A arte de prever o futuro
Semanas atrás, como acontece há vários anos, nós aqui na ý participamos de uma reunião especial para debater os prováveis destaques no cenário internacional no próximo ano. O evento, do qual participaram jornalistas da ý de várias nacionalidades, teve como base a edição especial da revista , chamada . O editor da publicação, Daniel Franklin, apresentou seus dez destaques, o que gerou uma interessante troca de opiniões/previsões/dúvidas dos outros jornalistas presentes. Como todos sabemos, é muito difícil prever o futuro, mas trata-se de um exercício estimulante e divertido.
Franklin abriu sua lista falando da China, que segundo a Economist deverá se tornar a terceira maior economia do mundo (atrás de Estados Unidos e Japão) e o maior exportador (superando a Alemanha). Ele ainda arriscou dizer que os chineses conseguirão mais medalhas de ouro do que os americanos nos Jogos Olímpicos de Pequim. Outros dois temas no topo da lista de Franklin eram também fáceis de identificar: as eleições presidenciais americanas, em novembro, e o meio ambiente, já que as disputas envolvendo cientistas e políticos em torno do aquecimento global continuarão intensas.
Duas outras previsões de Daniel Franklin chamaram minha atenção, por representarem uma volta a um passado não muito distante: o avanço do "modo de pensar" russo, liderado pelo presidente Vladimir Putin, como uma alternativa à fórmula ocidental "democracia + livre mercado"; e o retorno do risco político para a economia mundial, algo que muitos imaginavam estar superado, depois da disseminação da democracia liberal na década de 90. O fato é que há, certamente, sinais de que estamos voltando a viver em um mundo onde as saídas políticas são menos previsíveis e mais capazes de influenciar o cenário econômico global. É só observar o peso que têm hoje as decisões dos governos de Rússia, Venezuela, Irã e China no cenário internacional.
Outra revista que arriscou seus palpites para 2008 foi a recém-criada , que convidou especialistas para discutir o novo ano. Em seu artigo, Michael Shifter previu um distanciamento ainda maior entre América Latina e Estados Unidos, enquanto Michael Axworthy acredita em poucos avanços nas relações entre o governo americano e o Irã. A Monocle também apontou cinco regiões do mundo que devem estar em evidência, entre elas a Bahia, por causa do cultivo de cana-de-açúcar para álcool combustível.
A Economist não fugiu de uma auto-avaliação sobre suas previsões para 2007, feitas no final de 2006. Em um dos textos de sua edição especial, Daniel Franklin lembrou os acertos da revista, que apostou na eleição de Nicolas Sarkozy na França e previu um confronto entre islamistas e secularistas na Turquia. Mas ele admitiu erros, como acreditar que o então primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se fortaleceria ao longo do ano (Abe acabou deixando o cargo).
Erros como esse não impedem que previsões sejam feitas pelo mundo afora, por analistas, consultores, videntes, jogadores de búzios e, logicamente, jornalistas. Franklin inclusive inclui na sua lista de destaques para 2008 o avanço do "futurismo", exercício que substituiria a "futurologia" e daria mais atenção a mudanças que afetem um pequeno grupo social, as "microtendências", ou relativas a um curto espaço de tempo. Em um mundo onde tudo muda com uma rapidez nunca vista, a arte das previsões estaria agora em identificar mudanças nos próximos meses, não nos próximos anos ou décadas. Mesmo assim, futuristas evitam ser categóricos sobre o que vai acontecer, sempre deixando margem para apostas alternativas. Afinal, eles sabem que, mesmo em suas microprevisões, serão certamente supreendidos pelo que nos aguarda em 2008. Feliz ano novo a todos.