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Obama, a saúde britânica e a vida de todos nós

Pablo Uchoa | 2009-08-17, 10:44

Quem diria, a Grã-Bretanha mergulhou de cabeça na discussão sobre o sistema de saúde público que o presidente americano, Barack Obama, quer implantar nos EUA.

Lá, debate-se se o país deve universalizar o sistema público e gratuito ou continuar com o atual, onde na prática quem ²Ôã´Ç tem seguro-saúde se dá mal.

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Aqui, os jornais e a ´óÏó´«Ã½ ²Ôã´Ç param de repercutir a declaração de um deputado do Partido Conservador britânico, Daniel Hannan, que durante um debate sobre o tema nos EUA criticou o sistema britânico, o NHS, para mostrar um exemplo que o governo americano ²Ôã´Ç devia seguir.

Desde então, o NHS virou uma espécie de bode expiatório dos críticos de Obama. Spots publicitários contra a proposta de reforma retratam o NHS como um sistema de saúde sobrecarregado, combalido, incapaz de atender à demanda por serviços.

Uma reportagem da ´óÏó´«Ã½ mostrou uma jovem americana dizendo: "Não queremos um sistema de saúde como o britânico. Todo mundo diz que é horrível. Você já viu os dentes de um britânico?"

A questão é espinhosa, e tem tantos lados que um mísero post de blog, como este, mal dá conta do recado.

Primeiro, há as questões eleitorais:o estrago político que a polêmica pode causar à imagem do "super-Obama" nos EUA e que a impopular declaração do deputado conservador britânico pode causar ao seu partido, que disputará eleições no ano que vem.

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Segundo, há o problema da eficiência das políticas de saúde de um país - qualquer país - tendo em vista as prioridades nacionais.

Ninguém aqui duvida de que o NHS está, sim, sobrecarregado. Pacientes que ²Ôã´Ç requerem urgência são mandados para casa sem a menor cerimônia.

Por outro lado, quem usa ou usou o NHS para casos mais sérios - uma doença grave, o acompanhamento de uma gravidez, um tratamento longo -, mal ou bem tem suas necessidades atendidas pelo sistema.

Mais importante: de graça, enquanto nos EUA uma semana de internação pode chegar a centenas de milhares de dólares. O que levou um americano que vive na Grã-Bretanha a observar, no jornal The Guardian do último sábado (15/8) que, por aqui, - nem de ir à bancarrota por causa disso.

Seria apenas uma questão de política e números, se ²Ôã´Ç tivesse efeitos na vida de muita gente - efeitos que na semana passada bateram à minha porta, quando minha namorada, uma ex-funcionária de saúde mental do NHS, recebeu a notícia de que um de seus antigos pacientes havia morrido.

Ela havia deixado o NHS contrariada por uma reestruturação que estão afetou os serviços. Principalmente, como é de praxe nesses casos, os serviços aos mais vulneráveis.

Aos 60 anos, seu ex-paciente era negro e pobre, vivia sozinho e sofria de uma série de problemas de saúde mental e física, como esquizofrenia, pressão alta e doenças do coração.

Demorou muito pouco, um par de meses, entre esse vulnerável senhor deixar de ser atendido pelo serviço comunitário do NHS, passando a compor a grande massa sem rosto de pacientes atendidos por uma unidade maior, e morrer.

Quando a polícia finalmente arrombou a porta de sua casa, motivada talvez pela reclamação de algum vizinho sobre o cheiro vindo do apartamento, é possível que fizesse semanas que seu corpo se decompusesse no sofá da sala.

Longe de mim responsabilizar a mudança nos serviços pela morte deste homem que, com tantos problemas de saúde, talvez estivesse mesmo fadado a morrer naquele dia. Isso é objeto de uma investigação que está sendo conduzida pelo legista.

Mas é impossível ²Ôã´Ç relacionar a prestação de um serviço de saúde gratuito, de qualidade, a pessoas vulneráveis e sua qualidade de vida.

E é assustador pensar no poder que líderes e burocratas - dos EUA, da Grã-Bretanha ou do Brasil - têm sobre algo tão importante quando decidem quem deve ser prioridade e quem ²Ôã´Ç deve ser quando o assunto é saúde.

°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário

  • 1. à²õ 02:31 PM em 17 ago 2009, Luiz Monteiro de Barros escreveu:

    Estamos meditando por extremos. Europa, mais solidária, menos capitalista de uma vida de consumo, saude publica, gratuita. Pais que tentou se alinhar com os Eua de Reagan. Estados Unidos sistema de saude precário, neoliberal onde o que importa é o lucro. Assistir o Sikco Sos Saude de Michel Moore explica e muito o lobby empresarial que usou Reagan para dizer simplismente que saude pública era a implantação do socialismo nos EUA.
    São situações extremadas. Aqui você contou do negro em decomposição e a opinião sobre os dentes dos británicos.
    Querendo ser imparcial, mas ²Ôã´Ç foi. Porque ²Ôã´Ç buscar alguem que elogiasse o britanico ou um americano que pagando altissimo ²Ôã´Ç foi bem atendido.
    Obama prometeu sim, e se for coerente diminuirá a doutrina neoliberal que atingiu atá a Saude. Ã mentalidade capitalista, a doutrina do lucro ²Ôã´Ç destingue armas, sub prime, da saude. Se o eleito fosse McCain o que faria?
    A mentalidade produtiva do planeta precisa mudar. Obama, Lula, Evo, Correa, Lugo estão aqui para isso.
    O capitalismo de Bush, Reagan, Thatcher, Fernando Henrique Cardoso precisa mudar. Que tal um cooperativismo como o de Mondragon.

  • 2. à²õ 04:55 PM em 17 ago 2009, Pablo Uchoa Author Profile Page escreveu:

    Caro Luiz, obrigado pela sugestão. Está sugerido lá no post o artigo de um americano que elogia o NHS, afirmando que, aqui, "ninguém tem medo de ficar doente". Até mais.

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