Era uma vez...um prêmio Nobel
Em 2002, tive o prazer de entrevistar a escritora Doris Lessing, que acaba de ganhar o prêmio Nobel de Literatura.
Na ocasião, fui pega de surpresa, já que não esperava que ela fosse concordar em falar comigo. Eu tinha pouquÃssimo tempo para me preparar para a entrevista, no Queen Elizabeth Hall, uma das salas do centro cultural South Bank, na margem sul do rio Tâmisa.
Lembro que fiz um "brain storm" com meu colega Thomas Pappon e uma das perguntas que ele sugeriu falava justamente do Nobel. "Como ela se sentia por nunca ter ganho o prêmio?"
A entrevista foi incrÃvel. Apesar de anos de experiência como repórter de artes, entrevistando artistas, escritores, músicos, atores e o que viesse, achei a conversa com Lessing uma das mais difÃceis da minha vida profissional.
A ex-militante comunista me surpreendeu por seu pessimismo. Disse que as coisas não iam muito bem no mundo e que não esperava mudanças.
Falamos sobre o Brasil, sobre a situação no Zimbábue, sobre os livros que ela estava lendo no perÃodo.
Senti um prazer imenso em observar aquela cabeça funcionando, a precisão no uso das palavras, o raciocÃnio rápido, a clareza, a substância, a beleza dos pensamentos que saÃam daquela mulher, na época com 82 anos.
Mas a entrevista terminou mal… quando decidi perguntar sobre o Nobel.
Doris Lessing não gostou. Levantou-se da cadeira, visivelmente irritada. E disse que não ia responder, que o tema interessava a todo mundo, menos a ela. Saiu da sala.
Logo depois, fui me sentar no auditório para ouvir Doris ser entrevistada diante de uma platéia de centenas de pessoas.
Ali, no palco, encontrei a resposta para a pergunta que ainda me cutucava por dentro: "Onde tinha ido parar o idealismo e os sonhos da juventude de Lessing?"
Respondendo a uma das perguntas da platéia, a escritora disse que esperava, por meio dos seus livros, conseguir mudanças.
Para mim, naquele momento, a grande Doris Lessing se contradisse. E eu respirei aliviada.
Para ler a entrevista de Doris Lessing à ´óÏó´«Ã½ Brasil, clique nos links abaixo.
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
Prêmio merecido.
E sobre a sua entrevista...são coisas que acontecem, você não esperava por isto não é mesmo? Mas com as informações que tinha sobre a escritora já imagina que ela poderia ganhar esse prêmio, ou estava entre uma forte candidata. Fez a pergunta que todos queriam fazer.
´¡²ú°ù²¹Ã§´Ç²õ!
É sempre assim.Enquanto não ganham o Nobel, ficam falando mal dele ou do sistema que o gerou, o sistema capitalista. Depois que recebem o prêmio, os "dólares abençoados", aà todo mundo fica bonzinho e passam a falar bem de Alfred Nobel, etc. Sartre também foi comunista (Stalinista, no seu dizer), era contra o sistema mas não recusava o "dinheirinho " que em suas palestras ganhava, aliás, ele não passava de um refinado burguês metido a esquerdista. Aqui no Brasil também ocorreu este fenômeno, lógico que não na mesma amplitude da escritora citada , mas dentro de nossos horizontes intelectuais particulares: Chico Buarque, anti americano, anti capitalista, anti Prêmio Nobel, anti tudo...nunca negou que fosse rico ou que não gostasse de morar num triplex em Copacabana
Madchen escrevia a respeito desse tipo de revolucionário da "boca para fora":Jamás murió de hambre".Ou seja, todas suas teorias são feitas com o estômago perfeitamente saciado e o corpo abençoado pelo maior confôrto proporcionado pelo sistema que condena
Nelson Rodrigues tinha uma frase para essa postura intelectual dúbia:esquerdista, em teoria; capitalista na prática: "Esquerdistas de boate"(Lógico que não é o caso da escritora citada!), pois usufruem das benesses do capitalismo através da venda de produto intelectual que co0ndena o sistema