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Arquivo para outubro 2007

Nada feito

Maria Luisa Cavalcanti | 18:27, terça-feira, 30 outubro 2007

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Recentemente, eu comentei aqui sobre a reforma no Stables Market, em Camden. Disse que uma petição pelo fim das obras estava disponível online no site do governo britânico para quem, como eu, quisesse assinar.
Bom, agora recebi uma resposta do governo dizendo o que ocorreu com a petição. Ele explica que não pode atuar diretamente na área de construção e planejamento - isso é de responsabilidade das admnistrações regionais, a não ser que haja algum problema grave, o que não é o caso. Mas o governo lembra que estimula os councils a manterem os atuais mercados, e até criarem novos, pois "eles representam uma contribuição valiosa para a vitalidade dos centros urbanos".
O curioso é que os próprios criadores da petição não comentam mais sobre o assunto. O site está abandonado.
Neste caso, ponto para o governo por ao menos ter dado uma satisfação a quem, como eu, se sensibilizou com a questão.

Repórteres no cativeiro

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Rogério Simões | 18:22, terça-feira, 30 outubro 2007

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Meses atrás, quando as imagens do jornalista e colega Alan Johnston, sob o poder de um grupo armado palestino, foram divulgadas na internet, eu me lembrei imediatamente do americano Daniel Pearl (foto). Aos 38 anos, repórter do influente Pearl era experiente e cuidadoso. Acreditava ter tomado todas as precauções necessárias antes de ir a uma suposta entrevista com um líder religioso no Paquistão, pouco depois da queda do Talebã no vizinho Afeganistão. No que seria o começo de uma onda de seqüestros e mortes de ocidentais no Oriente Médio, no auge da chamada "Guerra ao Terrorismo", Pearl teve a garganta cortada e foi, em seguida, decapitado. Grande parte dos envolvidos no crime foi presa, entre eles Ahmed Omar Saeed Sheikh, ou simplesmente Xeque Omar, que espera julgamento de recurso após ser condenado à morte.

A história de Pearl está contada no filme O Preço da Coragem, adaptação do livro escrito por sua mulher, a jornalista francesa Mariane Pearl, que estréia nesta sexta-feira no Brasil. O diretor Michael Winterbottom mais uma vez recriou com primor uma realidade contemporânea e explosiva, como já havia feito em Neste Mundo ou Caminho para Guantánamo. Ao retratar o trabalho do repórter do WSJ e os posteriores esforços de sua mulher e representantes do jornal para obter sua libertação, o filme exibe a fragilidade inerente ao trabalho jornalístico. Correspondentes, especialmente em áreas de conflito, são mensageiros à mercê da realidade que investigam. A busca da informação implica uma constante convivência com o risco, e eu, como jornalista e espectador, senti esse risco exposto na tela de forma real.

Alan Johnston teve mais sorte. Pôde contar sua própria história, em uma reportagem para a ý, dias atrás. Apesar de ter sido colocado em frente a uma câmera, sob ameaça de morte, no mesmo tipo de ritual macabro por que passou Daniel Pearl, Johnston sobreviveu. Foi libertado como parte de um acordo entre o Hamas e seus captores, que atuavam de maneira independente na Faixa de Gaza. Seus quase quatro meses nas mãos de um desconhecido grupo, auto-denominado "Exército do Islã", são descritos por Johnston de maneira emocionada, mas sem perder a perspectiva equilibrada e justa que marcaram seu trabalho como repórter. Sofreu humilhações e torturas psicológicas típicas de um cativeiro, mas admitiu que a sua experiência "não foi o que prisioneiros irquianos foram forçados a enfrentar na prisão de Abu Ghraib".

Seqüestros de jornalistas pelo mundo afora (como no Brasil, onde Tim Lopes teve o mesmo destino de Daniel Pearl) são conseqüências das próprias mazelas que eles tentam expor. No caso de Gaza ou Paquistão, mazelas diretamente ligadas a conflitantes projetos políticos, sendo que a população local sofre infinitamente mais que os jornalistas estrangeiros.

