelmente, nós, insistentemente, continuaremos embarcando para destinos distantes, à espera de novos, maiores desafios desse suposto direito de ir e vir, para onde e quando quisermos. Feliz 2010 a todos.

Tiger Woods e o sonho da privacidade

Rogério Simões | 11:33, quinta-feira, 3 dezembro 2009

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woods.jpgTiger Woods não é apenas o maior golfista de todos os tempos, é uma das pessoas mais influentes do mundo. Seu sorriso simpático, seu jeito doce de tratar repórteres, adversários e fãs, sua pele negra e seu DNA de mestiço (filho de mãe tailandesa, Woods tem ainda percentuais de chinês e holandês, além do africano, em sua ascendência) sempre fizeram de Woods um personagem conhecido e admirado em qualquer continente. Tal imagem ajudou a fazer do golfe um esporte muito mais popular do que era 20 anos atrás, o que resultou no anúncio, em outubro deste ano, de que , no Rio de Janeiro.

Mas um acidente de carro colocou tal imagem em risco. No último dia 27, Tiger Woods chocou seu veículo em um hidrante, perto de sua casa, na Flórida (EUA). Boatos começaram a circular na internet sobre a ligação entre uma suposta relação extra-conjugal do golfista e o acidente. Woods, casado com a modelo sueca , mãe de seus dois filhos, tentou como pôde, por dias, proteger sua vida particular do assédio da imprensa. Sob pressão e vendo os rumores sobre sua vida amorosa proliferarem pelos caminhos tortuosos da internet, finalmente em seu site pessoal. Disse que "se arrepende" do que chamou de "trangressões" e que tentará ser uma "pessoa melhor", o "marido e pai" que sua família merece.

Apesar de ser um dos nomes e rostos mais conhecidos do planeta, Tiger Woods vinha sendo relativamente bem-sucedido no seu esforço para separar sua vida pessoal do consumo da sua imagem pela mídia. No comunicado em que pede desculpas por seu comportamento, sem confirmar exatamente o que fez de errado (apesar de a internet estar cheia de informação ou teses sobre isso), Woods voltou a implorar por privacidade. "Não importa quão intensa possa ser a curiosidade sobre figuras públicas, existe um importante e profundo princípio em jogo, que é o direito a alguma simples, humana medida de privacidade", escreveu. Com isso voltamos ao velho debate sobre direito à privacidade de figuras públicas.

Tiger Woods tem uma fortuna estimada em pelo menos US$ 700 milhões. A já previu que em 2010 sua fortuna , enquanto algumas estivativas dizem que isso já aconteceu neste ano. Teria esta fortuna sido obtida apenas por meio do manejo mágico de um taco de golfe? Claro que não. Boa parte da dinheirama foi acumulada com o uso da imagem de Tiger Woods em anúncios publicitários para os mais diversos produtos. O fato de se tratar de um pai de família, fiel aos seus compromissos de marido, aumenta o valor dessa imagem e, consequentemente, o sucesso profissional do campeão. Portanto, seu comportamento em sua vida pessoal tem impacto na sua carreira, mesmo que indireto.

Tiger Woods o campeão de golfe também não iria muito longe, em termos financeiros, não fosse o interesse do grande público em suas tacadas. Se ninguém ligasse para torneios de golfe, ele poderia ser o melhor da história e continuar com um salário de US$ 3 mil por mês. Provavelmente é o que acontece com o vencedor da Copa do Mundo de comer cachorro-quente, ou algo parecido. O público e a mídia são a razão por trás da fama e da fortuna de Tiger Woods, e por isso mesmo é tão difícil separar vida pessoal e profissional de alguém de tamanho sucesso global. O maior golfista de todos os tempos promete continuar erguendo muros em torno de sua família para protegê-la do apetite da mídia, e é fácil olhar com simpatia e admiração para tal esforço. Mas o público seguirá interessado em saber se ele realmente se comporta tão bem na vida pessoal como sua propaganda nos faz acreditar. Pois mais que Woods se esforce, esta será, provavelmente, uma guerra sem fim.

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