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Arquivo para julho 2008

Retirada do Iraque já é coisa do passado

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Daniel Gallas | 15:44, terça-feira, 29 julho 2008

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Depois de anos de uma campanha dura e desgastante, ele decidiu retirar as tropas do Iraque e refazer a sua política externa. Também enfrentou conflitos em Israel e nos Bálcãs.

Não, o parágrafo acima não é uma notícia sobre a Casa Branca em 2008, mas sim um relato da vida do imperador romano Adriano, que governou no segundo século depois de Cristo.

Durante seu governo, Adriano retirou suas tropas da Mesopotâmia (região que inclui o atual Iraque), esmagou uma revolta na Judéia (atual Israel e territórios palestinos) e enfrentou conflitos na Macedônia, na região dos Bálcãs.

Na semana passada, eu fui ver a exposição sobre o imperador que acabou de abrir aqui no British Museum (o Museu Britânico).

A exposição é um exemplo perfeito da "reinvenção" do seu papel que os museus daqui tentam empreender.

Os museus de Londres - assim como em vários outros lugares - vêm tentando deixar de ser apenas um depósito de tesouros incalculáveis, para se tornarem instrumentos de reflexão sobre o presente.

Imperador Adriano (76-138 d.C.)

Entre os museus daqui, o British Museum - onde Karl Marx escreveu O Capital - é sempre pioneiro, já que é um dos mais prestigiados e amados entre os britânicos.

Em 2004, em meio às notícias sobre o conflito de Darfur, o British abriu uma exposição sobre o Sudão antigo. No ano passado, enquanto os jornais destacavam a explosão econômica da China, o museu expôs seu rico acervo sobre o primeiro imperador chinês. E agora chegou a vez de Adriano.

Essas exposições "políticas" geram um grande barulho na imprensa daqui.

O crítico de arte Waldemar Januszczak escreveu que a mostra sobre o Sudão "iluminou o conflito de Darfur com muito mais cores do que qualquer reportagem de telejornal".

Na semana passada, colunistas dos maiores jornais debatiam sobre os detalhes da campanha de Adriano na Mesopotâmia.

Na televisão, o imperador ganhou um documentário de uma hora em pleno horário nobre.

E outros museus seguem a mesma onda do British. Quem viu a exposição sobre design e arquitetura da China no Victoria & Albert Museum, no começo do ano, saiu com a sensação de ter visitado a futurista Pequim, que foi construída para as Olimpíadas deste ano.

Na minha experiência, essas exposições realmente surtem efeito. Agora lendo jornal, depois de ver a exposição de Adriano, volta e meia fico com a sensação de que "essa história eu já conheço".

O médico da família era o 'monstro'

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Iracema Sodre | 16:31, quinta-feira, 24 julho 2008

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Esta semana, o jornal The Guardian trouxe uma reportagem com a história de Nick Medic, que vive em Londres, e teve um choque na segunda-feira quando descobriu que o médico de terapias alternativas de sua família era ninguém menos que Radovan Karadzic.

O ex-presidente sérvio da Bósnia é acusado de comandar o massacre de Srebrenica, em que 8 mil homens e meninos muçulmanos foram mortos, e o cerco de Sarajevo, que fez cerca de 11 mil vítimas, nos anos noventa.

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Medic é de origem sérvia e tem família em Belgrado, a capital do país. Ele contou ao jornal britânico que conheceu Karadzic através de sua mãe, fã dos seminários sobre bioenergética que ele dava.

O Dr. David, como Karadzic se apresentava, chegou a fazer massagens na esposa de Medic e em suas filhas gêmeas, de sete anos.

"Eu acho que muitos sérvios discordariam de mim por causa de seu nacionalismo, mas para mim não há diferença alguma entre Karadzic e as pessoas julgadas em Nuremberg. É a mesma mentalidade. É como se Josef Mengele fosse o médico da nossa família", disse Medic ao Guardian.

"Eu o desprezo. E agora, ele não é apenas um criminoso de guerra, mas também um bandidinho comum. Não sinto nenhuma pena dele."

Deve ser difícil saber que alguém que desperta sentimentos tão negativos possa ter se aproximado tanto de sua família a ponto de participar de festas e eventos íntimos.