Tanto Pearl como Johnston sabiam do risco que corriam em regiões muçulmanas onde grupos extremistas vêm conquistando espaço. Suas nacionalidades, americana e britânica, faziam deles alvos em potencial de militantes que eram, regularmente, temas de suas reportagens. Mas o tipo de trabalho que realizavam é essencial, por mostrar ao mundo os efeitos das disputas por poder nas regiões mais conflituosas do planeta. Seus olhos eram os olhos dos leitores, espectadores e ouvintes. Um capuz sobre a cabeça de um repórter pode impedi-lo de ver e até mesmo decretar sua morte. Mas não elimina a necessidade de se mostrar uma realidade que muitos preferem encobrir.

Jornalismo multimídia

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Rogério Simões | 18:10, sexta-feira, 26 outubro 2007

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Dias atrás, a ý anunciou mudanças radicais na sua estrutura aqui na Grã-Bretanha. As medidas, que não atingem diretamente a ý Brasil (somos do setor internacioinal da empresa), visam uma ý mais enxuta, com cerca de 1.800 funcionários a menos (a ý tem cerca de 23 mil). Os sindicatos já estão conversando com o comando da ý para tentar chegar a um acordo sobre o impacto no corpo de funcionários, mas, para o jornalismo em geral, o projeto anunciado tem implicações que vão muito além das disputas trabalhistas.

Com as mudanças, a ý pretende abraçar de vez o conceito de produção multimídia, especialmente em seu jornalismo. Como já fizeram outros veículos, como o , aqui na Grã-Bretanha, a ý colocará jornalistas de várias mídias (no nosso caso, TV, rádio e internet) em uma redação totalmente integrada. Criará também um núcleo de jornalismo internacional, uma estrutura que deverá aproximar o canal , exibido no Brasil, e o Serviço Mundial, ao qual pertence a ý Brasil, do jornalismo britânico da ý. Diferentes mídias compartilharão o mesmo espaço, colaborando muito mais uma com a outra, colocando em prática o que parece ser mesmo o modelo jornalístico do futuro.

Aqui na ý Brasil nós já trabalhamos de forma semelhante, já que nossas redações, tanto em Londres como em São Paulo, além dos correspondentes no Cairo e em Washington, trabalham em internet, vídeo e rádio. A melhor forma, hoje, de medirmos a nossa audiência é por meio dos números de acesso às nossas páginas, portanto a produção em internet, propriamente dita, é a espinha dorsal do nosso trabalho diário. Mas o princípio que abraçamos anos atrás, e que toda a ý agora assume de vez como sua política para o futuro, é que não importa como o público consome o conteúdo que produzimos. O importante é atingi-lo, e cabe às empresas jornalísticas chegar aos seus consumidores da maneira que traga os melhores resultados para ambos os lados.

Nesta sexta-feira, o britânico , que em papel é apenas o terceiro em circulação no país, abaixo das 400 mil cópias diárias, trouxe, orgulhoso, na sua capa os últimos números de tráfego nos sites de jornais do país. O Guardian lidera com 16,7 milhões de leitores mensais, contra 12,5 milhões do and 10,6 milhões do Telegraph. O jornal em papel nunca conseguiria atingir tamanho número de leitores. Na sua edição impressa, o Guardian cada vez mais promove o seu site, numa indicação de que o jornal propriamente dito, aquele que colocamos embaixo do braço, está cada vez mais se tornando apenas uma parte de uma operação muito maior.

A ý não é um jornal, é muito maior do que qualquer um deles. Exatamente por isso tem um desafio ainda mais difícil pela frente: adaptar-se ao mundo multimídia sem perder a liderança e a respeitabilidade de que há muito desfruta, pela qualidade de sua dramaturgia, seus documentários, suas transmissões esportivas e, especialmente, seu jornalismo. A reestruturação anunciada dias atrás nos coloca ainda mais perto de uma nova realidade que nem conseguimos vislumbrar precisamente, mas que, sabemos, está à nossa espera. A cada dia que passa, fica mais difícil prever como será o mundo jornalístico daqui a cinco anos. Para muitos, isso é assustador. Eu acho fascinante.

