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Arquivo para fevereiro 2009

Caso Paula e o poder da dúvida

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Rogério Simões | 17:35, quarta-feira, 18 fevereiro 2009

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paula.jpgHá quem não acredite na imprensa. Sei que algumas pessoas dizem não acreditar em praticamente nada do que lêem em jornais, revistas, ouvem no rádio ou vêem na televisão. Tal pensamento representa para nós, jornalistas, um desafio. Mas também deveria servir de inspiração. Afinal, a dúvida, ou muitas vezes até o ceticismo, é uma das maiores armas do bom jornalismo. Qualquer repórter, ao receber no colo uma informação nova, deveria fazer duas coisas: em primeiro lugar, duvidar; em segundo, correr atrás das fontes pertinentes para saber se sua dúvida tem, ou não, fundamento. É preciso se mexer, mas sem abandonar seu papel de questionador.

O caso envolvendo a brasileira Paula Oliveira, que afirmava ter sido atacada por três neo-nazistas na Suíça, deixou o governo brasileiro e boa parte da imprensa do país em situação delicada. O episódio chocou a opinião pública por causa da tortura que teria sido aplicada, com cortes em várias partes do corpo da vítima, e porque o suposto ataque teria provocado o fim de uma gravidez de gêmeos. Mas pouco depois peritos suíços comprovaram que Paula não estava grávida no dia em que disse ter sido agredida e disseram que os cortes podem ter sido infligidos por ela mesma. Na terça-feira, dia 17, a advogada foi indiciada e impedida de deixar a Suíça, sob acusação de "induzir autoridades ao erro".

O problema da maioria da cobertura jornalística desse caso no Brasil foi a falta de dúvida de muitos jornalistas. As palavras ditas pelo pai da suposta vítima foram apresentadas por grande parte da mídia como a verdade absoluta. Para piorar, o governo brasileiro as abraçou completamente e as revendeu a veículos de imprensa, entre eles a ´óÏó´«Ã½ Brasil, como um fato comprovado e digno do selo presidencial.

Nós, aqui na ´óÏó´«Ã½, somos pagos para duvidar. Constantemente a ´óÏó´«Ã½ se vê no dilema entre dar uma notícia rapidamente ou esperar alguma confirmação adicional. Nossa obrigação é optar pela confirmação, o que faz com que a ´óÏó´«Ã½ pareça "lenta" em algumas notícias levadas ao ar imediatamente por outros veículos. No caso da brasileira na Suíça, nós ficamos sabendo do suposto ataque na noite de quarta-feira, dia 11. "Quem está dando a notícia?", perguntei ao redator que me ligara de São Paulo para a redação aqui de Londres. "Está na TV." Fomos checar em agências de notícias, e nada. A parte em inglês da ´óÏó´«Ã½ desconhecia. Aqui, se o caso não foi apurado diretamente por nós, precisamos de pelo menos duas fontes para publicá-lo no site ou levá-lo ao ar. Ou alguma fonte de credibilidade a que possamos atribuir as informações. Mas não tínhamos nada isso e não podíamos nos basear apenas num canal de televisão, que por sua vez se baseava em um blog. Preferimos esperar para saber se o governo brasileiro se pronunciaria sobre o assunto.

Ainda naquela noite, depois de falar com um porta-voz do Itamaraty, publicamos nosso texto. Atribuímos tudo ao Ministério das Relações Exteriores. Em nove curtos parágrafos, nosso redator Caio Quero teve o cuidado de dizer seis vezes que o Itamaraty era o responsável pelas informações. O texto ainda se referia aos agressores como "supostos neonazistas". Foram cuidados editoriais importantes, que resultaram em um texto correto. O governo brasileiro estava divulgando um caso chocante como verdade, o que era uma notícia que não poderíamos ignorar. Mas não apresentamos nada como fato consumado. Tudo o que descrevemos eram hipóteses, tudo era "segundo o Itamaraty". Onde poderíamos ter feito melhor foi no título. "Brasileira grávida de gêmeos é agredida na Suíça e perde bebês", dissemos. Mas o melhor teria sido algo como "Brasileira diz ter sido agredida na Suíça e perdido bebês" ou "Itamaraty denuncia agressão a brasileira na Suíça".