A mãe de Medic disse que Karadzic andava nervoso nos últimos tempos, provavelmente por que ele saberia que com as mudanças no governo sérvio e nos serviços de segurança do país, seu disfarce "new age" não duraria muito.

Agora, Medic - e aposto que muitos outros sérvios que cruzaram o caminho do doutor alternativo - lamenta mesmo é não ter reconhecido que o senhor com jeito hippie e barba branca era Karadzic. Um pouquinho de calmante no café do homem, e ele podia ter embolsado a recompensa de 5 milhões de dólares...

De onde vêm os cabelos?

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Iracema Sodre | 18:01, segunda-feira, 21 julho 2008

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As mulheres brasileiras têm fama de vaidosas, mas depois que vim morar em Londres, vi que as européias (as britânicas em particular) também gastam muito tempo e dinheiro para se embelezar.

As indústrias de bronzeamento artificial e de aplique de cabelos, por exemplo, são enormes por aqui. Por isso, na mesma onda da preocupação com a origem das roupas vendidas na Grã-Bretanha, agora todo mundo quer saber de onde vêm os cabelos usados nas "hair extensions" que adornam as cabeças de celebridades e de gente comum também.

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Eu já tinha ouvido aquelas histórias de gangues que cortam rabos-de-cavalo de meninas nas ruas para vender ou de presidiárias que têm os cabelos cortados e vendidos à revelia, até as versões que diziam que os apliques vinham de gente morta, mas nunca tinha me interessado muito pelo assunto.

Agora, um documentário da ´óÏó´«Ã½, apresentado pela cantora pop Jamelia - bem famosa por aqui, mas quase desconhecida no Brasil, acho eu - foi traçar a origem das madeixas que viram apliques como o usado por ela própria na foto acima.

No melhor estilo investigativo, ela foi até a Rússia, onde viu uma menina de treze anos vender o lindo, loiro e longuíssimo cabelo por 100 libras (aproximadamente R$ 320), apesar de que a compradora do cabelo confessou que normalmente essas meninas recebem apenas um quinto deste valor. Quando os fios chegam a Londres, eles podem ser vendidos por mais de mil libras, ou seja, algo em torno de 3 mil reais.

Em outra parte do documentário, Jamelia pediu uma análise de laboratório de uma mecha do cabelo que ela usou para apresentar um sorteio de loteria na televisão. Os resultados indicaram que a dona dos cabelos morava na região do Chenai, na Ãndia, perto de uma grande cidade, e comia muito peixe (!).

E lá se foi a cantora descobrir que os hindus têm um ritual de sacrifício da beleza em que eles raspam completamente a cabeça em agradecimento por uma benção ou como forma de pedir algo aos Deuses. Adivinhem o que acontece com os longos cabelos negros? São vendidos pelos templos a fábricas, que processam e exportam os apliques.

Mas de exploradores, os templos passam a bons moços, quando Jamelia vê que eles usam o dinheiro conseguido com a venda dos cabelos para alimentar os pobres indianos.

No fim, um assunto que eu pensei que seria bastante superficial acabou rendendo um programa interessante sobre a importância dos cabelos compridos em algumas culturas, e de sacrifícios por motivos financeiros ou espirituais que acabam virando parte da fogueira das vaidades em que vivemos hoje em dia.

Roupa barata: comprar ou não comprar?

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Iracema Sodre | 19:46, quarta-feira, 9 julho 2008

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Para começar, vou confessar os meus pecados. Pouco depois que cheguei a Londres, há quase cinco anos, descobri a Primark. Eu, que era estudante, e tinha um orçamento que podemos chamar de limitado, não podia acreditar que havia uma loja onde era possível comprar blusinhas por uma libra (cerca de três reais), calças jeans por três e jaquetas por menos de dez. As roupas são bonitinhas, inspiradas em modelos exibidos nas passarelas, mas a qualidade deixa a desejar, claro. Mesmo assim, ainda é melhor que a de algumas lojas "de marca" no Brasil.