Líderes do Terceiro Mundo

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Rogério Simões | 17:36, quinta-feira, 18 outubro 2007

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Na última terça-feira, participei de um debate no rádio dentro de um programa da ý transmitido para a África. Ao meu lado, no estúdio, estavam a apresentadora, a sul-africana Audrey Brown, e mais um convidado, o vice-diretor do serviço indiano da ý, Shivkant Sharma. Na pauta, a reunião de cúpula entre os líderes de Brasil, África do Sul e Índia, realizada em Pretória (África do Sul).

Brown começou o debate perguntando se a reunião despertava muito interesse na Índia e no Brasil, e tanto eu como meu colega indiano demos a mesma resposta: assuntos locais recebiam muito mais destaque na mídia do que acordos e discussões diplomáticas dos líderes dos nossos países em viagens ao exterior. No caso da Índia, era a polêmica em torno do acordo nuclear com os Estados Unidos, que pode não apenas ficar só no papel como também derrubar o governo do primeiro-ministro Manmohan Singh. No Brasil, a imprensa estava mais preocupada com a batalha política em torno da CPMF.

Viagens de líderes nacionais não costumam gerar manchetes de impacto e acabam sendo, merecidamente, vistas pelo cidadão comum como algo distante, com muita cerimônia e pouco conteúdo. Mas a ý, tendo o privilégio de ter, no mesmo prédio, jornalistas da África do Sul, Índia e do Brasil, resolveu debater a aproximação política e econômica dos três países. Nós, da ý Brasil, tínhamos um enviado especial acompanhando o evento no local. Por quê? Simplesmente porque o tema é importante. Não se trata de dizer que o chamado Ibas (ou Ibsa, na siga em inglês), grupo que agora reúne as três nações, terá resultado prático imediato na vida do cidadão ou mesmo que sua existência seja uma boa idéia da diplomacia brasileira. Mas a cúpula, que tratou de acordos comerciais e até de cooperação nuclear, foi mais um sinal de que países historicamente menos privilegiados estão estabelecendo, entre si, relações de níveis até pouco tempo atrás inexistentes. O futuro do mundo está sendo decidido cada vez menos apenas entre Washington, Londres e Paris, e o papel da imprensa é acompanhar de perto as movimentações dentro do antigo Terceiro Mundo, ou mundo em desenvolvimento. Mesmo que elas, aparentemente, ainda não dêem frutos significativos.

Outra reunião, também realizada nos últimos dias, mostrou de forma ainda mais clara que a imprensa deve prestar atenção nas viagens de líderes de países em desenvolvimento. Na capital iraniana, Teerã, o russo Vladimir Putin reuniu-se com o colega e anfitrião, Mahmoud Ahmadinejad. Deu um vital apoio diplomático ao polêmico programa nuclear do Irã. Mais: Putin, Ahmadinejad e os líderes de Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão fizeram uma espécie de pacto de não-agressão e defesa mútua, dizendo que nenhum país tem o direito de iniciar uma guerra na região do Mar Cáspio, que banha as cinco nações. Foi um recado direto aos Estados Unidos, que têm dado sinais de que consideram um novo conflito, agora contra o Irã.

Reuniões como essas não costumam empolgar o grande público nem têm a importância de uma cúpula do G8 ou um Fórum Econômico Mundial. Mas elas indicam movimentos importantes para a política internacional das próximas décadas, e por isso a imprensa deve manter os olhos abertos. Nelas podem estar sendo discutidas as manchetes do futuro.