Na manhã seguinte, ao chegar à redação fui informado que nosso repórter em Berlim, Marcio Damasceno, nos alertava para o fato de que na Alemanha uma mulher havia sido condenada por acusar neonazistas de atacá-la, quando na verdade ela mesma tinha se cortado. Não publicamos isso, mas a informação serviu como um fator a mais para alimentar nossa dúvida. Confesso que fui pego de surpresa. Apesar do cuidado da noite anterior, minha tendência naquele momento era achar que a história fosse verídica. Ficamos então ainda mais atentos para não abraçá-la indevidamente. O caso segue sendo investigado na Suíça, e ainda não está provado se o suposto ataque ocorreu ou não.

O episódio traz certamente muitas lições para a imprensa. No caso da ´óÏó´«Ã½ Brasil, olhando para trás sempre se pode dizer que poderíamos ter feito melhor. Mas acredito que fizemos, em grande parte do processo, o que todo jornalista deveria quando se depara com um fato novo em suas mãos: duvidar sempre, enquanto corre atrás dos fatos para esclarecer sua dúvida.

Ainda o novo site

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Rogério Simões | 12:02, terça-feira, 17 fevereiro 2009

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Uma rápida mensagem em resposta a novos comentários deixados no nosso fórum. Várias ferramentas e funções de que alguns leitores estão sentindo falta serão aos poucos introduzidas neste nosso novo site. Entre elas, links para as principais matérias do dia, informações sobre os textos mais lidos e dados do mercado financeiro. Novos blogs também estão a caminho, nos quais contaremos com a sempre bem-vinda participação de vocês. Mais uma vez, obrigado pelos elogios, críticas e sugestões.

O leitor e a nova ´óÏó´«Ã½ Brasil

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Rogério Simões | 17:05, terça-feira, 10 fevereiro 2009

Comentários (17)

bbcbrasilsite.jpgNós pedimos, e nossos leitores responderam. Após cinco dias, mais de 400 internautas já participaram do para dizer se gostaram ou não do nosso novo site, lançado no último dia 4. Li com atenção cada um dos comentários e agradeço, em nome da nossa equipe, por todas as opiniões expressadas.

Não chegamos a fazer ainda um levantamento científico, mas aparentemente o novo site foi aprovado pela maioria dos que colaboraram. Entre 60% e 70%, acredito. Mas isso é menos importante. O que interessa mesmo é que os nossos internautas, sejam eles novos leitores ou companheiros de muitos anos, nos deram valiosos pontos de vista sobre as mudanças, em que pontos acertamos, onde erramos e o que ainda pode melhorar.

Aqueles que já o aprovaram, destacaram o aspecto visual do site e algumas mudanças na oferta do conteúdo. Lindo, limpo, moderno, claro, de fácil navegação, leitura mais fácil, com mais vídeos e mais espaço foram comentários comuns entre os internautas satisfeitos com nosso novo visual. Os que não gostaram reclamaram do fundo branco (seria claro demais), disseram ter dificuldade em navegar pelo conteúdo, acham o novo site desorganizado e sentem saudade da antiga versão. Como muitos carinhosos leitores escreveram, em time que estava ganhando nós não deveríamos ter mexido.

Àqueles que pediram o retorno ao modelo anterior, sinto dizer que o novo site da ´óÏó´«Ã½ Brasil veio para ficar. A mudança atende a uma necessidade de oferecermos aos internautas um conteúdo mais amplo, com mais vídeos, mais interatividade e um desenho gráfico que reúne as mais recentes inovações na internet, abraçando e melhorando o que já havia de bom nos novos padrões de sites de notícias, sem abandonar a qualidade ´óÏó´«Ã½. Mas o novo site da ´óÏó´«Ã½ Brasil está apenas engatinhando. Nos próximos dias, semanas, meses e anos, estaremos melhorando o nosso endereço na rede constantemente, buscando outras formas de acrescentar conteúdo, flexibilizar ainda mais o desenho das páginas e oferecer novas ferramentas aos leitores.

Algumas dessas melhorias devem chegar muito em breve. Muitos internautas reclamaram da falta de agrupamento dos textos por temas, o que já estava previsto no projeto e está sendo finalizado por nossa equipe técnica. Isso atenderá a um outro pedido de muitos leitores: o agrupamento das colunas antigas de Ivan Lessa e Lucas Mendes. Outros pediram mais interatividade, com a possibilidade de o leitor comentar qualquer matéria. Temos isso como objetivo, mas ainda demorará um pouco mais por depender de questões técnicas mais difíceis. Mas teremos em breve informações sobre quais foram os textos mais lidos e links para reportagens de outros sites brasileiros, além de outros pequenos avanços que os desenhistas e técnicos seguem desenvolvendo.

