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Arquivo para agosto 2007

Menos um

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Maria Luisa Cavalcanti | 20:36, quinta-feira, 30 agosto 2007

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"Redevelopment" parece ser a palavra de ordem hoje em Londres. A cidade virou um canteiro de obras. No centro, prédios antigos são derrubados sem pena para darem lugar a construções envidraçadas e metalizadas. Nos bairros mais afastados, qualquer terreno está ocupado por guindastes e tratores.
A pior face dessa onda de modernização e especulação imobiliária é, para mim, a descaracterização de pontos interessantes da cidade. Recentemente, o mercado de Spitalfields foi reduzido pela metade para dar espaço a um minishopping. Os artistas e designers que vendiam suas coisas ali foram espremidos e ganharam a concorrência de lojas de grife. O público também mudou, e o que era um ótimo programa de domingo virou uma chatice.
Agora, quem está ameaçado do mesmo mal é o Stables Market, em Camden. Esta semana, dezenas de comerciantes locais fecharam seus pontos e foram realocados em outro mercado próximo. Muitos reclamam que perderam espaço e posições estratégicas. Mas o maior impacto virá mesmo quando o local virar outro shopping center, com suas Body Shops, H&Ms, Accesorizes, Offices, Gaps etc. Os admnistradores garantem que as obras são só para melhorar o local e que essa invasão não vai acontecer, mas moradores e freqüentadores já trataram de criar uma para tentar fazer frente à modernização desgovernada.
Eu já assinei.

Velhice veloz

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Rodrigo Durão Coelho | 20:41, segunda-feira, 27 agosto 2007

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A primeira vez que vi uma dessas mobility scooters, ou MS (foto), foi lá pelos idos do final do século.mob.jpg Um vizinho meu, idoso, costumava sair sozinho para passear de madrugada em uma delas e geralmente acabava atolado em alguma lombada, com o motor girando, nervoso, mas sem sair do lugar até que a enfermeira o recolhesse.

Ultimamente, tenho reparado que a cidade anda cheia dessas MS. O fato de os motoristas não serem aparentemente tão velhos ou obesos me fez imaginar se isso não seria mais uma das manias do sistema de saúde daqui, uma espécie de moda: médicos que passam a receitar indiscriminadamente os veículos e pacientes que se vêem de uma hora para outra compelidos a ganhar uma.

E, perto da minha casa, tenho visto veteranos da terceira idade descendo as ruas velozmente, no comando desses veículos. A velocidade máxima original de fábrica de pouco mais de 10km/h tem aumentado bastante pelas ladeiras de Denmark Hill. O que me fez questionar se o mito da velhice como uma época de movimentos lentos, placidamente inofensiva, não poderia ser em breve destruído pela tecnologia.

O sorriso jovial no rosto do nonagenário do meu bairro, e de outros que tenho visto, não deixa dúvidas de que eles estão sendo fiéis à sua natureza, não se conformando a uma vida artrítica em câmera lenta, onde o maior desafio do dia é conseguir ir ao supermercado sem cair.

Será que o instinto veloz de um Ayrton Senna teria sido completamente aplacado pelos anos, se ele tivesse vivido até as vésperas de completar um século?

Talvez esses ainda sejam tempos românticos nos quais os emburrados legisladores ainda não tiveram a chance de arruinar a diversão da velharada impondo regras, restrições, exames de vista e velocidades máximas. Nesse contexto, os audaciosos idosos que descobriram o potencial dessas motinhos seriam desbravadores em um mundo ainda sem leis. Ou talvez as leis já existam e faltem apenas emburrados patrulheiros pelos bairros da cidade.

Mas, pelo visto, cada vez mais gente descobriu um novo prazer na terceira idade, a época em que muitos já não ligam para as convenções sociais, mas com freqüência não têm mais os meios para quebrá-las.

O cliente, esse infeliz

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Márcia Freitas | 20:08, quarta-feira, 22 agosto 2007

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Eu já não me lembro como era no Brasil, mas aqui na Grã-Bretanha toda vez que você precisa de algum tipo de serviço, é um pesadelo.

Por exemplo, o seu cartão de crédito expirou e você precisa receber o novo. O banco te manda uma carta para você marcar um dia mais conveniente para receber o cartão. Você precisa estar em casa para assinar a correspondência, por medida de segurança. Acontece que a empresa que entrega o cartão diz que você pode escolher o dia, mas não a hora da entrega. Então, em princípio, você tem que ficar das 9 da manhã às 5 da tarde esperando. É possível?

Na semana passada, precisei chamar o técnico para verificar um problema na conexão de internet. Me disseram que o cara viria entre 9 e 11 da manhã. Às dez, ele me ligou para dizer que estaria lá em uma hora. Às onze, ligou de novo para dizer que estava chegando. Chegou ao meio-dia.