Estranhezas da culinária britânica

Fernanda Nidecker | 15:36, terça-feira, 16 outubro 2007

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Já faz algum tempo que eu me pergunto se algumas esquisitices da culinária britânica são relativamente recentes ou se carregam uma longa história por trás.

Acabei descobrindo uma pesquisa da University of Wales Institute, que diz ter identificado alguns dos pratos mais antigos de que se tem registro na Grã-Bretanha.

Dizem os pesquisadores que a receita mais antiga do país data do ano 6.000 a.C. e atende pelo nome de nettle pudding, uma espécie de pastelão de ervas, feito à base de urtiga, farinha de cevada, água, cebolinha e outras ervas. Para dar um gostinho, uma pitada de sal. O nettle pudding era cozido a vapor, embrulhado num pano.

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A gostosura, que me pareceu mais um “pastelão de mato”, costumava acompanhar outro prato tanto quanto exótico: ouriço assado com ensopado de peixe defumado, bacon e leite (1 litro!).

Se nos dias de hoje o ouriço caiu de moda, deixou de herança uma série de outras receitas e ingredientes muito populares e de gosto um tanto duvidoso, como o Marmite.

Antes de mais nada, tenho que admitir que eu também já tive a minha fase (quem não teve?) de passar no meu pão esta pasta preta salgada feita à base de extrato de levedura e que faz parte da mesa dos ingleses desde o início do século passado.

Em matéria de Marmite, ou você ama ou você odeia. É 8 ou 80, não tem meio termo.

E cá pra nós, tudo bem que gosto não se discute, mas até agora eu não consegui entender como alguém consegue comer haggis, umas tripas recheadas com coração, fígado e pulmão de carneiro ou de porco.

haggis203.jpg

Segundo manda a tradição escocesa, os ingredientes devem ser cozidos dentro do estômago do animal, mas com o passar dos séculos e com a produção em larga escala, o haggis acabou ganhando a forma dos outros embutidos.

O haggis pode ser apreciado a qualquer hora do dia, (até de manhã!?), como parte do famoso Full English Breakfast, o café da manhã inglês, que vem com baked beans (feijão com molho de tomate), bacon, ovo frito, lingüiça e champignon.

E aí, vai encarar?

Era uma vez...um prêmio Nobel

Monica Vasconcelos | 13:09, sexta-feira, 12 outubro 2007

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Em 2002, tive o prazer de entrevistar a escritora Doris Lessing, que acaba de ganhar o prêmio Nobel de Literatura.

Na ocasião, fui pega de surpresa, já que não esperava que ela fosse concordar em falar comigo. Eu tinha pouquíssimo tempo para me preparar para a entrevista, no Queen Elizabeth Hall, uma das salas do centro cultural South Bank, na margem sul do rio Tâmisa.
doris203152.jpg

Lembro que fiz um "brain storm" com meu colega Thomas Pappon e uma das perguntas que ele sugeriu falava justamente do Nobel. "Como ela se sentia por nunca ter ganho o prêmio?"

A entrevista foi incrível. Apesar de anos de experiência como repórter de artes, entrevistando artistas, escritores, músicos, atores e o que viesse, achei a conversa com Lessing uma das mais difíceis da minha vida profissional.

A ex-militante comunista me surpreendeu por seu pessimismo. Disse que as coisas não iam muito bem no mundo e que não esperava mudanças.

Falamos sobre o Brasil, sobre a situação no Zimbábue, sobre os livros que ela estava lendo no período.

Senti um prazer imenso em observar aquela cabeça funcionando, a precisão no uso das palavras, o raciocínio rápido, a clareza, a substância, a beleza dos pensamentos que saíam daquela mulher, na época com 82 anos.
Mas a entrevista terminou mal… quando decidi perguntar sobre o Nobel.

Doris Lessing não gostou. Levantou-se da cadeira, visivelmente irritada. E disse que não ia responder, que o tema interessava a todo mundo, menos a ela. Saiu da sala.