Então, ótimo. Roupas bonitas e baratas em Londres. Eu não sabia que era pecado, mas era. Descobri duas semanas atrás, quando uma reportagem investigativa para o programa Panorama, da ´óÏó´«Ã½, mostrou que algumas das roupas da Primark eram feitas por crianças trabalhando em péssimas condições em favelas e campos de refugiados na Ãndia.

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Não se pode dizer que isso é exatamente uma surpresa. Se pensarmos um pouco, é difícil acreditar que algo que foi produzido do outro lado do mundo possa custar tão barato e ainda dar lucro para alguém (já que, obviamente, a Primark é uma empresa que vai de vento em popa e isso não acontece com quem vende roupas por menos do que o preço de custo).

Como dizem os especialistas em comércio ético, alguém está pagando pelas suas roupas e produtos baratos, seja com salários baixíssimos, péssimas condições de trabalho ou práticas duvidosas, como o uso de pesticidas nas plantações de algodão, tintas sendo despejadas em rios ou maus-tratos de animais.

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Mas, segundo redes como a Primark, os preços baixos são fruto de uma combinação da produção em grande escala, dos poucos gastos com publicidade e de lojas gigantes, de gerenciamento barato.

Assim que o escândalo de trabalho infantil foi exposto, a Primark encerrou os contratos com três fornecedores e fundou uma instituição em benefício de crianças. A loja tem um comitê de ética e diz que faz o possível para inspecionar e garantir que as leis sejam respeitadas nos locais onde suas roupas são produzidas. Mas a Primark alega que é quase impossível controlar os subcontratados de seus contratados.

E agora? É condenável continuar comprando nessas lojas baratas? Será que comprar roupas mais caras é garantia de que elas são produzidas "eticamente"? Os especialistas dizem que não. Roupas caras podem ser produzidas na mesma fábrica chinesa que o vestidinho de cinco libras da Primark.

O segredo seria descobrir de onde vêm e como são produzidas as roupas vendidas em cada loja. Tarefa complicada. Hoje em dia, todas as lojas por aqui se dizem "éticas", contra o trabalho infantil e outros abusos, e dizem fazer auditorias rigorosíssimas. A Primark era uma delas, antes da denúncia.

Essa é a questão. Estou dividida entre comprar as roupas de uma libra e depois ficar pensando se não estou financiando o trabalho infantil ou ficar interrogando gerentes de loja para saber a procedência dos produtos e ainda assim ficar com a pulga atrás da orelha quando voltar para casa com as sacolas cheias.

Queijos, larvas e peixe podre

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Iracema Sodre | 18:29, terça-feira, 1 julho 2008

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Parece que comer coisas nojentas está na moda. Outro dia um programa de TV do renomado chef britânico Gordon Ramsay mandou um repórter para a Sardenha, na Itália, para experimentar uma iguaria local: queijo com larvas vivas.

Não me considero das mais frescas com comida. Encaro um escargot sem problemas, provo carnes diferentes, mas lesmas vivas e coisas podres, sinto muito, mas nem chego perto.

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O tal queijo sardo chama-se casu marzu. É um pecorino apodrecido que fica no ponto quando aparecem as larvas brancas saídas, claro, de ovos colocados por moscas. E dizem que para sentir o gosto intenso é preciso esmagar as larvas dentro da boca. Me dá até um arrepio.

Não é à toa que a venda do queijo - "mais forte que parmesão, mais arriscado que roquefort" - foi proibida por um tribunal europeu há 30 anos, aparentemente por causa do risco de os bichos comerem as entranhas dos apreciadores da iguaria.

No Cairo, há uma tradição igualmente curiosa, que deve vir dos tempos dos faraós, de se comer peixe podre.

Quando era correspondente da ´óÏó´«Ã½ Brasil na capital egípcia, Andrea Wellbaum resolveu experimentar o tal "fesiekh". Passou muito mal. Dizem que todos os anos morrem alguns por causa da guloseima.

Mas se engana quem acha que é preciso viajar para terras exóticas para provar comidas, digamos, não-convencionais.

Aqui em Londres, o site www.edible.com oferece petiscos como formigas gigantes cobertas com chocolate, lesmas crocantes, escorpião com caramelo e curry de ganhafoto ou de jacaré para serem apreciados no conforto da sua casa. Este último até que eu provaria....

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