Paranóia food
Eu não sei exatamente quando foi que a mudança começou. Mas posso dizer que foi em um determinado momento do ano passado, depois que, coincidentemente, caiu nas minhas mãos uma cópia do livro "Você É o que Você Come", da médica escocesa Gillian McKeith.
Um belo dia, redes de fast-food que até então só ofereciam sanduÃches, muffins, brownies e batatinhas a seus clientes passaram a exibir pacotinhos de castanhas, frutas secas, sementes de girassol e de abóbora. Capuccinos e lattes passaram a ser quase um crime - a não ser que sejam feitos com leite de soja ou de arroz.
Blergh, você deve estar pensando.
Pois é, um brasileiro normal, que come arroz, feijão, churrasco, coxinha, caipirinha, pingado e pão na chapa tem mesmo que torcer o nariz para essas coisas. Mas eu, que adoro tudo isso, confesso que acabei me rendendo à "paranóia food".
A culpa é do tal livro da dra. Gillian. Lá, ela lista todas as razões do mundo pela qual leite, carne vermelha, açúcar, farinha de trigo, álcool e café são os maiores inimigos do ser humano: "eles tiram sua energia, tornam a digestão lenta, atrapalham seu sono, esgotam o seu metabolismo e (pânico dos pânicos) engordam".
Bom mesmo é tomar suco de clorofila, ingerir colheradas de geléia real, se encher de chá de urtiga, comer broto de cevada. Quinoa, spirulina, feijão mung, spelt? Manjares dos deuses!
Muito por causa da dra. Gillian, e do livro que também é programa de TV, tudo o que antes ficava confinado à s lojinhas de produtos orgânicos e naturais, hoje já está à mão nas principais redes de supermercado. Pessoas que vêm de paÃses famosos por sua gastronomia - Espanha, Itália, França - de repente se esquecem das origens e atacam essas comidas estranhas. Americanos e ingleses parecem ser os mais paranóicos. Todo mundo compra - e paga uma fortuna!
Enquanto isso, comidas que são sabidamente saudáveis, como frutas, verduras e legumes, estão, como diria minha mãe, pela hora da morte. Uma caixa de morangos na época de safra custa o equivalente a quatro ou mais barras de chocolate! Uma berinjela custa o mesmo que uma passagem de ônibus.
Em defesa da dra. Gillian, tenho que admitir que, depois que segui alguns de seus mandamentos, perdi alguns quilos. Mas a mudança também ocorreu depois de eu me permitir mais massas e doces. O que me leva a concluir que o segredo é, justamente, fugir da paranóia.