Mas é preciso reconhecer que as pessoas que prestam serviço também devem ter as suas reclamações. Enquanto o cara estava em casa resolvendo o problema da conexão, um colega seu ligou contando a seguinte: ele tinha ido visitar um cliente que estava reclamando que estava sem internet. Quando ele chegou na casa do sujeito para verificar o problema, descobriu que o cara não tinha computador. 'Não tinha computador, tem certeza?', pergunta o meu prestador de serviço. 'Não, não tinha', responde o outro, e queria internet. Oras bolas.

Estilo japonês

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Ilana Rehavia | 12:59, segunda-feira, 20 agosto 2007

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Quando o assunto é criatividade na hora de se vestir, ninguém bate os japoneses.
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Durante uma viagem de trabalho para Tóquio no começo do ano, um dos meus passatempos preferidos era observar as várias tribos que povoam os bairros mais "fashion" como Shibuya e Harajuku.

O mais interessante para mim é que eles absorvem as tendências e modas do resto do mundo (como por exemplo, o punk britânico) e dão um toque completamente japonês. Além disso, muitos não têm medo de ousar ao extremo, com roupas inspiradas em desenhos animados (como na foto) ou fetiches.

Para quem se interessou, o site mostra bem o estilo japonês, com fotos de pessoas interessantes nas ruas da cidade.

Cópia ou inspiração?

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Ilana Rehavia | 13:44, sexta-feira, 10 agosto 2007

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Há um bom tempo acontece uma guerra aqui na Grã-Bretanha. De um lado, marcas de luxo como Chloé e Burberry. Do outro, a "high street", como são conhecidas as redes de lojas mais baratas, como a Topshop e H&M.

O problema são as peças que aparecem na "high street" e são extremamente similares a roupas e acessórios criados pelos estilistas em questão.
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Cópia ou inspiração? Esse parece ser o debate, mas, em alguns casos, as similaridades são tantas que fica difícil acreditar que não se trata de plágio descarado.

A loja virtual não esconde a que veio com o nome sendo abreviação de As Seen on Screen (Como Visto na Tela, em tradução livre). O site está fazendo enorme sucesso ao reproduzir por uma fração do preço as roupas usadas pelas estrelas de Hollywood e outras celebridades.

Enquanto isso, a guerra continua com processos na Justiça e troca de acusações. Pelas vendas da "high street", no entanto, os consumidores não parecem se importar em usar uma peça xérox.

Eita Pete Doherty...

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Rodrigo Durão Coelho | 21:17, quarta-feira, 8 agosto 2007

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... Então Pete Doherty foi banido de Londres. Caraca! De onde saiu isso? Só mesmo aqui para alguém que é considerado um ícone desse começo de século receber uma sentença que soaria normal se fosse proferida durante a Idade das Trevas. Naqueles dias sem mapas ou estradas, o exílio era ‘pior do que a morte’, uma vida solitária e sem esperanças, onde a única certeza era o perigo rondando a cada passo pelas florestas escuras.

Não que esses sejam tempos mais humanos. Afinal, alguns poderiam dizer que se criaram novos castigos ‘piores que a morte’ para os célebres, como a indiferença pública, por exemplo.
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Mas Doherty, famoso por manter casos amorosos públicos, tanto com a modelo mais famosa do país como com drogas ilegais como heroína e crack, recebeu a sentença como se fosse um benefício. Ao contrário das hostis batidas policiais de décadas atrás, quando até o dócil Paul McCartney se deu mal, o juiz do caso entendeu que os animais perigosos e as armadilhas letais para Doherty se encontram em Londres. Sendo assim, o exílio. Por um mês, para desintoxicar.

Além de se preocupar com a integridade física do rapaz, um efeito colateral da leniente sentença é dar uma forcinha para a sua carreira. Ultimamente, ter problemas com a justiça melhora bem o CV de uma celebridade. Paris Hilton que o diga. Confere profundidade ao personagem.

Não que o músico (sim, ele é músico) precise disso. Muita gente gabaritada o classifica de genial. Embora eu me pergunte quantos dos que estão familiarizados com suas peripécias seriam capazes de lembrar de alguma de suas poucas músicas de três acordes. Não que fazer músicas com três notas seja um problema. Lennon, Syd Barrett e Joe Strummer já provaram que se pode ser genial com até menos. Na verdade, não que não se lembrar de uma música dele seja um problema. Tem horas que isso parece até um problema a menos.

O tempo e a previsão do tempo - uma obsessão

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Márcia Freitas | 14:47, terça-feira, 7 agosto 2007

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Eu me lembro que em um dos meus primeiros anos aqui na Grã-Bretanha, eu ouvi uma senhora dizer uma frase britânica clássica ao entrar em um restaurante: 'Oh, dear... what a horrible weather!' (algo como 'Nossa, que tempo horrível'). Era um dia cinzento e chuvoso, como a maioria dos dias aqui. Na época pensei como era possível que essa mulher, de seus 70 anos, depois de viver provavelmente toda a vida aqui, ainda conseguia fazer algum comentário sobre o tempo. Afinal, não é todo dia igual e, ainda por cima, todo dia cinzento?