Logo depois, fui me sentar no auditório para ouvir Doris ser entrevistada diante de uma platéia de centenas de pessoas.

Ali, no palco, encontrei a resposta para a pergunta que ainda me cutucava por dentro: "Onde tinha ido parar o idealismo e os sonhos da juventude de Lessing?"

Respondendo a uma das perguntas da platéia, a escritora disse que esperava, por meio dos seus livros, conseguir mudanças.

Para mim, naquele momento, a grande Doris Lessing se contradisse. E eu respirei aliviada.

Para ler a entrevista de Doris Lessing à ý Brasil, clique nos links abaixo.

/portuguese/cultura/020305_dorisentrevistamv.shtml

/portuguese/cultura/020306_lessingmv.shtml

Quanto vale um jornal?

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Rogério Simões | 18:06, segunda-feira, 8 outubro 2007

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O tablóide britânico reduziu seu preço de capa, em Londres, de 35 centavos de libra para 20 centavos (cerca de R$ 0,75). Para o leitor brasileiro ter uma idéia, isso é metade do preço de uma barra de chocolate barata. Um cafezinho aqui na capital britânica custa quatro vezes mais, em torno de 80 ou 90 centavos. Um capuccino vale quase oito vezes o famoso tablóide: cerca de 1,50 libra.

O Sun é o jornal diário de maior circulação da Grã-Bretanha. Vende mais de 3 milhões de cópias, um número de dar inveja aos jornais brasileiros, que têm de se contentar com tiragens de 300 mil, num país de população três vezes maior. Mas mesmo o poderoso Sun sente-se hoje ameaçado pela voracidade dos jornais gratuitos. O fenômeno, que já está presente nas maiories cidades brasileiras, afetou o mercado como um todo. O , cuja estratégia de distribuição sempre passou pela porta da entrada do metrô, está bem menos presente nas mãos dos passageiros. No lugar dele, vêem-se cada vez mais exemplares dos jornais , e . São publicações gratuitas que oferecem uma visão geral do noticiário, com forte carga de fatos locais ou sobre celebridades, além de serviços. E, como os links acima mostram, lançar um jornal de graça não significa apenas imprimir notícias. Cada um deles tem o seu site na internet, porque a presença na rede é essencial.

Ao que parece, então, novos empresários de mídia estão invadindo o mercado britânico com jornais de graça para desbancar grupos tradicionais? Não exatamente. A empresa que publica o London Paper é nada menos que a , de Rupert Murdoch, a mesma dona do The Sun. Tanto o Lite como o Metro são publicados pela , dona não apenas do Evening Standard como do , outro tradicional tablóide britânico. Grandes empresas jornalísticas estão jogando no mercado britânico produtos gratuitos que ameaçam a circulação dos seus próprios veículos, levando um deles a baixar seu preço de capa para 20 centavos (qualquer futura redução do preço do The Sun terá de ser para zero). Mas, antes de ser um tiro no próprio pé, a iniciativa mostra que elas identificaram uma tendência irreversível que não podiam ignorar, nem que isso abalasse seus próprios negócios anteriores. Para as batalhas do futuro, essas empresas de mídia acumulam novas armas.

É interessante constatar que jornais ditos "de qualidade" tiveram aumentos de preço. O passou recentemente de 70 centavos para 80, mesmo preço do A mesma News International que lançou um jornal gratuito e baixou o preço do Sun aumentou o do , de 65 para 70 centavos. O está em outro patamar, saindo por 1,30 libra. Sinal de que apenas aqueles jornais que oferecem um conteúdo mais sofisticado têm conseguido justificar ao leitor um preço de capa mais elevado.