O fórum sobre nosso novo site continua aberto, e a opinião de todos será sempre bem-vinda. O nosso site passará a oferecer cada vez mais alternativas de desenho e conteúdo: manchetes poderão ter um vídeo próprio, galerias de foto poderão ocupar a Primeira Página, e novos blogs, como o recém-criado ´óÏó´«Ã½ Tendências e os futuros blogs sobre Brasil e economia global, aumentarão ainda mais nosso contato direto com o leitor.

Essa grande mudança que fizemos, após um trabalho de muitos meses das nossas áreas editoral e técnica, visa oferecer ao público brasileiro um produto melhor, mais moderno, mais rico em informação e opções, mantendo os valores de equilíbrio, precisão e imparcialidade da ´óÏó´«Ã½. A ´óÏó´«Ã½ Brasil, na essência, continua a mesma. Mas trabalharemos sempre para produzir um site cada vez melhor.

Tempos de guerra

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Rogério Simões | 10:37, quarta-feira, 4 fevereiro 2009

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francagreve.jpgPrimeiro foram as bolsas de valores, que em meados de 2007 começaram a registrar algumas quedas acentuadas. Alguns bancos viram-se em maus lençóis, como o britânico Northern Rock, que quebrou ainda naquele ano. Era a crise do crédito, que derrubaria também o gigante americano Bear Stearns. Outras megafalências vieram, especialmente no setor financeiro e de hipoteca dos Estados Unidos, até que o banco Lehman Brothers ruiu, em setembro de 2008. A crise agora englobava praticamente todos os aspectos do sistema financeiro. Com a falta geral de dinheiro, exportações e importações mundo afora encolheram, e taxas de crescimento despencaram. O problema passou a afetar a economia global.

A crise agora chegou às ruas. Trabalhadores, estudantes e aposentados vêm realizando protestos, enfrentando a polícia ou simplesmente cruzando os braços na França, Grécia, Grã-Bretanha, China. O regime comunista/capitalista chinês teme pelo futuro do país, em meio a uma crescente , geralmente não registradas pela imprensa local. Na Europa, um ano atrás líderes nacionais falavam da necessidade de reformas para modernizar seus Estados. Hoje o medo é que tais mudanças não apenas sejam impensáveis, mas que protestos de desempregados e de trabalhadores temendo perder sua vaga causem verdadeiras convulsões sociais. Na França, uma greve geral mostrou ao presidente Nicolas Sarkozy que o país pode viver novos momentos de grave tensão nacional.

Os motivos da insatisfação crescente estão geralmente ligados ao drama de se acabar no olho na rua. Na Espanha, a crise econômica já elevou a taxa de desemprego nacional para além dos 14% da população economicamente ativa. Poderá chegar a 20%. Muitos culpam a globalização, esse fenômeno tão debatido nas últimas duas décadas que faz com que uma decisão política ou econômica na China tenha impacto na periferia da Cidade do México. Tanto capital financeiro como empregos têm pulado de um canto do mundo para outro com uma rapidez nunca antes vista, num processo que elevou a riqueza em praticamente o mundo todo, mas aumentou os riscos.

A situação mudou, e muitos agora rejeitam a idéia de um mundo globalizado, sem fronteiras, sem muito controle, sem proteção. Os que cruzaram os braços nos últimos dias protestam contra a chegada de empregados de outros países europeus, que na sua visão têm tomado seus empregos no setor, invadido por empresas estrangeiras. Cobram do premiê Gordon Brown a promessa de "empregos britânicos para trabalhadores britânicos". O presidente Barack Obama prometeu, no pacote econômico que espera ver colocado em prática em breve, o incentivo para que consumidores americanos "comprem produtos americanos". Em entrevista exclusiva ao repórter Gary Duffy da ´óÏó´«Ã½, publicada aqui na ´óÏó´«Ã½ Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a medida. A Comissão Européia também e já ameaça com retaliações. A China acusa os Estados Unidos de se render ao protecionismo, e Washington rebate dizendo que a China mantém sua moeda artificialmente desvalorizada para elevar suas exportações.

Primeiro o crédito se foi, os bancos quebraram, e o mundo ficou sem dinheiro. Depois milhões perderam seus empregos. Agora os trabalhadores vão às ruas, enquanto todos os países tentam vender, mas ninguém quer comprar. Alguns líderes políticos e organismos internacionais tentam colocar panos quentes, pedem calma e acenam a bandeira branca. Mas nas ruas e nas relações comerciais, muitos já se preparam para tempos de guerra.


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