Mas isso foi no começo. Hoje, anos mais tarde, eu sei que falar sobre o tempo é como uma 'doença contagiosa'. Depois de uns anos morando aqui, o tempo passa a ser um de seus tópicos inevitáveis. Ninguém escapa. Pelo menos uma vez ao dia você vai mencionar o assunto. Como estava o tempo ontem, como está hoje e como estará amanhã. E, como estamos em uma ilha, o tempo também pode mudar bastante durante um único dia. Você fica olhando pela janela para decidir que roupa usar, se deve levar sombrinha etc. Vira uma obsessão.

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Depois de mais de 9 anos aqui, eu devo estar em um estágio avançado da doença. Acabei de voltar de uma semana de férias na Grécia, onde o aquecimento global está 'funcionando direitinho' e as temperaturas chegam aos 45, 46 graus. Mesmo assim, eu comentava sobre o tempo, sempre, com os amigos que encontrava. Nossa, que calor, meu Deus, que delícia, estamos amando, é, sim, mas hoje deu uma esfriadinha, ficou só em 32 graus, amanhã vai chegar aos 39, será que não chove? e aí por diante. Com o clima mudando em todo o lugar, daqui a pouco não vai sobrar tempo para falar de mais nada.

Como já foi mencionado em outros blogs, aqui na Grã-Bretanha estamos com certeza sendo castigados por alguma coisa neste verão. Abril foi lindo, mas desde então acho que só tivemos uns cinco dias de sol.

Quando voltei no domingo, o tempo estava melhor aqui. Na segunda, ao entrar na redação, o primeiro comentário que fiz foi: 'nossa, o tempo melhorou, hein?'. Em meia hora, ouvi a colega ao lado comentar ao telefone como o tempo estava ótimo no fim de semana. Como disse, ninguém escapa.

Mesmo tendo finalmente descoberto que o hábito de falar sobre o tempo é na verdade uma 'doença contagiosa', a atitude dos britânicos em relação ao clima ainda me surpreende. Na última semana de julho, quando tivemos o primeiro desses cinco dias de sol no ano, qual não foi a minha supresa ao ver, de manhã, na estação de metrô, um desses cartazes comuns por aqui no verão que dizem 'stay cool in the heat', dando conselhos sobre como lidar com o calor (?!?!), tais como carregar sempre uma garrafinha de água e usar roupas arejadas. 'Heat', que 'heat'? Esses britânicos....

Em defesa do sistema de saúde

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Rodrigo Durão Coelho | 15:45, quarta-feira, 1 agosto 2007

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E como disse a Mônica no primeiro dos seus polêmicos posts, o sistema de saúde daqui É RUIM. Ou pelo menos, isso é o que se costuma ouvir.

Quando eu e minha mulher decidimos ter filho nesse país, nos preparamos para o pior. Ouvimos relatos de terrror, drama, suspense e até de humor negro.‘Se preparem para os açougueiros’, diziam, com um sorriso cansado de quem sabe. De quem já viu o pior.

Qual não foi nossa surpresa e alívio (principalmente o dela) ao vermos que a coisa não foi nada assim. Em linhas gerais, a face do sistema que vimos foi uma sem frescuras, atenciosa e competente.

Dentro desse cenário positivo (e totalmente gratuito), destaque absoluto para a figura benigna da midwife, que no Brasil, seria o equivalente à parteira. Na maioria das vezes, o rebento não chega ao mundo pelas mãos dos médicos, mas sim delas. Antes que os pêlos das nucas se ericem e a indignação avermelhe a cara de um ou outro, é bom ressaltar que elas estão muito mais para competentes profissionais da medicina do que comadres com um grande acervo de simpatias.

As midwifes acompanham a preggie (como a gestante pode ser carinhosamente chamada por essas bandas) durante a gravidez, conhecendo-a e fazendo acompanhamento médico e psicológico. Fazem o parto, natural, sem cortar desnecessariamente a pança das prenhas. Cesariana não é opção do paciente. O médico (aí sim, tem médico) só faz isso se existir risco para a mãe ou bebê.

E não há por aqui a velha história do "cordão umbilical enroscado em torno do pescoço" que justifique uma cesária. A midwife mesma desenrosca esbanjando experiência e habilidade.

Nos dias seguintes ao parto, elas visitam as residências, verificando se está tudo bem e dando dicas preciosas às mamães de primeira viagem.

Pois bem, foi esse o pacotão a que tivemos acesso em um hospital do sul de Londres. Ele vem se mostrando bem-sucedido a ponto de o governo desejar expandi-lo para todo o país. Tomara. E tomara também que troquem o termo midwife. Porque, apesar de todas as benesses trazidas na prática, o termo não ajuda. Soa sexista e ultrapassado, algo como ‘meia-esposa’ (não é, significa ‘com’ a esposa).
juju.jpg
Que o diga um cidadão que se apresentou como midwife no hospital. A cara de assustado e a prontidão com a qual sacou o crachá para provar que ele era realmente um midwife me convenceram de que o rapaz tinha que trabalhar dobrado para vencer os preconceitos que o nome carrega.

O nome da atividade é triste mas ela vale a pena. E muito.

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