O jornalista Richard Addis contemplou, em um curioso no Guardian no ano passado, uma realidade futura em que todos os jornais serão gratuitos. Entregar informação em um pedaço de papel seria apenas um braço do negócio jornalístico, que passaria a ser financiado apenas por recursos publicitários e as operações do veículo na internet (seja via computador tradicional, celular, iPod etc). Seria um mundo interessante. Eu acredito que ler algo impresso em papel, seja um jornal, uma revista ou um livro, ainda terá seu atrativo daqui a várias décadas, pela comodidade de carregá-los à praia ou ao parque. Por isso jornais impressos poderão seguir existindo. Mas a tese de Addis sugere que eles não serão mais o centro dos negócios de uma empresa jornalística. Sua existência se tornaria marginal, como um subproduto, promocional, oferecido gratuitamente a quem anda na rua.

Não estamos muito longe dessa realidade. Os jornais britânicos mais sofisticados ainda conseguem valorizar seu preço de capa, mas não valem mais que um cafezinho. No futuro, talvez nem isso.

Um por todos...

Monica Vasconcelos | 15:32, segunda-feira, 8 outubro 2007

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Na semana passada, fui cantar com a minha banda em uma escola primária aqui em Londres. Fomos, ao todo cinco, a pedido do baixista, Dudley Phillips. Um músico bem-sucedido e respeitado no circuito jazzístico de Londres.

É que os filhos dele estudaram na escola e ele tinha esse sonho, de organizar um show beneficente para ajudar a escola a fazer um dinheirinho.

Estudei vários anos em escolas públicas, como essa. O prédio era limpo, agradável, um ambiente sereno. As crianças já tinham ido para casa.

Demorou para eu entender que o show não era para elas, e, sim, para os pais. A sala dos professores virou o nosso camarim.

A funcionária que nos recebeu disse que podíamos nos servir de café ou chá. Quando olhei no armário, vi que havia vários vidros de café instantâneo, ou chá, todos com uma etiqueta indicando o nome do dono. Aqui na Grã-Bretanha não existe a figura da moça ou do moço do café.

O Dudley conseguiu emprestado de uma empresa o equipamento de som para o show. Que noite divertida.

No início, me perguntei se aquele tipo de música ia agradar. Em terra de muito rock e pop, jazz e música brasileria são músicas para mercado de nicho, para os iniciados.

Mas aos poucos "o público" foi relaxando e reagindo mais. No final do show, vendemos vários CDs e saímos de alma leve.

Eu quis registrar a noite nesse blog porque é um exemplo positivo, de como essa sociedade tem uma postura mais participativa, mais mão na massa.

O Dudley organizou a noite para retribuir à escola os anos de carinho e atenção dedicados aos seus dois filhos, hoje adolescentes.

Eu e os outros três músicos aceitamos o convite porque tocar sempre é bom, e ainda, de lambuja, poderíamos ajudar uma boa causa.

Os pais, mesmo aqueles que jamais ouviriam música daquele tipo, compraram seu ingresso e fizeram sua parte.

O que me alegra nessa experiência é saber que não é preciso ser Bob Geldof ou Bill Gates. Cada um de nós pode, de um jeito modesto, fazer a sua parte.

Os números corrigidos

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Rogério Simões | 20:13, sexta-feira, 5 outubro 2007

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Ainda sobre os números da criminalidade em São Paulo divulgados pela ONU. Nós publicamos uma reportagem sobre os erros da organização. Basicamente, a ONU trabalhava mesmo com números desatualizados. A reportagem esclarecendo os dados está aqui.

Quem precisa da ONU?

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Rogério Simões | 13:45, quarta-feira, 3 outubro 2007

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Eu já havia iniciado um texto sobre a Organização das Nações Unidas quando li o comentário de Reinaldo Azevedo sobre a instituição em seu . Azevedo aponta erros em um relatório da ONU sobre assassinatos em São Paulo que nós reproduzimos aqui na ý Brasil. Aparentemente, o nosso texto, que também carecia de clareza e detalhes, citava dados de um documento equivocado. Estamos esclarecendo com a ONU as informações divulgadas e, se houver erro, publicaremos um novo texto. Mas desde já agradeço ao jornalista por ter apontado possíveis problemas, pois nos dá a chance de corrigi-los.

No mesmo texto, Reinaldo Azevedo espinafrou de maneira geral as Nações Unidas, que para ele é "irrelevante" e "um valhacouto de ditadores" e "demagogos latino-americanos". Disse ainda que a ONU é "visceralmente antiamericana". E é aí que eu chego ao que já planejava escrever aqui. Na semana passada, o presidente brasileiro abriu a 62ª Assembléia Geral das Nações Unidas, que contou com discursos de vozes diversas, incluindo o americano George W. Bush e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad (foto acima). Falatório dispensável? Populismo barato? Para alguns, sim. Mas a imprensa tem a obrigação de ir além e evitar imagens preconceituosas, explicando o que realmente está por trás da ONU e o que nela está em jogo.

Quem precisa hoje da ONU? A maioria talvez diga que são os países pequenos, para que seus "ditadores" ou "demagogos" tenham um palanque. Mas eu digo que quem realmente precisa da ONU são as nações mais poderosas, pois apenas a organização pode lhes dar uma moeda valiosa nas relações internacionais pós-Segunda Guerra: legitimidade. A presença de 192 países, independentemente de sua ideologia, riqueza ou respeitabilidade, dá legitimidade às Nações Unidas. E as grandes potências, especialmente os Estados Unidos, procuram constantemente legitimar suas ações por meio dessa tão criticada instituição.

Se a ONU fosse simplesmente um ambiente "antiamericano", os Estados Unidos poderiam abandonar o órgão, como aliás pedem alguns exagerados daquele país, como o ultraconservador, e até hilário, site . Mas mesmo os neoconservadores que chegaram ao poder com o governo Bush sabem da importância da ONU, especialmente seu Conselho de Segurança. Não foi à toa que John Bolton, seu crítico ferrenho, representou Washington na organização. Se ela fosse mesmo "irrelevante", Bolton, pragmático como é, não perderia seu tempo defendendo lá dentro os interesses do seu país.

A única potência que levou às últimas conseqüencias seu ceticismo em relação à ONU foi a finada União Soviética, que em 1950 decidiu abandonar o Conselho de Segurança por achar que o assento da China deveria ser do novo regime em Pequim, comunista. Resultado: sem a ameaça dos então sucessivos vetos soviéticos, e com o assento chinês ainda nas mãos de Formosa (Taiwan), os Estados Unidos conseguiram que o órgão aprovasse uma intervenção militar na Coréia para conter os avanços das tropas norte-coreanas. Em poucos meses Moscou percebeu ter feito bobagem e voltou correndo ao conselho.

Em 2003, o governo americano foi à ONU buscar seu apoio à invasão do Iraque porque sabia que uma ação com o carimbo do Conselho de Segurança seria mais bem aceita internacionalmente. Não obteve uma resolução para o ataque, mas tentou, e conseguiu, obter outra, logo após a queda de Saddam Hussein, que legitimou a ocupação do Iraque. Quando a situação no país começou a piorar, um envolvimento maior da ONU passou a ser o sonho de consumo de muitos no governo e no Exército americanos. Ou seja, mesmo no conflito no Iraque, o maior exemplo de unilateralismo americano desde a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos sonharam com o apoio da ONU em vários momentos. Pergunte aos outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança (Grã-Bretanha, França, China e Rússia) se querem deixar a ONU ou abrir mão de seu poder de veto no órgão, e a resposta, se vier, será uma gargalhada.

Sobre as agências da ONU: elas são vulneráveis a críticas, já que suas ações são de eficiência duvidosa. Mas elas fazem da ONU um organismo ainda mais legítimo, devido à busca de soluções para problemas sociais no mundo todo. Nada disso passa despercebido pelas grandes potências. Quem detém o poder sabe que sua manutenção e seu exercício são muito mais fáceis quando acompanhados de legitimidade. A ONU, mesmo aos 62 anos e em crise de identidade, ainda é para onde todos vão à sua procura.

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